EJA registra aumento de 15% nas matrículas em Goiás

Número de alunos pode aumentar, pois as escolas ainda estão recebendo as confirmações das inscrições

Postado em: 14-02-2021 às 23h59
Por: Sheyla Sousa
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Número de alunos pode aumentar, pois as escolas ainda estão recebendo as confirmações das inscrições

João Paulo Alexandre

O Ensino de Jovens e Adultos (EJA) em Goiás registrou o aumento de 15% no número de alunos matriculados na rede estadual de Educação. Dados da Secretaria de Secretaria de Estado de Educação mostram que 29.695 alunos já confirmaram matrículas para a modalidade neste ano, enquanto 25.612 estudantes estavam formalizados nas escolas em 2020. Apesar disso, o número de alunos pode aumentar, pois as escolas ainda estão recebendo presencialmente as confirmações das inscrições no período que se estende até depois do Carnaval.

O gerente do EJA da Seduc, Samy Soubhe Tannous conta que os números superaram a quantidade de alunos matriculados no segundo semestre do ano passado. Isso porque muitos alunos desistiram de cursar a modalidade devido à pandemia do novo coronavírus, que foi decretada pela Organização Mundial da Saúde em março do ano passado.

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“No início do ano muitos alunos confirmam a matrícula, mas acabam desistindo no meio do caminho por alguns fatores. No ano passado, a pandemia contribuiu muito, principalmente pelo fato de alguns alunos não terem acesso à internet. O público do EJA é um pouco diferenciado das demais modalidades e é necessário muito estímulo”, ressalta.

Samy afirma que as 252 escolas que oferecem essa modalidade se adaptaram ao atual cenário de aulas não presenciais, mas que muitos alunos que não tinham acesso à modernidade foram assistidos. “Alguns alunos iam até o colégio para pegar as atividades impressas e também distribuímos conteúdos gravados pelo WhatsApp e Google Drive. Alguns diretores até foram até a residência de alguns estudantes para ajudá-los. A dinâmica de avaliação também consistia da mesma forma e dava um prazo para ser entregue na escola. A gente considera o ano passado, apesar de muito difícil, como positivo em questão da adaptação para essa nova forma de ensinar”, pontua.

O gerente afirma que 36 novas turmas de EJA foram abertas nas escolas estaduais. Em 2021, as aulas seguirão o mesmo modelo adotado no ano passado, sempre respeitando a diferença do público do EJA com as outras modalidades de ensino. “Muitas escolas criaram o chamado ‘plantão das dúvidas’ que consiste em contatar os alunos que não apareceram em sala de aula. A escola entra em contato e sana as pendências que ficaram em aberto na cabeça desses estudantes”, sublinha.

Goiânia

Na Capital, a modalidade é intitulada de Educação de Adolescentes, Jovens e Adultos (Eaja) e também registrou um aumento em comparação ao número de alunos do ano passado, segundo informações da Secretaria Municipal de Educação (SME). A pasta aponta que 5.298 alunos se matricularam na modalidade em 2020. O número pode ser ainda maior nesse ano devido ao fato das escolas municipais ainda estarem recebendo novas matrículas. A cidade conta com 56 instituições que oferecem o Eaja.

A pasta informou que a avaliação do desempenho dos alunos é compreendida como um processo sistemático, portanto, contínuo, utilizando instrumentos e procedimentos diversificados. Isso, segundo a SME, assegura o acompanhamento do educando e promove um diagnóstico de sua aprendizagem. A avaliação é feita pela equipe docente, acompanhada pelo coordenador pedagógico da instituição.

Oportunidade

Alguns projetos conseguem unir o trabalho com a oportunidade de aprender. Um bom exemplo disso é a escola em meio ao canteiro de obra de um empreendimento localizado no Setor Bueno. Cerca de 14 alunos que estão no 9º ano da modalidade tiveram as primeiras aulas no refeitório da construção, respeitando todas as normas sanitárias de prevenção ao novo coronavírus. O armador Alexandro Francisco da Silva, de 39 anos, elogiou a iniciativa. Ele é natural de Pernambuco e teve que parar de estudar no 5º ano do ensino fundamental para ajudar o pai no campo. “Estava muito ansioso com esse retorno porque, apesar de as aulas on-line terem ajudado durante a pandemia, nada se compara ao ensino presencial, já que a professora fica ao nosso lado para ajudar”, diz.

O coordenador de responsabilidade socioambiental da construtora que encabeça o projeto, Felipe Inácio Alvarenga, explica que as aulas têm carga horária reduzida, com início às 17h30 e término às 19h30. As atividades extraclasses também serão passadas aos alunos para completar a carga horária.

“É muito importante porque os alunos, apesar de se esforçarem bem para fazer as atividades on-line, sentiam falta de ter esse acompanhamento mais de perto. Esse retorno acaba motivando ainda mais os estudantes”, comenta Felipe. Ele destaca ainda que as aulas são gratuitas para os trabalhadores e também estão disponíveis para quem trabalha em outras empresas da construção civil.

O servente de pedreiro Carlos Rogério da Silva, de 34 anos, é um exemplo de trabalhador da comunidade que foi aceito na sala de aula. Ele estuda há um ano no projeto e prepara-se para concluir o ensino fundamental. “Eu praticamente não sabia ler e descobri esse projeto maravilhoso que me permitiu alcançar esse grande objetivo da minha vida. Graças a essa oportunidade, eu não quero mais parar. Vou continuar e tentar alcançar meu grande objetivo que é cursar Veterinária”, ressalta.

O projeto Ensino Consciente é promovido pelo departamento de Responsabilidade Socioambiental da Consciente Construtora e Incorporadora em parceria com o Sesi. As aulas no canteiro de obras são conduzidas pela professora Paula Gabriela Ribeiro Reis, que é colaboradora do Sesi e participa da ação desde 2011. Ela leciona para estudantes com idades entre 30 e 50 anos.

Paula afirma que um dos maiores desafios durante a pandemia foi estabelecer uma comunicação mediada pela tecnologia durante as aulas remotas. “Além do fato de que ninguém estava preparado para esse cenário, muitos professores não tinham nenhuma familiaridade com tecnologia e tiveram que se reinventar. Os nossos alunos também não tinham tanta proximidade com meios tecnológicos e mesmo assim fizeram o seu máximo e se doaram”, destaca.

EJA como atividade essencial durante a pandemia 

A Educação de Jovens e Adultos (EJA) está entre as modalidades de ensino que podem se tornar atividades essenciais durante a pandemia do novo coronavírus. Uma proposta que tramita na Câmara dos Deputados quer garantir o retorno do ensino presencial. O texto é assinado pelas deputadas Adriana Ventura (Novo-SP), Paula Belmonte (Cidadania-DF) e Aline Sleutjes (PSL-PR), que justificam que o tempo de fechamento de escolas nesse período é maior no Brasil que nas principais nações do mundo.

“Além disso, a OCDE publicou estudo mostrando a relação entre a interrupção das aulas e o acúmulo de perda de habilidades e reflexo na produtividade do país; a interrupção produzirá um gap educacional que deverá ser sentido ao longo de décadas”, observam as autoras.

As parlamentares ainda pontuam que o ensino remoto no país deve levar em consideração o fato de 4,8 milhões de crianças e adolescentes que não possuem acesso à internet em casa. “Isso evidencia que há uma clara limitação na adoção do ensino remoto, dada a realidade observada no País”, ressaltam.

A proposta abrange todas as formas de educação pública e privada no âmbito municipal, distrital, estadual e federal. Além do EJA, a proposta ainda cita a educação infantil, ensino médio, fundamental, técnico e superior para ser beneficiados, caso a propositura seja aprovada. (Especial para O Hoje) 

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