Pandemia muda forma de combate à dengue em Goiânia

Agentes são orientados a fazerem os trabalhos de controle da doença na parte externa das casas | Foto: Wesley Costa

Postado em: 04-02-2021 às 23h59
Por: Sheyla Sousa
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Agentes são orientados a fazerem os trabalhos de controle da doença na parte externa das casas | Foto: Wesley Costa

Eduardo Marques

Dados da Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia (SMS) apontam que em 2019 tiveram 32.565 casos notificados de dengue e 17 mortes. Em 2020 o número caiu para 16.132 notificados e 3 mortes. Já em 2021, até a última semana, foram 222 casos e nenhum óbito. Embora houve queda do número de casos e mortes de 2019 para 2020 e o advento da pandemia da Covid-19, autoridades alertam a população para ações rotineiras de combate ao mosquito Aedes aegypti.

Os agentes de endemias estão realizando as visitas domiciliares sem entrar nas residências por causa dos protocolos da Covid-19. Mas eles fazem o trabalho de orientação aos moradores sobre como cuidar do interior dos seus imóveis no combate à dengue.

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Segundo Izaías Ferreira, do Departamento de Zoonoses, o Ministério da Saúde orientou aos agentes que fizessem os trabalhos de controle da doença na parte externa das casas. “Com o advento da Covid-19, as visitas tiveram que ser interrompidas, sem que os agentes adentrassem aos imóveis. Por conta disso, houve um relaxamento por parte de boa parte da comunidade”. Ele tranquiliza a população que os colaboradores da SMS estão vacinados e respeitam os protocolos impostos pela pandemia.

Embora a atenção da população esteja voltada ao combate do novo Coronavírus, Izaías destaca que a endemia da dengue ainda continua atingindo as pessoas. “Apesar de que tivemos uma redução considerável de casos e mortes em 2020, mas é necessário que a população auxilie coletivamente para combatermos essa doença”.

De acordo com Izaías Ferreira, são atitudes simples que controlam a proliferação do mosquito. “Orientamos sempre que as pessoas devem manter limpos os ralos, calhas, piscinas e caixas d’água, além de não deixar água nos pratinhos das plantas e retirar do quintal tudo que possa acumular água. Bastam alguns minutinhos por dia para que os criadouros sejam eliminados”, enfatiza.

A Vigilância em Zoonoses também realiza, dentro do programa de combate à dengue, o projeto de “Disseminadoras de Larvicidas” que consiste em colocar um recipiente com tecido preto impregnado de larvicida em regiões estratégicas de importância epidemiológica e entomológica. Em Goiânia eles estão localizados nas regiões Leste, Norte, Oeste e Noroeste.

A aposentada Divina Soares da Silva, de 72 anos, que teve dengue uma vez, elogia o trabalho dos agentes de combate à doença e destaca o cumprimento da equipe nas medidas sanitárias da Covid-19. “Eu acho legal o trabalho deles, porque lugares aí que têm muita água parada e já está dando dengue. Eu acho que se tiver uniformizado tudo com crachá que deve deixar eles entrar, porque estão aqui tomando as medidas necessárias de prevenção à Covid-19, com máscara, usando álcool em gel e mantendo o distanciamento social na casa”.

Ao pousarem nessas superfícies, as fêmeas ficam impregnadas com partículas de larvicidas e acabam levando o produto para outros criadores e, com isso, matam larvas e pupas, inclusive em criadouros que muitas vezes não poderiam ser localizados pela população e pelas equipes de vigilância.

Reforço

Presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, Pedro Fernando da Costa Vasconcelos reforça para as medidas de combate ao mosquito Aedes aegypti. “Parece redundante repetir a necessidade de que se tome cuidado, uma vez que todos os anos são apresentadas à população medidas simples de prevenção. Apesar disso, as pessoas continuam acumulando água em recipientes sem cobertura ou vedação, criando o cenário perfeito para que, entre uma e duas semanas, tenhamos a companhia de centenas ou milhares de novos mosquitos”, adverte.

O médico critica o Estado pela deficiência no fornecimento público de água e a ausência de estrutura apropriada de saneamento básico na maioria das cidades brasileiras. “Então, mesmo abençoado por Deus, o país permanece no eterno loop da epidemia. Com fornecimento de água regular a qualquer hora do dia, os índices de infestação do Aedes aegypti despencariam para menos da metade no verão. O motivo é simples: se a água sai da torneira, não é preciso armazená-la”.

Outros problemas que ele aponta são a coleta e o destino adequado do lixo, além da educação do brasileiro. “Outros dois problemas a encarar são a coleta e o destino adequado do lixo. Há algum tempo foi pactuado o extermínio dos lixões a céu aberto, que seriam substituídos por aterros sanitários. Passados mais de 20 anos, pouco foi feito. Finalmente, é importante salientar a necessidade da educação do brasileiro. De nada servirá exercer pressão sobre governos se não houver participação da população no combate aos focos do Aedes aegypti”. 

Covid-19 pode ser confundida com a dengue 

Os sintomas da dengue podem ser confundidos com da Covid-19. Existe também o inverso. Enquanto os médicos esperam os resultados de testes para confirmar se é do novo coronavírus, esta outra condição pode agravar perigosamente. E isso pode ser mais frequente em crianças a adolescentes.

À colunista do UOL Lúcia Helena, o médico infectologista André Cotia, do Hospital Infantil Sabará, em São Paulo, explicou essa razão. “Embora seja uma arbovirose, isto é, uma infeccção passada por insetos, causada por um flavivirus que aparenta ser bem diferente de um coronavírus, no final das contas dengue e Covid-19 acabam se manifestando de maneiras bem similares”, diz ele. “Ambas provocam dores de cabeça, deixam os músculos doloridos também, levam à prostração e desencadeiam diarreias”, diz ele.

Isso, aliás, poderia valer para qualquer idade. O grande diferencial para se desconfiar de uma Covid-19 seriam os sintomas respiratórios. Os mais comuns, no caso, seriam coriza, dor de garganta, tosse e falta de ar. “A criança manifestar sintomas mais expressivos da infecção pelo coronavírus é algo realmente muito mais raro em comparação com adultos”, diz André Cotia. “Só que, quando isso acontece, mais de 30% dos meninos e das meninas chegam nos serviços de saúde e nem sequer tosse têm”.

De acordo com a coluna, no lugar disso, segundo o médico, eles sentem uma dor abdominal forte, ficam com o estômago embrulhado e com o intestino solto, além de poder apresentar febre. Daí se há um surto de dengue na região, o pediatra às vezes desconfia de que deva ser isso. Até mesmo começa a pensar em outras doenças intestinais ou, ainda, em infecções urinárias que também podem causar bastante dor na região abdômen. (Especial para O Hoje) 

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