Funcionários do HMAP denunciam falta de pagamentos

Pacientes com Covid-19 se aglomeram com outros sem suspeita da doença na recepção buscando atendimento | Wesley Costa

Postado em: 25-01-2021 às 23h59
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Funcionários do HMAP denunciam falta de pagamentos
Pacientes com Covid-19 se aglomeram com outros sem suspeita da doença na recepção buscando atendimento | Wesley Costa

Eduardo Marques

Em meio à pandemia do novo Coronavírus e a recém-chegada de pacientes de Manaus, funcionários do Hospital Municipal de Aparecida de Goiânia (HMAP) denunciam que não recebem salários há três meses e a unidade de saúde não tem estrutura para receber os enfermos aparecidenses, tão pouco, do Estado do Amazonas.

Em meio aos prantos, uma colaboradora da unidade, que não quis se identificar, desabafou ao O Hoje que não recebe o salário integral desde outubro. “Recebi, a última vez, dia onze de janeiro agora, o restante do salário de outubro e recebi R$ 680 do salário de novembro”, conta. Ela afirma que outros colegas não receberam nada do mês de novembro. “Algumas pessoas não receberam nada ainda de novembro. Estão recebendo parte de outubro”.

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Ela denuncia que a emergência está fechada para reformas e que pacientes com suspeita de Covid-19 se aglomeram com outros sem suspeita da doença na recepção buscando atendimento, além da unidade ter recebido pacientes vindos de Manaus para o tratamento da Covid-19. “A gente está sendo uma esperança para as pessoas e assim, não tem como ser essa esperança”, frisa. 

Segundo ela, a Organização Social (OS) Instituto Brasileiro de Gestão Hospitalar (IBGH) quarterizou alguns serviços e por conta de problemas com a Justiça e a mesma não repassou a verba para quitar os salários dos funcionários. “A alegação que eles dão para não estarem pagando é de que a prefeitura repassou o dinheiro para o IBGH, que é a empresa responsável pelas contratações, mas o IBGH quarterizou alguns serviços. Então, como teve problema lá de Pirenópolis, do álcool, das máscaras, e algumas pessoas do IBGH foram presas e aí de acordo com a informação deles, é que o IBGH não repassou o dinheiro para a empresa que eu trabalho e nem para outras empresas”.

A profissional destaca que já realizou denúncias em vários órgãos, mas que o problema persiste. “Inclusive após a divulgação na imprensa, ainda assim a gente continua sem receber. E agora eram dez leitos para os pacientes de Manaus, eles abriram mais dez e contrataram uma nova equipe para atender mais esses dez leitos. Sem pagar já está desse jeito. Agora contratando nova equipe não sei como vão fazer”, reclama.

Problemas estruturais

Ela ressalta que, embora a unidade de saúde seja nova, ela enfrenta problemas estruturais. “Infelizmente têm alguns problemas na estrutura física. Teve uma chuva bem forte esses dias e alagou a UTI que os pacientes de Manaus estão hoje. Chove dentro dos leitos”. Ela complementa: “Apesar de ter uma estética boa, ela [estrutura física] tem bastante problemas”.

A colabora diz que a unidade de saúde não dispõe de capotes de tecido. “O capote usado é um capote descartável de uma qualidade extremamente frágil, muito ruim. E quase não faz diferença entre estar com ele ou não”. Ela também diz que o hospital sofre com déficit de medicamentos. “Já aconteceu muito de pacientes intubados começarem a voltar a consciência e não tinha os remédios para sedar aí pediam aos familiares trazerem”.

Direitos negados

Ela afirma que foi contratada via aplicativo de mensagens, sem assinar contrato. “Essa UTI que eu estou trabalhando é a segunda que eu trabalho no hospital. Na primeira eu fui contratada pelo WhatsApp e também fui dispensada por ele. Não assinei nada. Não tive acerto nem direitos. Adoeci, deixei de trabalhar, deixei de receber porque não tem direito trabalhista nenhum. E aí essa empresa que eu estou agora, também não tem nada assinado, não tem direito nenhum. É como se não fosse um contrato celetista, mas com todas as características de um contrato celetistas, com horário, e que está sendo prestado de forma informal”.

Ela conta que adotou medidas financeiras alternativas para conseguir sobreviver. “Como já tem algum tempo que a gente não recebe eu cheguei a fazer uns bicos para conseguir ir me mantendo, né? Mas no momento eu não estou tendo e aí peço dinheiro emprestado, porque as contas não estão esperando”, frisa.

O Hoje entrou em contato com a assessoria de imprensa da prefeitura de Aparecida de Goiânia e foi informado pela Secretaria de Saúde que o Hospital Municipal de Aparecida é gerenciado pelo Instituto Brasileiro de Gestão Hospitalar, que é o responsável pela contratação e pelo pagamento dos profissionais que atuam no hospital. Segundo a Secretaria, todos os repasses de recursos ao IBGH estão em dia, que está fiscalizando o cumprimento do contrato e que irá apurar a denúncia de falta de pagamento aos médicos.

A reportagem também procurou a direção do IBGH que por sua vez negou todas as acusações realizadas pelos profissionais. Ela alega que o Instituto tem recebido os repasses destinados à verba de custeio oriundos da Secretaria Municipal de Saúde de Aparecida de Goiânia e cumprido com suas obrigações para com os funcionários sob regime da CLT em tempo e todos os meses. A empresa ressalta que a direção age com toda transparência e prontidão para responder as demandas apresentadas pela comunidade e dirimir quaisquer dúvidas suscitadas.

Pacientes de Manaus

O HMAP recebeu na semana passada 14 pacientes vindos de Manaus (AM) para serem tratados contra a Covid-19. Segundo a última atualização da Secretaria Municipal de Saúde, 7 pacientes estão na UTI e 6 na enfermaria. Houve um óbito.

O diretor de Avaliação e Controle da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Aparecida de Goiânia, Luciano Carvalho, informou que os recém-chegados são tratados separadamente dos pacientes locais por uma equipe multidisciplinar destacada exclusivamente para atendê-los. 

Sindicato de Saúde cobra melhorias para profissionais 

Ao O Hoje, a secretária geral do Sindicato dos Trabalhadores do Sistema Único de Saúde de Goiás (Sindsaúde-GO), Flaviana Alves, informou que uma equipe do sindicato se reuniu com o secretário de Saúde do município para cobrar melhorias aos profissionais. “Estivemos em reunião hoje [sexta-feira] com o secretário de Saúde de Aparecida de Goiânia. Nós fomos lá cobrar dele e o mesmo disse que já teve uma reunião com a OS e ela pediu um prazo para regularizar os pagamentos atrasados”.

À entidade classista, o secretário alegou que não está devendo para a Organização Social, mas que não pode realizar bloqueios de pagamentos. “Ele disse que não está devendo nada para a OS, mas que infelizmente não tem como bloquear mais, pois já está com um bloqueio de R$ 11 milhões contra essa OS e não conseguiu executar o bloqueio por conta da Covid-19”.

Flaviana denuncia a falta de pagamentos e critica o sistema de contrato por terceirização. “Nós dissemos que é inadmissível em meio a pandemia deixar trabalhadores sem receber, embora a gente sabe que os médicos optam pelo modelo de Pessoa Jurídica e o Sindsaúde abomina esse modelo, por isso fica no campo que você não é trabalhador, você vira empresa”.

Apesar disso, a secretária geral garante que o Sindicato está à disposição dos profissionais. “Nos colocamos à disposição dos médicos para lutas de até intervenção, já que o secretário enfrenta essas dificuldades. Dissemos que esse modelo escolhido é um desastre para a saúde pública, não só de Aparecida, como de todo o Brasil, porque você abre canais para exploração. A pessoa não está ali para fazer um bem para o serviço público, mas enriquecer”. Ela ainda acrescenta: “O Sindsaúde continua denunciando todas essas formas de desmonte dos direitos trabalhistas, do SUS, do direito à vida”, defende. (Especial para O Hoje) 

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