Em Goiânia, Mercado Municipal da Vila Nova carece de reformas

Espaço que iniciou atividades em 1957 foi grande ponto de encontro e histórias goianienses por muito tempo | Foto: Wesley Costa

Postado em: 24-02-2021 às 23h59
Por: Sheyla Sousa
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Espaço que iniciou atividades em 1957 foi grande ponto de encontro e histórias goianienses por muito tempo | Foto: Wesley Costa

João Paulo Alexandre

Piso quebrado, infiltração no telhado, fungos e banheiros precários. Essa é a situação do Mercado Municipal da Vila Nova, que fica no setor de mesmo nome. As atividades no local foram iniciadas em 1957 e, por muitos anos, o mercado foi um ponto de encontro de muitas gerações. Agora, só fica a saudade de quem viveu a época de ouro do lugar.

Hoje, o mercado está praticamente esquecido. A fachada principal está apagada. As entradas que dão acesso ao espaço central do lugar são quase imperceptíveis. A área interna do mercado divide a lembrança de boas histórias com os moradores em situação de rua que veem no lugar uma forma de se abrigarem.

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Cinco gerações de uma família tomaram conta da banca de raiz que está de frente ao espaço central do mercado. O comércio traz ervas que curam várias enfermidades ou são tidas pelos mais velhos como um ótimo remédio para alguns problemas de saúde. Luciano André Rocha recebeu a banca pela mãe, falecida em 2001, que, por sua vez, recebeu do pai, que morreu em 2008. Ela recorda tudo o que fazia no local.

“Aqui era um divertimento só. Eu e um colega meu criamos um carrinho que rolimã e levávamos verdura dentro dele para os feirantes que ficavam do lado de fora do mercado. A gente ganhava gorjeta. Isso aqui era uma festa para todo mundo. O pessoal vinha para conversar e tinha um movimento muito grande”, recorda.

Com o passar do tempo, muitas pessoas que faziam do local um espaço tradicional morreram e o centro acabou ganhando um espaço de galeria, com lojas que tomam a frente de todo o mercado. Luciano conta que, na época do avô, o local ganhou cobertura para os feirantes que passaram a ocupar o mercado. Porém, hoje o formato do telhado ajuda apenas a alagar o espaço.

Luciano relembra que a última reforma foi feita no governo de Darci Accorsi (PT), há quase 20 anos. Os reparos, obviamente, já nem são percebidos no local. O teto está totalmente infiltrado e o espaço conta com pouca ventilação. Com as altas temperaturas, o local vira praticamente uma sauna. O comerciante comercializava verduras no local, mas deixou os produtos devido ao fato de serem perecíveis pela alta temperatura.

Atualmente, ele acredita que o espaço precisa de alguns serviços para trazer a população para o local. “Aqui passou da hora de ter uma agência do Atende Fácil, uma loteria e um caixa eletrônico. Isso ajudaria muito a dar uma movimentação no local. As pessoas viriam aqui e conheceriam mais o espaço que está aqui dentro”, destaca.

O local contava com uma associação, mas Luciano diz que devido à falta de recursos, o movimento se ruiu e não conseguiu mais retornar com as atividades. “Eu cheguei a fazer parte e fizemos uma reunião para encontrar melhorias para cá. Vieram muitos lojistas mas, depois, apenas três pessoas se prontificaram para ajudar. Com esse quantitativo não seria possível realizar as mudanças que aqui precisa”, reforça.

Tempos de ouro

No meio de corredores largados às traças, um senhor tímido lembrava de como o mercado era nos tempos de ouro. Augustino Mesquita dos Santos, de 67 anos, mudou-se do Rio Grande do Norte para Goiânia. O vendedor conta que antes de trabalhar no Mercado da Vila Nova atuou por um tempo no Mercado Central. Ele conta como era o mercado quando chegou em Goiânia, na década de 1960. “O pessoal vinha para cá e se divertia. Aqui era tudo aberto e hoje fechou todos os espaços e as entradas ficaram tudo para o lado de fora do mercado. A gente aqui dentro está esquecido. É por isso que ninguém entra aqui”, relata.

Augustino fica emocionado ao ver como a situação do mercado está atualmente. Aos poucos, ele se soltou e relatou os bons momentos que viveu no local. “O pessoal gostava daqui. As pessoas se sentavam para conversar, consumiam os produtos aqui na feira, passeava. Ficavam horas por aqui. Aqui já foi um grande ponto de encontro da sociedade goianiense”, afirma.

Para o vendedor, apenas do movimento caído no local, estar ali é melhor do que está em casa. Ele atua na banca de um dos irmãos que hoje prefere ficar na fazenda que adquiriu com os anos trabalhados. “Aqui dava lucro e muito. Hoje em dia as pessoas preferem ir a shoppings, lojas e supermercados. Por isso que aqui é esquecido. O visual também não ajuda”, ressalta.

Augustino aponta que o espaço precisa ganhar uma nova reforma e trazer elementos que reforcem a identidade do local. Assim, segundo ele, mais pessoas seriam atraídas no local. “Agora a gente sabe que não pode, mas quando tudo isso passar [pandemia] pode se fazer uns eventos aqui. Uma roda de samba, show ao vivo, comemorar um dia específico com atrações para todos. Isso iria fazer toda diferença para a comunidade e para todos os lojistas. 

Mercado pode receber reforma de R$ 300 mil 

A tão aguardada reforma no lugar pode estar prestes a acontecer. Isso porque o vereador Anselmo Pereira (MDB) destinou um orçamento impositivo de cerca de R$ 300 mil para as melhorias do local. Ele afirma que conversou com os lojistas para saber os anseios da comunidade e viu a necessidade do local.

“O Mercado da Vila Nova é um patrimônio de toda a Goiânia e, infelizmente, caiu no esquecimento. Eu estive lá e vi de perto toda a situação que está o local. É muito triste ver aquele lugar naquela situação. Eu acho mais do que necessário essa reforma. Não somente para os lojistas, mas o bairro Vila Nova merece. Naquele local foi escrita a história daquele lugar”, conta.

Anselmo diz que pretende levar o prefeito de Goiânia, Rogério Cruz (Republicanos), até o mercado para mostrar a realidade do local e para experimentar um dos pastéis mais famosos que tem no local. “A gente quer levá-lo até o próximo dia 13 de março. O local não aguenta muito tempo sem uma reforma. Há muitos problemas estruturais, principalmente em questões climáticas. O forro é muito baixo e a construção é muito antiga, isso causa um certo desânimo para os permissionários”, reforça.

A expectativa do vereador é que, nesse encontro, já possa ser feito um levantamento para saber o que pode ser feito no local. “As melhorias têm que vir, mas a gente não pode esquecer que ali há uma identidade. Ainda é muito cedo para afirmar o que vai ser feito ali porque precisamos de um projeto que não afete nem os permissionários mais antigos, nem os mais recentes”, finaliza. (Especial para O Hoje) 

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