Mesmo com chuvas, Senador Canedo sofre com falta d’água

Cidade chega a ficar dias seguidos sem água. Prefeitura estuda fazer uma represa para evitar desabastecimento | Foto: Wesley Costa

Postado em: 17-02-2021 às 23h59
Por: Sheyla Sousa
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Cidade chega a ficar dias seguidos sem água. Prefeitura estuda fazer uma represa para evitar desabastecimento | Foto: Wesley Costa

João Paulo Alexandre

Expansão populacional da cidade, poucas caixas d’água e falta de um plano emergencial em casos de imprevistos são problemas apontados por especialistas como causas da recorrente falta de água em Senador Canedo. Os moradores vivem o drama do desabastecimento de água na cidade praticamente toda semana. Em alguns setores, principalmente aqueles que ficam na parte mais alta do município, a água ‘desaparece’ por uma semana inteira. O fornecimento de água na cidade é feito pela Agência de Saneamento de Senador Canedo (Sanesc).

Morador há 46 anos na cidade, o armador Manoel Luiz Sousa Primo, 50 anos, conta que a falta de água na cidade é um problema recorrente. Segundo ele, na semana passada, foram mais de quatro dias sem nenhuma gota saindo pelas torneiras de sua casa, que fica no Residencial Flor do Ipê. “Aqui é uma parte alta da cidade, então sempre é um lugar onde a água acaba primeiro. Para você ter uma ideia, eu tive que buscar baldes na casa da minha sogra, lá no Jardim das Oliveiras, onde ficou menos dias sem água, para poder beber, banhar e cozinhar”, conta.

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Manoel fez contato com a Sanesc e a agência informou que algumas adutoras romperam na cidade. “Realmente foi um cano que se rompeu, mas a gente não pode pagar por isso. São muitos dias sem água e a resposta é sempre a mesma. A gente quer chegar em casa, abrir a torneira e poder ter o abastecimento para fazer as necessidades básicas de dentro de um lar.”

O armador tem uma loja em que um dos objetos vendidos são baldes. Ela destaca que as vendas do produto subiram nos dias em que a água faltou na cidade. “Todos estavam doidos para armazenar água. Não foi nada de muito expressivo, mas notamos que as vendas foram maiores que um dia qualquer”, destaca.

O armador ainda lista outros problemas na cidade, como a queda de energia na cidade. Segundo ele, o fornecimento é afetado no momento em que a chuva começa a dar sinais que vai cair na cidade. “Aqui está muito complicado. A conta de água chega todo mês e não tem condições de ficarmos sem o abastecimento. A energia também é outra que oscila a todo momento. A chuva arma para cair e já falta luz”, pontua. 

Suja, triste e com ódio

Um verbo e dois sentimentos que descrevem o que a jornalista Barbara Carvalho sente sobre a falta de abastecimento que assola Senador Canedo. Ela conta que mudou com a família há cerca de um ano para o Flor do Ipê e que se arrepende disso, pois não passava por esses transtornos onde morava anteriormente.

“Morava na Vila Pedroso [Goiânia] e era muito difícil falar água no setor. Se por ventura faltasse, era anunciado com antecedência. Aqui a gente é sempre pego de surpresa e nunca tem uma posição definitiva para saber qual realmente será o retorno do abastecimento”, explica.

A falta de água fez com que ela e a família fossem tomar banho na casa da avó, que também fica na Vila Pedroso. São seis quilômetros de distância para poder finalmente ver a água sair das torneiras. Barbara também relata que contou com a solidariedade de uma das vizinhas que conta com uma cisterna no lote “Teve um dia que ela deixou algumas pessoas pegarem alguns baldes de água no local para a gente conseguir fazer algumas necessidades básicas, mesmo assim é muito ruim ter que passar por essa situação quase rotineira.”

A jornalista também reclama sobre o valor da conta de água na cidade. Segundo ela, a conta vem aumentando mês a mês o que não condiz com o serviço ofertado pela empresa. “A conta chega sem problema algum. E vem cara. Se a gente não efetuar o pagamento, eles cortam e nem querem saber se a gente realmente gastou água ou não”, desabafa.

Rompimento

O presidente da Sanesc, Cainã Teodoro, afirma que o desabastecimento na última semana ocorreu devido ao rompimento de quatro adutoras. O problema atingiu 40% da cidade e boa parte são de moradores que vivem em setores mais altos. Segundo ele, uma das adutoras era de difícil acesso e passava por dentro de uma fazenda na zona rural da cidade.

“Conseguimos encontrar e reparar o rompimento. Essa questão não demora muito. Foi algo resolvido em quatro horas. O problema é que o rompimento levou ao esvaziamento do nosso maior reservatório, que conta com 12 milhões de litros de água. O fornecimento foi normalizado na última quarta-feira (12) após o processo de encher esse reservatório e fazer o bombeamento da água para as demais caixas e, assim, chegar nas partes mais altas”, reforça.

Cainã destaca que um estudo sobre as adutoras de abastecimento do município está sendo realizado com três empresas. Segundo ele, o objetivo é encontrar, a médio e longo prazo, soluções para sanar o problema de falta d’água na cidade. “A gente está levando em consideração todos os aspectos da cidade para fazer um levantamento muito amplo sobre o assunto. Em um primeiro momento, já realizamos a troca de algumas adutoras, que eram feitas de PVC, e trocamos por aço inoxidável. Fizemos isso exatamente para evitar que novos rompimentos ocorreram”, afirma.

Nova represa

O presidente afirma que o estudo também leva em consideração a construção de uma nova represa próximo ao município de Caldazinha. “Atualmente, a cidade conta com dois mananciais para abastecimento, o Bom Sucesso e o Ribeirão Sozinho. A gente conta com cinco pontos de captação, mas na época de seca, esse ponto cai para dois. A nova represa levará o abastecimento da cidade nos próximos 30 anos sem prejudicar o atual”, reforça, ao descartar, nesse momento, a privatização da empresa de saneamento. 

Represa não é a única solução, apontam especialistas 

O Hoje ouviu dois especialistas em saneamento básico e abastecimento e ambos foram uníssonos ao relatarem que a cidade deve fazer um plano de abastecimento que deve levar vários fatores para serem colocados em prática. Fernando Ribeiro, coordenador do MBA Gestão de Sistemas de Abastecimento de Água e Sistemas de Esgotos de Sanitários do IPOG, explica um pouco sobre o cuidado com a escolha do manancial e as obras que terão de ser feitas nelas.

“Nesse levantamento, deve ser levado em questão a altura desse reservatório e como será feita a captação dessa água. Temos a superficial, que é a mais utilizada nesse processo. Nela, deve ser vista a questão da impermeabilização do solo e o cuidado com as matas ciliares para que o lençol freático não seja impactado e cause mais problemas”, pontua.

Fabrício ainda destaca a questão da expansão populacional da cidade e a construção de reservatórios em pontos estratégicos. “A prefeitura tem que saber se o encanamento é necessário e vai chegar até a expansão. Isso é para evitar que dois serviços sejam feitos. Cidades com relevos mais acidentados devem levar em consideração a construção de mais caixas d’águas em lugares que evitem que, se caso um passe por serviço, o abastecimento naquela região fique prejudicado”, explica.

Édio Damásio, professor do IF Goiano, doutor em Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos pela Universidade de Brasília (UNB), ressalta que um plano de emergência também deve estar inserido dentro desse plano. “Situações como rompimento de adutoras devem ser levados em consideração que são coisas que podem acontecer. Muitas vezes esses acidentes acontecem com a queda de energia e, quando retorna, a água vem com muita pressão e as adutoras não aguentam”, afirma.

Ele ainda destaca que um estudo sobre a região onde se pretende fazer a represa deve ser apresentado para evitar que ocorra a eutrofização da água deste ribeirão. “Essa situação foi a que aconteceu no Rio de Janeiro no ano passado. Muitas pessoas reclamavam que a água vinha suja, com algumas algas e com gosto. Por causa disso foi necessário fazer um tratamento. É importante analisar tudo isso para que uma solução não se torne um problema”, finaliza. (Especial para O Hoje) 

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