Sequelas da Covid-19 acompanham vítimas

Estudo aponta que quase 40% dos entrevistados disseram não ter retomado as atividades normais | Foto: Wesley Costa

Postado em: 06-01-2021 às 00h00
Por: Sheyla Sousa
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Estudo aponta que quase 40% dos entrevistados disseram não ter retomado as atividades normais | Foto: Wesley Costa

Eduardo Marques

A hospitalização é uma difícil experiência para pacientes com sintomas mais graves da Covid-19. Pesquisadores da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, apontam que as sequelas da doença vêm acometendo os sobreviventes, mesmo tempos depois de receberem alta médica.

A pesquisa contou com análise de dados de mais de 1,2 mil internados pelo vírus em 38 hospitais do Estado de Michigan, entre abril e julho. O levantamento mostrou que, após dois meses do fim do tratamento, 7% haviam morrido. Se contados apenas os internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTI), o índice subia para 10%. Já 15% acabaram voltando para o hospital no mesmo período.

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Os pesquisadores também fizeram entrevistas por telefone com 488 sobreviventes. Desse grupo, 39% disseram não ter retomado as atividades normais 60 dias após a alta hospitalar. Cerca de 12% relataram que não conseguia mais cuidar de si mesmos sozinhos, ou tão bem quanto antes. Quase um quarto (23%) admitiu ficar sem fôlego ao subir ao menos um lance de escadas. Um terço continuava apresentando sintomas semelhantes aos da Covid-19, incluindo problemas com paladar ou olfato.

Ao periódico científico AnnalsofInternal Medicine, os autores disseram que para a maioria dos sobreviventes, era comum ter sequelas como a morbidade contínua. “Para a maioria dos sobreviventes, era comum ter sequelas como a morbidade contínua, incluindo a incapacidade de retornar às atividades normais, assim como sintomas físicos, emocionais, e perda financeira”. Pouco mais de um quarto dos que voltaram a trabalhar teve a jornada diminuída, também por razões de saúde.

Processo

Ao O Hoje, o médico fisiatra Daniel Amorim Tavares do Centro Estadual de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo (Crer) explica que a doença causa lesões em vários órgãos e o paciente pode sofrer até por um ano com sequelas. Para receber o tratamento efetivo, a pessoa passa por uma série de avaliações, desde o psicológico, neurológico, doloroso, respiratório e cardíaco.

Após as mensurações, a equipe realiza um planejamento para melhor atender o paciente. “Para cada perfil desse iremos usar uma proposta terapêutica. Em alguns casos ficamos mais atentos, como problemas respiratórios. Além disso, trabalhamos também com componente muscular, que também é essencial. A parte cardíaca precisa de um cardiologista constantemente. Já as sequelas neurológicas são mais amplas”, afirma.

O médico afirma que uma das sequelas da Covid-19 é a fadiga, tanto física quanto cognitiva. “Essa fadiga pode ser tanto física quanto mental e cognitiva. Com esse quadro, o paciente sente extremo cansaço, chegando ao ponto de não conseguir realizar atividades rotineiras. Em algumas pessoas, o cansaço é tão forte que o simples fato de levantar da cama ou sair de uma cadeira já causa queda de pressão. E isso por si só já limita o indivíduo”.

Outras sequelas que podem acometer pessoas que tiveram o diagnóstico da doença são problemas psicológicos. “Como voltar ao trabalho e viver a vida normalmente. Não é incomum essas pessoas com esse tipo de lesão terem medo de se expor e os familiares novamente, daí precisa ter um acompanhamento terapêutico ou até mesmo medicamentoso”, salienta.

Entretanto, o especialista destaca que, mesmo que o paciente tenha sentido sintomas leves da Covid-19, ele também pode sofrer com algum tipo de sequela. “Se tem sequela, mesmo que ela seja leve e que esteja incapacitando o paciente de desenvolver alguma atividade, ela deve ser tratada por um especialista. Embora não tenha alguma alteração grave, mas precisa ser tratada. Se não tratar antes, pode ser difícil tratar depois”, adverte. Ele complementa dizendo que a unidade de saúde está pronta para atender esse tipo de enfermo.

Enfrentamento

A empresária e chef de cozinha Kyka Macedo diz que foi diagnosticada com Covid-19 em julho e não precisou ficar internada. Apesar disso, ela teve sequelas um mês após ficar isolada em sua casa por 14 dias. Na ocasião, teve dores musculares e os desconfortos provocados pela hérnia acentuaram. Em outubro, os cabelos da cabeça começaram a cair.

“Depois de mais de um mês, eu senti muitas dores musculares. Tenho hérnia de disco, parece que tudo acentuou, como dores musculares e agora no final de outubro, eu senti que meu cabelo caiu muito, que acentuou muito no mês de dezembro a ponto de eu ter que procurar um especialista. Meu cabelo diminuiu pela metade”, pontua.

Não foram só dores físicas que ela sentiu. Kyka afirmou que ficou com sequelas emocionais. “Eu fiquei extremamente abalada emocionalmente, apesar de não sentir muitos os sintomas. E a família também ficou abalada, porque eu fiquei isolada com meu marido”, conta. 

UFG cria aparelho que mede oxigenação no corpo 

A Universidade Federal de Goiás (UFG) conseguiu uma patente de sensor de oxigênio em fluidos. A instituição disse que trata-se de um sensor acessível para determinar o nível de oxigênio em fluidos, uma vez que a Covid-19 causa redução de oxigenação no sangue e, por isso, o monitoramento é fundamental para determinar se o paciente está se curando ou se necessita de alguma intervenção, como a intubação.

A Universidade explica que o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi) concedeu à UFG o reconhecimento da patente “Sistema fluorescente para sensor óptico de oxigênio dissolvido, método para preparar dispositivo de sensor e uso do sistema fluorescente”.

O dispositivo foi pensado inicialmente para ser utilizado em águas de rios e lagos, para aplicação ambiental, mas pode ter outras aplicações e poderia ser usado, por exemplo, para verificar a situação de pacientes com Covid-19. Os pesquisadores estão começando os testes para avaliar essa utilização.

“Quando depositamos a patente em 2015, ela foi testada em água, pensando na aplicação ambiental, mas testamos em misturas de solventes para saber quais outras aplicações ela teria. Hoje, seria fundamental o uso no sangue para determinar o que a gente chama de oxigênio sérico”, disse a coordenadora da pesquisa, professora Tatiana Duque Martins, do Instituto de Química da Universidade Federal de Goiás (IQ/UFG).

A invenção foi completamente desenvolvida na UFG, no Laboratório de Espectroscopia e Nanomateriais (LENano) do Instituto de Química. A solicitação de patente foi realizada em 2015, mas a concessão ocorreu somente neste mês. Essa é a terceira patente concedida para a UFG e a primeira tendo a Universidade como única detentora dos direitos.

Patente

A patente é um título de propriedade temporária, com duração de 15 a 20 anos, sobre uma invenção ou modelo de utilidade, que garante os direitos sobre a criação. Isso assegura ao patenteado os direitos de uso de sua invenção ou criação, ou seja, fica impedida utilização sem seu consentimento. As patentes encaminhadas pela UFG são de sua titularidade.

O processo de patenteamento inclui a avaliação de mérito da tecnologia pelo Comitê Interno da Propriedade Intelectual (CIPI), a checagem dos requisitos formais do texto que será depositado, o pagamento das taxas do INPI (depósito, anuidades, emissão de carta patente, etc.) e o acompanhamento do trâmite junto ao Inpi. (Especial para O Hoje) 

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