Padre Robson teve informações sobre processo um ano antes

Em conversas, padre ordena que o HD seja queimado e que recibos e qualquer outro documento não sejam guardados - Foto: Divulgação

Postado em: 13-01-2021 às 12h05
Por: Redação
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Em conversas, padre ordena que o HD seja queimado e que recibos e qualquer outro documento não sejam guardados - Foto: Divulgação

Mayara Ferreira

Em conversa entregue à Justiça em maio de 2019 padre Robson de Oliveira, em processo de investigação por desvio de dinheiro na Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), teria obtido informações privilegiadas sobre a Operação Vendilhões e pedido que a irmã destruísse “quaisquer documentos comprometedores” que os investigadores pudessem ter obtido.

A conversa entregue à Justiça estava em um HD. O nome do padre não consta na transcrição, mas sim a identificação “proprietário”, que é uma denominação usada nas quebras de sigilo telefônico.

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Na conversa, o proprietário diz: “Adrianne, não guarde dinheiro em casa. Apague seus arquivos com qualquer documento comprometedor. Zere as mensagens do Whatsapp. O computador onde você escreveu contrato de compra e venda ou coisas que sejam comprometedoras, troque o HD ou queime. Não guarde documentos meus: recibos e qualquer outra coisa”.

Ainda segundo a transcrição atribuída ao padre, ele pede que a irmã seja cuidadosa. “Recebi informações ruins hoje. Provavelmente vão fazer busca e apreensão em todos os lugares que você possa imaginar. Esse povo olha até no chão do quintal”, continua. Em seguida, o padre teria pedido para que a irmã avisasse a mesma coisa para os outros irmãos “o Jeferson e a Joselice”, dizendo: “apaguem essas conversas urgente. Não deixem isso no celular”.

Segundo a defesa do padre, essas mensagens são falsas. “Essa conversa é uma montagem mal feita, não é verdadeira, tanto que nunca foi apresentada e deve ser desconsiderada, bem como punir quem as criou”.

Relembre

A investigação do MP teve início em 2017, quando padre Robson informou que estava sofrendo extorsão e transferiu mais de R$ 2 milhões da conta da Afipe para os criminosos. Em 2019 a quadrilha foi condenada pela Justiça, porém, os promotores estranharam o uso do dinheiro de fiéis para fins pessoais e começaram a investigar o padre.

A Superintendência de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado de Goiás investigou um possível esquema de lavagem de dinheiro, organização criminosa e outros crimes envolvendo a Afipe, o padre Robson de Oliveira Pereira e pessoas ligadas a ele.

A possível busca e apreensão mencionada pelo Padre Robson na conversa ocorreu em agosto de 2020 e foi chamada de “Operação Vendilhões”. Na ocasião, o promotor confiscou diversos documentos e equipamentos eletrônicos. As investigações identificaram compras de fazendas, avião e até uma casa na praia. Tudo pago com dinheiro das doações de fiéis.

Conflitos na Justiça

A Justiça havia determinado em outubro de 2020, que a investigação fosse suspensa por ter apurado que os crimes apontados pelos promotores não constavam no processo. Mas, em 4 de dezembro, a decisão do Presidente do Tribunal de Justiça de Goiás autorizou a retomada da investigação.

Após dez dias, o desembargador do TJ-GO Leobino Chaves Valente proferiu outra sentença e decidiu novamente bloquear o mesmo processo. Em 17 de dezembro, a decisão do Superior Tribunal de Justiça reforçou a decisão do magistrado.

 O padre ou outras 17 pessoas chegaram a ser denunciadas pelo MP por organização criminosa e lavagem de dinheiro. Os promotores de Justiça afirmam que o padre comandava uma organização criminosa e transferia grandes valores para as empresas, com o objetivo de utilizar o dinheiro das entidades religiosas criadas por ele como seu, sem prestar contas nem se submeter às regras associativas. (Especial para O Hoje)

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