Segunda-feira, 08 de julho de 2024

Queda na doação de sangue devido à pandemia preocupa hemocentros

Ministério da Saúde estima redução de 15% a 20% | Foto: Reprodução

Postado em: 06-01-2021 às 09h55
Por: Raphael Bezerra
Imagem Ilustrando a Notícia: Queda na doação de sangue devido à pandemia preocupa hemocentros
Ministério da Saúde estima redução de 15% a 20% | Foto: Reprodução

Preocupados com os níveis dos estoques de sangue e de
hemoderivados, hemocentros de diferentes regiões do Brasil estão tentando sensibilizar
a população para a importância da doação de sangue.

A habitual preocupação com os estoques, principalmente
durante o período de festas de fim de ano e férias de verão, este ano foi
potencializada pelas mudanças comportamentais impostas pela pandemia da
covid-19, que afastou muitos doadores ao longo do ano passado.

O Ministério da Saúde ainda não tem os números consolidados,
mas estima que, em 2020, o medo da doença que, no Brasil, matou 197,7 mil
pessoas até essa terça-feira (5), pode ter causado uma diminuição da ordem de
15% a 20% no total de doações de sangue em comparação a 2019.

Continua após a publicidade

No Rio de Janeiro, mesmo com todos os esforços e campanhas
para atrair novos voluntários, o HemoRio (Instituto Estadual de Hematologia
Arthur de Siqueira Cavalcanti) contabilizou uma queda de 4,4% no número de
bolsas de sangue coletadas: foram cerca de 78.400 unidades, em 2020, contra
aproximadamente 82 mil bolsas, em 2019.

Segundo o Ministério da Saúde, não houve registros de
desabastecimento ao longo de 2020. Fato que, segundo representantes de
hemocentros consultados pela Agência Brasil, pode ter ocorrido devido à adoção
de medidas preventivas, como a suspensão temporária de cirurgias eletivas.
Mesmo assim, houve situações em que o ministério precisou acionar o plano
nacional de contingência e transferir milhares de bolsas de sangue de unidades
da Federação em situação mais folgada para outras onde o nível dos estoques era
considerado crítico.

“O principal risco deste cenário seria um possível
desabastecimento de sangue e o consequente comprometimento da assistência”,
informou o ministério em nota enviada à Agência Brasil. O desabastecimento
colocaria em risco a vida de pessoas que precisam receber transfusão de sangue
ao serem submetidas a tratamentos, cirurgias e procedimentos médicos complexos,
ou que tratam os efeitos de anemias crônicas, complicações da dengue, da febre
amarela ou de câncer.

Na nota que enviou à reportagem, o ministério também
garantiu que está acompanhando a situação nos maiores hemocentros estaduais
para, se necessário, adotar as medidas que minimizem “o impacto de eventuais
desabastecimentos de sangue”.

“Através das ações e providências já tomadas pelo
ministério, junto com as ações locais realizadas pelos estados, como a
mobilização e sensibilização de doadores e estratégias para a redução do
consumo de sangue, a situação tem se mantido estável”, garantiu a pasta – que
afirma ter investido, em 2020, R$ 1,680 milhão em projetos de ampliação,
reforma e qualificação da rede de sangue e hemoderivados, além da compra de
medicamentos e equipamentos. Em 2019, foram investidos R$ 1,548 milhão.

Amazonas

Após coletar, em 2020, 4,6% menos bolsas de sangue do que em
2019 (foram 51.800 doações contra 54.300), a Fundação Hospitalar de Hematologia
e Hemoterapia do Amazonas (Hemoam) começou o ano com metade do volume que
considera ideal em termos de estoque.

A maior preocupação é com o volume armazenado de sangue do
tipo O+, que representa cerca de 70% da demanda estadual, e com todos os de
fator RH negativo, menos comuns entre a população brasileira e, portanto, mais
difíceis de obter.

“A pandemia afastou significativamente as pessoas [dos
postos de coleta], principalmente em meados de março, abril e maio [de 2020],
quando o estoque caiu cerca de 40%”, informou a Hemoam à Agência Brasil. “Para
dar conta de toda demanda diária, precisamos do comparecimento de 200 a 250
doadores por dia. Ultimamente esse número está na média de 100 doadores”,
acrescentou o órgão em uma mensagem divulgada pelas redes sociais

Responsável por distribuir sangue para 27 unidades de saúde
públicas e privadas de Manaus e para 42 outras cidades amazonenses, a fundação
tem mais de 500 mil voluntários cadastrados; mas apenas 150 mil dessas pessoas
doam sangue regularmente.

Ceará

Devido às restrições de segurança, como o distanciamento
social, a maioria dos hemocentros do país adotou medidas como o agendamento
prévio de doações, além de reforçarem os cuidados com a higiene dos postos de
coleta de sangue. Ainda assim, o impacto da pandemia se fez sentir.

O Centro de Hematologia e Hemoterapia do Ceará (Hemoce), por
exemplo, recebeu, em 2020, 92.524 doações de sangue, enquanto, em 2019, foram
coletadas 101.066 bolsas de sangue. O Hemoce garante que o menor número de
doadores em função da pandemia não chegou a comprometer o atendimento das cerca
de 480 unidades de saúde cearenses, e que chegou até mesmo a fornecer bolsas de
sangue para outros estados, como Minas Gerais, Paraná, São Paulo e Sergipe.

Embora, atualmente, os estoques se encontrem dentro do que o
centro classifica como “margem de segurança” para atendimento, o Hemoce segue usando
as redes sociais para incentivar as doações.

Distrito Federal

No Distrito Federal, os níveis dos estoques da Fundação
Hemocentro de Brasília de dois dos oito tipos sanguíneos mais comuns são
considerados críticos. “O ano de 2021 começou com os estoques de O positivo e O
negativo em níveis baixos”, informou o órgão responsável por garantir o
fornecimento de sangue e seus componentes para a rede de saúde pública local. A
quantidade de sangue tipo B- disponível nessa segunda-feira (4) também era considerada
baixa.

Segundo a fundação, entre janeiro e dezembro de 2020, os
postos de coleta receberam pouco mais de 47,5 mil doações de sangue. Menos que
as 51 mil doações registradas no mesmo período de 2019. Já transfusões foram
realizadas 72 mil no ano passado, contra 76 mil em 2019.

A fundação afirma ter “estoques estratégicos” para abastecer
toda a rede pública e os hospitais conveniados do Distrito Federal por até sete
dias, dependendo do hemocomponente (hemácia, plasma ou plaqueta) em caso de
falta de doadores.

São Paulo

Vinculada ao Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina
da Universidade de São Paulo (USP) e responsável por abastecer a mais de 100
instituições de saúde da rede pública paulista, a Fundação Pró-Sangue coletou,
em 2020, 108.707 bolsas de sangue. O resultado é não só inferior ao registrado
em 2019, quando foram coletadas 114.050 bolsas, como mantém a tendência de
queda dos últimos cinco anos.

A preocupação da fundação é que, geralmente, em janeiro, o
número de doações cai ainda mais, podendo chegar a um resultado 30% inferior à
média mensal por conta das férias de verão. Neste início de 2021, os níveis dos
estoques de sangue do tipo B- e O- já estão em situação crítica, enquanto os
dos tipos O+ e A- colocaram a fundação em alerta.

“Os tipos O- e O+ estão sempre críticos”, acrescentou a
Pró-Sangue, em nota em que explica que o sangue do tipo O+ é o mais demandado,
por ser o mais comum entre a população brasileira e compatível com todos os
outros tipos positivos. Já o O-, além de menos comum, é muito usado em
atendimentos médicos emergenciais por ser compatível com outros tipos
sanguíneos, independente de serem positivos ou negativos.

Segurança

O Ministério da Saúde garante que os hemocentros de todo o
país estão preparados para receber os doadores com segurança, sem aglomerações,
e em conformidade com as recomendações das autoridades sanitárias. A maioria,
senão a totalidade dos postos de coleta, está funcionando com atendimento
pré-agendado, de maneira que vale a pena o interessado consultar, na internet,
a página ou as redes sociais do hemocentro do estado em que reside.

Para doar, o candidato tem que ter entre 16 e 69 anos de
idade – menores de 18 anos precisam do consentimento formal dos responsáveis. O
voluntário deve pesar mais que 50 kg e apresentar-se munido de documento
oficial com foto. Pessoas com febre, gripe ou resfriado, diarreia recente,
grávidas e mulheres no pós-parto não podem doar temporariamente.

O procedimento para doação de sangue é simples, rápido e
totalmente seguro. Não há riscos para o doador, porque nenhum material usado na
coleta do sangue é reutilizado, o que elimina qualquer possibilidade de
contaminação.

Cada voluntário pode doar sangue até quatro vezes ao ano, no
caso de homens, e três vezes caso se trate de uma mulher, com intervalos
mínimos de, respectivamente, dois e três meses. Para checar outras restrições,
recomendações e informações, acesse a página do Ministério da Saúde. (Agência Brasil)


Veja Também