Viadutos de Goiânia padecem sem manutenção

Prefeitura afirma que está estudando as obras para definir atuação, focos prioritários são estruturas com riscos | Foto: Wesley Costa

Postado em: 07-02-2021 às 23h59
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Viadutos de Goiânia padecem sem manutenção
Prefeitura afirma que está estudando as obras para definir atuação, focos prioritários são estruturas com riscos | Foto: Wesley Costa

Eduardo Marques

Após quase dois anos que o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Goiás (Crea-GO) apresentou relatório de vistoria de viadutos, Goiânia não possui plano concreto de fiscalização e manutenção periódica, o que pode, a longo prazo, oferecer riscos para a estrutura das obras. O grupo de engenheiros realiza esse levantamento sobre a situação desses empreendimentos há oito anos e não há constatação de preservação contínua necessária. A prefeitura informa, contudo, que recebeu o balanço e as situações emergenciais estão sendo sanadas.

O engenheiro civil e professor Ricardo Barbosa Ferreira, que também é conselheiro na entidade, afirmou à reportagem que existe uma norma que detalha como devem ser realizadas as inspeções neste tipo de obra. “Existe a inspeção inicial, as rotineiras, as especiais, entre outras. Elas são necessárias e obrigatórias para evitar um problema mais sério”, diz. O grupo faz esse trabalho de inspeção desde 2012.

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O professor aponta que quando é feito o trabalho de avaliação, conforme a norma técnica, a partir daí realiza um planejamento para as próximas vistorias. “De acordo com o grau que ela está de deterioração, há um planejamento das próximas vistorias. É claro que se a estrutura estiver em uma condição muito boa não vai fazer vistoria em seis meses. O prazo mais curto de vistoria é uma vez por ano. Tem outras que são vistoriadas a cada dois anos e as melhores no período de cinco anos”.

Ele diz que nos próximos dias o Crea vai divulgar um estudo do estado desses viadutos. “Goiânia é a única cidade do Brasil que tem todos os viadutos monitorados do Brasil para que os gestores tomem medidas. Nosso papel é chamar atenção das autoridades. Lamentamos que nesses dois anos fizeram pouca coisa”.

O engenheiro destaca que apesar de representar um custo relevante para os cofres públicos, o trabalho de fiscalização e manutenção é mais barato que o reparo. “Sem contar o custo social que uma intervenção em grandes vias pode causar. Existem prejuízos, como o tempo do cidadão, que não podem ser contabilizados, além de não serem serviços bem feitos”.

Emergencial

Ao O Hoje, o secretário de Infraestrutura da Capital, Luiz Bittencourt, afirmou que recebeu o levantamento do Crea e destaca que a gestão do prefeito Rogério Cruz irá recuperar todas as obras que estão em fase de destruição. “Nossa equipe técnica tem alguns levantamentos de viadutos e pontes que serão reconstruídos em função de desgastes que ocorreram nos últimos anos. A ideia é que ao longo dessa gestão possamos recuperar todas as obras que encontram em fase de destruição”.

Embora haja essa intenção, o secretário ressalta que não existe um plano de ação concreto. “O plano de ação concreto vai depender de certas decisões. Estamos no período chuvoso e a prefeitura está agindo de forma emergencial em várias frentes. Uma série de obras que são necessárias, principalmente na circunstância climática. O evento da natureza não tem como prever. O que podemos fazer é prevenir ao máximo, combater de forma emergencial nos estragos. Estamos atuando nessa fase”.

Bittencourt frisa que a prefeitura está priorizando nas obras que estão em andamento. “A prefeitura de Goiânia, por determinação do prefeito, está centrada na conclusão de todas as obras em andamento que recebemos do governo passado. As principais obras do BRT Norte-Sul, Leste-Oeste e o complexo viário da Jamel Cecílio, mas tem outras também, como Cmeis que estão em fase de conclusão. Estamos trabalhando nessa circunstância, focando na conclusão das obras paradas simultaneamente”.

Estudo

O Crea apresentou em março de 2019 um relatório de vistoria das Obras de Arte Especiais (OAEs) de Goiânia, feito em parceria com a Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO) e Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia do estado de Goiás (Ibape). O estudo foi feito com o intuito de garantir a segurança da população goianiense, recolhendo dados para a elaboração de um plano de vistorias e inspeções periódicas de pontes e viadutos, além de estabelecer critérios de priorização para intervenções corretivas.

“O principal problema é a falta de controle do sistema de drenagem, precisamos de um sistema de drenagem que funcione. Para isso, são necessários elementos baratos e fáceis. Em nossa conclusão apresentamos que as primeiras intervenções necessárias são de custo baixo e devem ser feitas em curto prazo e de maneira generalizada”, afirmou o diretor da Escola de Engenharia da PUC, Fábio Simões, ao ressaltar que quase 80% das pontes no município apresentavam esse tipo de problema. 

Viadutos são obras ultrapassadas, avalia especialista  

O engenheiro de Transportes que atua junto ao Instituto Federal Goiano, Marcos Rothen, afirma que se fazem mais viadutos que o necessário atualmente. “São obras ultrapassadas que se deterioram. As melhorias são paliativas e ficam restritas apenas no trecho onde foi implantado”. O especialista usa como exemplo os viadutos da Avenida T-63 e da Praça do Chafariz que ficam congestionados em horários de pico. Marcos ainda afirma que é preciso ter mais planejamento das obras viárias. “A gente teria que ter mais organização da mobilidade para a cidade fluir da melhor forma. As obras não parecem ter confluência de planejamento”.

Marcos cita que as obras viárias que estão sendo feitas pela prefeitura de Goiânia são onerosas e o dinheiro investido nelas deveria ser direcionado para solucionar milhares de outros problemas do trânsito da cidade que deveriam ser priorizados. Ele ainda afirma que a solução para o transporte da Capital seria o investimento em transporte público. “O investimento no BRT é importante, mas está sendo realizado no local onde é mais fácil de ser implantado e não onde precisa”.

O especialista afirma que a prioridade para instalação do BRT deveria ser na Avenida 85, onde é mais complicado de ser implantado. “A Rua 90, no Setor Marista ou a Goiás Norte nunca foi de grande movimento, o maior fluxo é na Avenida 85”. Ele avalia que a trincheira da Rua 90 foi uma obra que custou muito dinheiro e trouxe um benefício à altura do investimento para a população.

O engenheiro de transportes diz que é preciso organizar o trânsito com investimentos em novas estruturas. “Os recursos foram aplicados onde foi mais fácil de ser feito. Não construíram nada novo. Estão apenas refazendo estruturas que já existiam anteriormente”. Marcos ainda afirma que o recurso é pequeno, mas deveria estar sendo gasto no que é prioridade para melhorar o trânsito. (Especial para O Hoje) 

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