Vendas disparam e motos somem das concessionárias

Setor fechou o ano com mais de 4 milhões de emplacamentos feitos só no estado de Goiás | Foto: Wesley Costa

Postado em: 11-01-2021 às 23h59
Por: Sheyla Sousa
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Setor fechou o ano com mais de 4 milhões de emplacamentos feitos só no estado de Goiás | Foto: Wesley Costa

Eduardo Marques

Apesar do impacto financeiro causado pandemia do novo Coronavírus, as vendas de motocicletas aumentaram em 2020. Segundo dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), a comercialização de motocicletas registrou alta de 10,5% em dezembro/2020, totalizando 98.831 unidades, contra as 89.438 emplacadas em novembro. Se comparado a dezembro de 2019, quando foram emplacadas 94.103 motocicletas, esse resultado aponta aumento de 5,02%. De acordo com o Departamento Estadual de Trânsito de Goiás (Detran-GO), no Estado, em 2019 houve 4.040.484 emplacamentos, enquanto em 2020 4.175.728, representando um aumento de 3,34%.

Apesar do resultado positivo, a falta de insumos na indústria afetou o resultado do segmento no acumulado do ano. No Brasil, entre janeiro a dezembro de 2020, foram emplacadas 915.502 motocicletas, volume 15,04% menor que as 1.077.537 unidades, vendidas no mesmo período de 2019.

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“Assim como os demais segmentos, as motos sofreram com a queda na produção local e na importação de peças e componentes, em função da pandemia. No entanto, ao contrário de outros anos, notamos que houve boa oferta e aprovação de crédito, com taxas de juros razoáveis, o que favoreceu e continua estimulando o aumento de demanda, gerada pela utilização de motocicletas como transporte individual e para serviços de entrega”, avalia o presidente da Fenabrave, Alarico Assumpção Júnior.

No ranking histórico das vendas de motos, o mês de dezembro está na 12ª colocação, e o acumulado deste ano ocupa a 15ª posição na série. Vale ressaltar que entre os meses de abril e maio as fábricas de motocicletas foram fechadas e paralisaram sua produção, o que impactou no resultado do ano. “Não fosse isso, teríamos alcançado a projeção de superar 1.100.000 unidades em 2020”, disse o presidente da Fenabrave.

Abraciclo

A indústria brasileira de motocicletas produziu em novembro 104.094 unidades no Polo Industrial de Manaus (PIM). De acordo com dados da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo), o volume corresponde a uma alta de 14,5% na comparação com outubro do presente ano (90.880 unidades) e de 11,8% em relação ao mesmo mês de 2019 (93.128 unidades).

Esse foi o segundo melhor resultado do ano – ficando abaixo de setembro, quando foram fabricadas 105.046 motocicletas. Na análise de Marcos Fermanian, presidente da Abraciclo, o desempenho sustentável, desde a retomada das atividades fabris, é resultado dos esforços de toda a cadeia produtiva para atender à crescente demanda por motocicletas. “Estamos tentando suprir as necessidades do mercado e todas as fabricantes e seus fornecedores trabalham para atingir o equilíbrio entre a oferta e a demanda o mais rápido possível”.

Fermanian explica que, por enquanto, não será possível acabar com esse descompasso. “É preciso ter a pandemia da Covid-19 sob controle para conseguirmos voltar aos níveis normais de produção. A adoção de uma série de restrições, que exigiram mudanças no layout das fábricas para garantir a saúde dos colaboradores, gerou aumento no tempo de fabricação das motocicletas e isso impactou fortemente o desempenho do setor”.

Linhas de montagem

Os números comprovam essa afirmação. De janeiro a novembro, 888.515 motocicletas saíram das linhas de montagem, significando retração de 14,5% ante as 1.038.696 unidades registradas no mesmo período de 2019.

Fermanian salienta que, embora o resultado seja negativo, o setor foi menos afetado na comparação com outros setores da indústria. “A motocicleta passou a ser a opção de deslocamento para as pessoas que querem evitar a aglomeração natural do transporte público. Além disso, é um meio de deslocamento ágil, econômico e de baixo custo de manutenção”, avalia.  Ele acrescenta outro dado importante: o veículo se tornou um instrumento de trabalho e fonte de renda para as pessoas que passaram a atuar nos serviços de entrega.

Falta de produtos

Gerente de vendas de uma concessionária de motocicleta em Goiânia, Saulo Ferreira salienta que em janeiro de 2021 o setor fechará o mês em crise. Ele justifica que falta produtos. “Estamos com uma demanda alta de atendimento em lista de espera. O cliente vem na loja faz um sinal financeiro e garante a moto até ela chegar. Isso pode demorar de 45 a 60 dias. As concessionárias estão sofrendo. A montadora, que fica no Polo Industrial de Manaus, não consegue nos entregar os produtos em tempo hábil, logo ocorre um déficit em nossos estoques. Tem concessionária que não tem nem motocicletas expostas, mas há clientes procurando. É frustrante para nós vendedores não conseguirmos entregar o veículo”, aponta Saulo. 

Procura por motos é impulsionada por serviços de entregas 

Com a pandemia, muitos serviços passaram a ter ainda mais presença no cotidiano das pessoas. Este é o caso dos serviços de entrega que cresceram significativamente no período. Consequentemente, a procura pelas motos, meio de transporte mais ágil e de melhor custo-benefício para quem trabalha com delivery, também subiu.

Este crescimento pode ser confirmado com dados da Mobills, startup de finanças pessoais, que aponta que entre os meses de abril e junho, os gastos com aplicativos de delivery de comida cresceram 94,67%. Ainda, informações da Fenabrave, Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores, mostram que as vendas de motos, e de veículos em geral, mantiveram crescimento em outubro. Os emplacamentos de veículos tiveram alta de 1,42% em relação ao mês de setembro.

Apesar desses dados, o gerente Saulo Ferreira não confirma que o aumento pela procura das motocicletas seja em função dos entregadores por aplicativo. De acordo com ele, geralmente o motociclista compra o veículo como pessoa física para fins pessoais. Ele comenta que por essa profissão não ter carteira assinada, as financiadoras não liberam crédito. “A pessoa compra o veículo para fins pessoais. Por esse tipo de atividade não ter registro em carteira de trabalho, os bancos não liberam o crédito. Para as financiadoras, eles são anônimos”.

Gilmar Gonçalves, de 29 anos, conta que perdeu o emprego em julho após a empresa de vendas de roupas na Região da 44 que trabalhava como vendedor ter fechado. De lá para cá, ele decidiu usar o acerto e comprou uma motocicleta para trabalhar como entregador por aplicativo. “O comércio de comida naquela época não podia abrir presencialmente aos clientes e os meus amigos entregadores de comida estavam faturando muito e eu estava desempregado e vi nesse ramo que poderia seguir. Aproveitei o momento de desemprego, peguei meu acerto na empresa e comprei o veículo”, afirma. (Especial para O Hoje) 

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