Aglomerações trouxeram nova onda de Covid-19 para Goiás

Autoridades pedem a colaboração de todos para evitar o colapso dos hospitais goianos | Foto: Wesley Costa

Postado em: 01-02-2021 às 23h59
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Aglomerações trouxeram nova onda de Covid-19 para Goiás
Autoridades pedem a colaboração de todos para evitar o colapso dos hospitais goianos | Foto: Wesley Costa

Eduardo Marques

Em Goiás, autoridades municipais, estaduais e infectologistas atribuem o aumento no número de casos e internações causadas pela Covid-19 ao relaxamento das medidas de isolamento social. Estado vive agora sua segunda onda. A taxa de ocupação dos leitos de UTI para Covid-19 está em 72,99%, (ultrapassou os 90% na manhã de ontem) e o índice de enfermarias em 46,72%, de acordo com o painel Covid-19 do Governo de Goiás desta segunda-feira (1º) às 13 horas.

Para tentar frear a transmissão do vírus no Estado, o Centro de Operações de Emergências (COE) em Saúde Pública de Goiás para Enfrentamento ao Coronavírus deliberou em manter o percentual de 30% de alunos, de acordo com a capacidade das escolas. O COE também deliberou pelo fechamento dos estabelecimentos que vendem bebidas alcoólicas (bares, restaurantes, lojas de conveniências e distribuidoras de bebidas), das 22 horas às 6 horas da manhã, sendo permitidas entregas domiciliares.

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Segundo o boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria de Estado da Saúde (SES-GO), o número de internações em UTIs destinadas para tratamento da doença chegou a 454 ontem, o maior número registrado desde o início da epidemia. Desse total, 278 são em Goiânia e 59 em Aparecida de Goiânia.

Em entrevista ao O Hoje News da última sexta-feira (29), a superintendente de Vigilância em Saúde, da Secretaria Estadual, Flúvia Amorim, afirmou que “pode-se dizer, sim, que estamos em nossa segunda onda no Estado, porque há um aumento do número de casos, mortes e internações”, referindo-se aos números verificados hoje em Goiás, com 77,60% de ocupação dos leitos públicos de UTI e o crescente número de casos e óbitos.

Segundo ela, as vacinas estão chegando, mas mesmo assim a população não pode relaxar quanto aos cuidados, porque a Covid-19 é muito perigosa. “Além de ver o número crescente de casos, estamos vendo o aumento da taxa de ocupação de leitos, que é o que mais nos preocupa neste momento. Todos precisam entender que a ampliação de leitos tem um limite”.

Frear a transmissão

Ela adverte que a necessidade atualmente é frear a transmissão da doença. “Então as pessoas precisam entender que mais que ampliar leitos, precisamos controlar a aceleração da transmissão. E controlar a transmissão neste momento significa usar máscara sempre que sair de casa, manter distanciamento físico, higienizar as mãos e evitar aglomeração”.

Ela ressalta que não há nenhuma contraindicação do uso de máscara de tecido. “Hoje não há nenhuma contraindicação do uso de máscara de tecido, desde que ela seja feita corretamente de acordo com os protocolos e quem tiver interesse está no site da Secretaria de Saúde. Mas ela precisa e deve ser usada. Ela evita que a gotícula de saliva na hora que a pessoa está conversando ou está respirando seja dispersa no ar ou no ambiente. Ela é muito inteligente. Continuem usando máscaras em todo momento fora de casa”.

Flúvia diz que, independente de decreto, a população tem o dever de se conscientizar para combater a doença. “Lei seca é uma tentativa de frear a doença no Estado. Precisamos utilizar as armas possíveis. Independente de decreto, as pessoas precisam entender que elas têm uma responsabilidade no controle da transmissão dessa doença nesse momento que estamos vivendo agora, com altas taxas de ocupação de UTIs no Estado de Goiás. Nada adianta ter leis se as pessoas não cumprem. Não conseguimos fiscalizar 100%, mas ela está na rua”, ressalta.

Ocupação de UTIs

Embora o Governo do Estado disponha de 110 leitos de UTIs a mais voltados ao combate à Covid-19, ela alerta que em Goiás tem um aumento de 1% na taxa de ocupação por dia. “Se isso continuar, vai chegar um momento que por mais que ampliemos leitos a gente não vai ter leito para todo mundo. Vide o que está ocorrendo em Amazonas”. Ela afirma que se a população não se conscientizar vai chegar a um ponto que não terão condições para abrir novos leitos.

“Se a transmissão continuar acelerada, chega um momento que a gente não consegue atender. Porque não teremos nem recursos humanos especializados para abrir tantos leitos assim por mais que a gente queira. As pessoas precisam entender isso. A taxa de letalidade para quem entra numa UTI hoje é de 50%. Significa que a cada 100 pessoas que entram nela, 50 morrerão, mesmo tendo leitos de UTIs, mesmo tendo a melhor assistência. Não se agarrem no fato que leito vai ser a salvação. Não é. A gente precisa diminuir a transmissão”.

Em relação a vacinação, a superintendente conta que até o final desta remessa estão sendo feitas capacitações para tirar as dúvidas dos municípios em relação às dosagens, aplicação de segunda dose e contra indicações. Ela ressalta que, por hora, existem grupos prioritários, mas que à medida que novas doses chegarem, os grupos serão ampliados.

“Nossa prioridade são trabalhadores da saúde, da linha de frente, principalmente de Hospitais de Campanha que atendem exclusivamente o Covid, hospitais privados e estaduais que internam pacientes com Covid, idosos institucionalizados em abrigo, deficientes em abrigos e indígenas. A partir do momento que recebermos mais doses, iremos ampliar esses grupos”, finaliza Flúvia.

Em todo o Estado de Goiás já foram aplicadas 75.496 doses de vacinas contra a Covid-19 até a última sexta-feira (29). Os dados são da SES-GO, com informações consolidadas com base nos dados encaminhados pelos municípios à Superintendência de Vigilância em Saúde de Goiás.

Nova cepa do Coronavírus já circula em Goiás 

Nas últimas semanas, autoridades sanitárias notificaram o aparecimento de nova cepa do Coronavírus que gera preocupação em vários lugares do mundo. Os dados indicam que ela é mais transmissível que as versões anteriores. A Organização Mundial da Saúde (OMS) está acompanhando de perto as variantes detectadas no Reino Unido e na África do Sul. No Brasil uma nova cepa mais agressiva foi encontrada em Manaus, capital do Amazonas, que vive um colapso no sistema de saúde provocado pela Covid-19. O superintendente do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (HC/UFG), José Garcia Neto, declarou em coletiva à imprensa que sua transmissão já é comunitária em todos os estados brasileiros.

A nova variante do Coronavírus identificada no Reino Unido, por exemplo, é entre 50% e 74% mais contagiosa do que a versão que já conhecemos, conforme afirma um estudo divulgado em dezembro por um grupo de biólogos britânicos. Segundo levantamentos feitos na Inglaterra, existem ainda evidências de que a variante britânica possa ser 30% mais letal. No Brasil, cientistas de 10 instituições analisaram amostras de pacientes infectados em Manaus e descobriram que 42% dos casos foram provocados pela nova variante identificada por aqui.

A infectologista Juliana Barreto explica que uma nova cepa é uma mutação genética do vírus existente, comum entre os vírus. “Acredito que a Covid-19 repetirá o padrão do vírus da Influenza, que todo ano vai mutando e justifica o desenvolvimento de uma vacina com novos subtipos do vírus”, revela a médica, que já percebeu a maior infecção causada pela variante. Ela afirma que ainda não se sabe a resposta da nova cepa em relação às vacinas que estão sendo aplicadas no Brasil. “A tendência é se tornar uma vacina sazonal, como a da gripe”, salienta. (Especial para O Hoje) 

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