Goiás tem sua primeira mulher como comandante da GCM

Mulheres conquistam os mais altos cargos, anteriormente dominados pelos homens na segurança pública | Foto: Lucas Monteiro

Postado em: 08-01-2021 às 23h58
Por: Sheyla Sousa
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Mulheres conquistam os mais altos cargos, anteriormente dominados pelos homens na segurança pública | Foto: Lucas Monteiro

Daniell Alves

Com 24 anos, Marta Damázio é a primeira mulher a comandar uma unidade da Guarda Civil Municipal (GCM) em Goiás. Atualmente, ela atua no município de Senador Canedo após a nomeação do prefeito Fernando Pellozo (PSD). “Sinto-me privilegiada”, revelou Marta, formada em Direito e Pós-graduada em Gestão de Segurança Pública.

A GCM ressalta que a competência não tem a ver com idade ou gênero e que tem a confiança de seus pares. Marta explica que fez o concurso no intuito de ter mais estabilidade financeira. Apesar de ter atuado na parte administrativa, sua experiência maior foi adquirida nas ruas. “A partir daí me apaixonei pela função. E agora não me vejo fazendo outra coisa”, aponta.

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“Quero deixar o recado que por mais que eu tenha pouca idade, tem a questão de gênero, que podem achar que não sou competente, eu vou mostrar com meu serviço e me sinto muito privilegiada e honrada de estar representando a categoria feminina à frente de um cargo tão importante, que é o da Guarda Municipal”, ressalta ela.

A comandante diz ter experiência em diversas funções dentro da GCM e que conhece as demandas tanto da categoria quanto da população. Segundo ela, isto fará com que ela tenha conhecimento de ir em busca de melhorias para o município e para seus comandados. “Embora eu não tenha muito tempo de GCM, trabalhei de guarda de posto, de guarda de atendimento no 153, de monitoramento, eu tive a oportunidade de ser bastante explorada em todos os serviços que a Guarda oferece, então eu entendo a demanda da instituição nessa questão de trabalho e entendo a demanda da população e o que eu procurarei levar à frente no momento é atender à essa medida no município”, avalia.

Poder de polícia

A Guarda Civil deixou de ser “vigia patrimonial” e começou a ter poder de polícia após a Lei 13.022, que regulamentou o parágrafo 8º do artigo 144 da Constituição Federal, sancionada pela então presidente Dilma Rousseff (PT), em 2014. Com isso, passou a ser um órgão efetivo de segurança pública. Ou seja, na lida diária com a criminalidade dos centros urbanos.

A lei diz que é competência geral das guardas municipais a proteção de bens, serviços, logradouros públicos municipais e instalações do município. São competências específicas das guardas municipais: colaborar, de forma integrada com os órgãos de segurança pública, em ações conjuntas que contribuam com a paz social; colaborar com a pacificação de conflitos que seus integrantes presenciarem, atentando para o respeito aos direitos fundamentais das pessoas; além de interagir com a sociedade civil para discussão de soluções de problemas e projetos locais voltados à melhoria das condições de segurança das comunidades.

Os agentes da GCM devem garantir o atendimento de ocorrências emergenciais, ou prestá-lo direta e imediatamente quando deparar-se com elas. Também podem encaminhar ao delegado de polícia, diante de flagrante delito, o autor da infração, preservando o local do crime, quando possível e sempre que necessário.

Além disso, no exercício de suas competências, a guarda municipal poderá colaborar ou atuar conjuntamente com órgãos de segurança pública da União, dos estados e do Distrito Federal ou de congêneres de municípios vizinhos e integrar-se com os demais órgãos de poder de polícia administrativa, visando a contribuir para a normatização e a fiscalização das posturas e ordenamento urbano municipal.

Por isso, Marta atuou diretamente na contenção de criminosos. “Diversas ocorrências de prisão ou furto. Além de perseguição”, relembra ela, quando comenta os momentos mais difíceis da profissão. Contudo, ressalta que sempre teve êxito nas ocorrências. “Surpreende o indivíduo, que espera que a função seja sempre cumprida por um homem. Além disso, me dá a oportunidade de ter uma visão diferente dos fatos. E me permite um abordagem diferente na hora do conflito”, avalia.

Desafios

Entre os problemas enfrentados pela comandante na Guarda Civil de Senador Canedo está a estruturação interna. Segundo ela, a estrutura física e de carreira dos guardas civis está defasada. Por isso, necessita de melhorias e atualização, incluindo as viaturas usadas para patrulhamento.

Ela também espera mudar a relação da Guarda Civil com a comunidade por meio de uma política de aproximação. O objetivo é desenvolver projeto de acompanhamento para atuar na prevenção de crimes, através de polícia comunitária e educação. “Um desses projetos é o da Maria da Penha, no qual pretendemos fazer o acompanhamento às vítimas de agressões e que possuem medida protetiva. Com isso, esperamos evitar com que novas agressões e crimes ocorram”, destaca. 

Primeira médica coronel da Polícia Militar 

Já Mara Sandra Naves é a primeira médica a se tornar coronel da Polícia Militar de Goiás (PM-GO). A notícia foi bastante comemorada nas redes sociais e em seu âmbito profissional. “É fantástico. Estou muito feliz por ser promovida e reconhecida por isso, não apenas por ser mulher, mas também pelo meu trabalho como médica”, comemorou.

Mara reconhece a importância dessa promoção e como isso pode fazer com que outras mulheres se encorajem também. Ela torce para que posteriormente outras funcionárias do quadro de saúde da Corporação possam atingir o cargo. “É uma conquista não somente para mim, mas para todas as mulheres. Tenho consciência da sociedade machista em que vivemos”, diz.

A coronel completou 30 anos de serviços, porém, mesmo com tempo suficiente para se aposentar, preferiu continuar trabalhando. Ela afirma que é aliada do atual governo e atende apelos do Estado para continuar exercendo o cargo. “Me pediram para continuar dedicando no Hospital da Polícia Militar [HPM] e levar novas ideias”, revela. A médica é diretora técnica e chefe dos serviços médicos da unidade, diretora e curadora da Fundação Tiradentes, que presta assistência ao efetivo da PM e familiares.

Contudo, a promoção de Mara ocorreu por mérito. Ela explica que na carreira militar pode ocorrer por tempo ou merecimento. Neste quesito, a médica era a primeira da fila. Para chegar ao cargo, é necessário ter merecimento aprovado por todos da instituição e pelo governador do Estado. Além de Mara, outras mulheres também ocupam espaço no oficialato da PM “mas, sem dúvidas, ainda não somos a maioria”, diz.

Machismo

Embora a PM seja uma profissão dominada pelos homens, Mara afirma que nunca sentiu obstáculos com relação a isto. “Em nossa sociedade, a mulher ganha menos e não é valorizada, mas em 30 anos dentro da corporação não posso dizer que isso ocorreu. Lógico que não sou a maioria que passa por essa situação. Sempre fui muito respeitada, talvez por atender mulheres e filhas de oficiais por ser médica ginecologista e obstetra”.

Mara é a quarta mulher na ativa a receber o cargo de coronel na PM. “Estou chamando a atenção por ser médica militar na ativa. Provavelmente virão outras, mas não muitas nos próximos anos, porque a maioria é homem que me segue na fila de promoções”, revela. (Especial para O Hoje) 

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