Projeto original do BRT sofreu quatro alterações na Capital

Desde o início dos trabalhos, em 2015, Prefeitura de Goiânia teve de fazer adequações, entre elas na Praça do Cruzeiro | Foto: Wesley Costa

Postado em: 07-01-2021 às 23h00
Por: Sheyla Sousa
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Desde o início dos trabalhos, em 2015, Prefeitura de Goiânia teve de fazer adequações, entre elas na Praça do Cruzeiro | Foto: Wesley Costa

Eduardo Marques

Com um valor contratual de R$ 217 milhões e o prazo de entrega para outubro de 2020, o projeto do BRT Norte-Sul, que começou em meados de 2015 pela então gestão do prefeito de Goiânia Paulo Garcia (PT), já teve de passar por adequações. Entre as alterações, há exigências do Ministério Público Federal (MPF), do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) ou até mesmo situações econômicas, para diminuir o valor pago das desapropriações.

De acordo com o projeto original, havia a previsão do recorte de dois pedaços da Praça do Cruzeiro para que fossem construídas as estações de embarque e desembarque, de modo que os ônibus entrariam nos espaços. No entanto, ela foi tombada depois de uma ação judicial concluída em 2014 e o projeto necessitou de sofrer adequações. Em 2019, o Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) e a associação dos moradores do Setor Sul questionaram a obra. Devido a isso, a Prefeitura de Goiânia teve de adequar o planejamento, mantendo o espaço íntegro e a instalação de duas estações de embarque e desembarque com estrutura mais leve e envidraçada.

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Após essa intempérie, o órgão municipal ainda teve de receber a liberação do MPF para então iniciar a nova frente de serviços do BRT, uma vez que houve a necessidade de cumprir com o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado em fevereiro de 2018 para que as obras pudessem ter sido finalizadas. Com prazo de finalização em dezembro de 2019, a prefeitura de Goiânia iniciou os trabalhos de construção das pistas do corredor exclusivo e reforma das demais faixas entre a Rua 84 e a Rua 90. As duas estações devem ter as mesmas configurações do que será utilizado na Praça Cívica e Avenida Goiás.

No entorno da Praça foi construído o corredor em concreto para o BRT, o pavimento flexível em CBUQ, destinado aos demais veículos, e uma galeria de águas pluviais para melhorar a drenagem no local. Os meios-fios foram reconstruídos e foram implantadas as calçadas acessíveis. A iluminação pública será revitalizada, com a substituição das lâmpadas de sódio por luminárias em led.

De acordo com a proposta, o último local a receber as obras do BRT, dentro do trecho que já está licitado, que é entre o Terminal Recanto do Bosque e o Terminal Isidória, será a Praça Cívica. O projeto original prevê que o anel interno da praça seja apenas para o transporte coletivo, mas ainda não há garantia de que o mesmo seja cumprido neste trecho. 

Originalmente, a pista para a passagem dos ônibus do BRT, que seguiriam no sentido Norte-Sul, a partir do Terminal Rodoviária para a Praça Cívica, não será mais utilizada e deverá ser reintegrada à via para os demais veículos particulares. A obra já está concluída desde 2016 e passa em frente à Câmara Municipal. Contudo, com a realização do projeto de prolongamento da Avenida Leste-Oeste, a opção foi para que os ônibus, em ambos os sentidos, passassem pela Avenida Goiás, na via situada entre as praças da Estação Ferroviária e do Trabalhador, que antigamente era utilizada apenas pelos veículos que seguiam o sentido Sul-Norte.

Outro ponto de adequação ao projeto original é o cruzamento da Avenida Goiás Norte com a Perimetral Norte. O objetivo inicial era a construção de um viaduto de dois níveis, onde o BRT seguiria no nível atual, mas a Perimetral seria rebaixada. No entanto, houve dificuldade da Prefeitura de Goiânia em acertar as desapropriações de parte dos lotes localizados nas esquinas do trecho, e assim, foi necessário rever todo o projeto. A ideia é que a Avenida Goiás Norte tenha um elevado e a Perimetral um rebaixamento menor que o previsto, apenas para tornar possível a construção. Logo, este viaduto deve ter, praticamente, três níveis.

Sobre as alterações do projeto original do BRT Norte-Sul, o atual titular da Secretaria de Infraestrutura (Seinfra), o ex-deputado federal e engenheiro Luiz Bittencourt, afirmou ao O Hoje que ocorreu para beneficiar a sociedade. “As alterações que ocorreram foram em função da melhoria ou de conflitos que surgiram e deveriam ser resolvidos. Às vezes não é melhor, mas precisa andar para frente”, salienta.

Bittencourt diz que o trecho do Terminal Recanto do Bosque até a Praça do Trabalhador as obras estão praticamente concluídas. Já, da Rua 84 até o Terminal Isidória está em andamento. “Da Rua 84 até o Terminal Isidória a finalização gira em torno de 80%”, ressalta o titular da pasta, apesar de não prever a entrega.

“Obra pública não tem data. Ela precisa ser concluída e com qualidade. O que não pode é começar uma obra e deixar no meio do caminho, como ocorreu em anos anteriores, que sofreram discussões do projeto, interferência do Ipha, Ministério Público, afetando a população. A obra não está parada, mas prorrogada”, garante.  

Especialista diz que BRT reduz o tempo de deslocamento 

O perito especialista em políticas públicas de mobilidade urbana Antenor Pinheiro aponta quatro vantagens do sistema BRT para a Capital. Segundo ele, o corredor reduz o tempo de deslocamento das pessoas em função do desempenho de melhor velocidade operacional. Ele reduz emissões de poluentes e gases de efeito estufa, uma vez que velocidades mais homogêneas racionalizam as ações de aceleração/desaceleração. O BRT colabora para a segurança viária com a economia de custeio operacional.

“Isso garante mais regularidade no cumprimento de horários e por esta razão atrai novos passageiros para o sistema. Por operacionalizar com ônibus de alta capacidade, transportam até 160 pessoas, o que reduz substancialmente a quantidade de quilômetros percorridos por veículo. Menos veículos transportando a mesma quantidade de passageiros, além de reduzir congestionamentos, possibilitam a oportunidade de substituir veículos mais antigos e, portanto, mais poluentes”.

Pinheiro explica que o BRT colabora para a gradativa migração de passageiros de transporte individual de passageiros para a opção coletiva. “A estratégia do BRT é atrair o maior número de pessoas para o sistema coletivo de transporte, o que vai induzir a outro padrão comportamental de deslocamentos urbanos. Isso resulta mais conforto, mais segurança, menos despesas domésticas e melhor regulação e funcionamento da fluidez viária de veículos”.

Poluição

Para ele, esse sistema de transporte coletivo diminui a concentração de poluição atmosférica, tanto no entorno urbano, quanto dentro dos veículos e dos terminais. “A exposição de passageiros ao ar poluído é reduzida em decorrência do menor tempo de deslocamento, o que significa que, implementando sistemas BRT, as cidades têm uma grande oportunidade de diminuir a poluição local. Mas há outros aspectos, como sua integração aos sistemas cicloviários e sistemas de calçadas, o que vai estimular o uso da bicicleta como meio de transporte, e a caminhabilidade das pessoas”.

O especialista adverte o governo para otimizar o transporte público coletivo. “Elaborar projetos com a adoção de conceitos modernos, mais baratos, socialmente inclusivos e mais bonitos para a cidade. Deixar de imaginar que viaduto, túnel e supressão de espaços verdes melhoram o trânsito. Trata-se de um conceito atrasado, superado, que em nada contribui para a melhoria da mobilidade das pessoas. Ao contrário, ao insistir neste conceito obsoleto de gestão, o que ocorrerá é a produção de uma cidade cada vez mais egoísta, individualista e o estimulo ao uso do transporte individual motorizado ema detrimento do coletivo”. (Especial para O Hoje) 

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