CMTC pede que trabalhadores não utilizem ônibus em Goiânia

Usuários alegam fazer uso do transporte coletivo por necessidade de locomoção e não por divertimento | Foto: Wesley Costa

Postado em: 10-03-2021 às 08h30
Por: Sheyla Sousa
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Usuários alegam fazer uso do transporte coletivo por necessidade de locomoção e não por divertimento | Foto: Wesley Costa

João Paulo Alexandre

A novela do transporte coletivo da Grande Goiânia continua e parece que não tem fim. Os usuários, diariamente, se deparam com veículos lotados e, por incrível que possa parecer, isso já se tornou normal na vida das pessoas que necessitam dos ônibus para se deslocarem entre um lugar e outro. 

Não é de hoje que os usuários pedem mais veículos nas linhas para, assim, evitar as aglomerações, tão pedidas para não serem realizadas pelas autoridades sanitárias em tempo de pandemia. A expectativa para ocorrer essa mudança foi uma reunião ocorrida no último dia 8 de março entre a Defensoria Pública de Goiás (DPE-GO), Procon Goiás e o Ministério Público de Goiás (MP-GO) com os presidentes da Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC), Murilo Ulhôa, e da Redemob, Leomar Avelino Rodrigues

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No encontro, ficou acertado a colocação de 1,1 mil ônibus para rodar na Grande Goiânia. Essa quantidade é 600 veículos a mais do que foi registrado na última sexta-feira (5). Os veículos devem respeitar, sobretudo, o horário de pico e o prazo máximo dado às empresas foi até nesta quarta-feira (10). 

A CMTC informou que está cumprindo os prazos e alguns veículos foram consertados e que alguns tiveram a necessidade passar por troca de peças para serem colocados novamente em circulação. Além disso, o órgão reforça que a quantidade de veículos nas linhas está sendo acrescida de acordo com a demanda do trajeto.

A companhia finalizou em nota que o contato com o apoio da Guarda Civil Metropolitana (GCM) em seis terminais e com agentes da Polícia Civil (PC) nos terminais do Eixo Anhanguera para que seja mantida à ordem no lugar e que os ônibus não saem com pessoa em pé. Porém, um fato que chamou muito a atenção foi um pedido que a CMTC fez em nota: “[…] contamos com o apoio da sociedade para que empregados de serviços não essenciais não entrem no sistema de transporte, essa ação reduz a demanda e contribui para o deslocamento de trabalhadores de setores essenciais e que estão no transporte nos horários de pico.”

Pegou mal

O pedido da CMTC não repercutiu muito bem entre os usuários do transporte coletivo. Cíntia Dornelles, de 30 anos, trabalha em uma farmácia no Centro de Goiânia e mora na Vila Pedroso. Ela, que passa por dois terminais do Eixo Anhanguera, nega as ações pontuadas pela CMTC. “Eu nunca vi policiais civis aqui para ajudar a controlar nada. Os pontos estão sempre lotados e as pessoas amontoadas. Não tem ninguém para fiscalizar e organizar fila. É uma verdadeira bagunça?”, desabafa.

Cíntia destaca que não está no transporte coletivo por vontade e, sim, por necessidade. A mulher acorda às 5 horas da manhã e sai de casa às 5h45. Ela tem que estar às 7 horas no serviço. Caso pense em sair mais tarde, segundo ela, não consegue chegar a tempo no trabalho. “Eu queria estar na minha casa. Ninguém sai de casa para pegar ônibus lotado, sarração, e outros problemas do nosso transporte. A gente não sai para se divertir. É para trabalhar”, afirma. 

Perguntada se acredita que o ônibus é um meio de se contaminar, a mulher é categórica. “Claro que sim. Pessoas seguram na mesma barra. A ventilação natural do local é precária e o vírus circula do mesmo jeito. Com essa doença, a gente não sabe quem está ou quem não está. Pode ter gente que não sente nada, pega o ônibus pois tem que trabalhar e contamina outras pessoas. E ai? Como que fica?

Absurdo

Ernestina Souza, de 53 anos, sai do Jardim Itaipú para trabalhar como doméstica no Setor Bueno. Bairro este tido com o maior número de confirmação de casos do novo coronavírus. Ela afirma que sai de casa com medo diariamente. “A gente toma os nossos cuidados diários, mas peço a Deus diariamente para me proteger. Pois é só ele para nos livrar”, desabafa. 

A mulher pega o ônibus do seu setor e vai para o Terminal Garavelo. O local, inclusive, já foi palco de várias denúncias de aglomerações. Ernestina conta que, quando pode, faz uso de transporte por aplicativo, mas não é sempre que pode custear com os R$ 35, em média, do trajeto entre a casa e o serviço. “É um valor que não compensa pagar diariamente. E isso é só de ida. Se contar com a volta dá R$ 70. Imagina pagar isso diariamente. Eu tô aqui porque não tem outra opção”, revela. 

Ao ouvir o pedido realizado na CMTC, Ernestina ri e diz que o pedido é feito por pessoas “que não sabem o que falam”. “Cada dia mais eu acredito que esses governantes e empresários não sabem o que falam. Ninguém tá aqui porque quer ou gosta não. A gente paga caro por um transporte que não vale a pena. Se fosse de graça tava caro, para se ter uma ideia. Isso é um absurdo!”, finaliza. 

A prorrogação do decreto em que determina o fechamento de atividades não essenciais em Goiânia também inclui que os veículos que compõem o sistema do transporte coletivo devem transitar apenas com passageiros sentados. Porém, durante coletiva no último dia 8 de março, o secretário de Saúde da Capital, Durval Peixoto, pontuou a dificuldade de fiscalizar a área de mobilidade da cidade. “A fiscalização existe, mas é muito complexo você conseguir garantir que 100% dos lugares sejam fiscalizados”, alega. 

Empresa que descumprir o decreto pode ser multada

O parlamentar Ronildo Reis (Podemos) protocolou, no último dia 8 de março, um pedido de punição e paralisação “imediata das atividade” do transporte coletivo às empresas que não cumprirem com as medidas estabelecidas no decreto municipal. O pedido foi protocolado na prefeitura de Goiânia e no Ministério Público. O vereador afirma que ainda irá ingressar com uma medida judicial. 

Para justificar o pedido, ele apresenta o acerto para o aumento da frota para evitar aglomerações sobretudo em terminais e dentro dos veículos que, segundo ele, constantemente vêm sendo retratados pela mídia.  A intenção do parlamentar é que as empresas cumpram o que está determinado no decreto, que é o transporte de pessoas respeitando o máximo de quantidade de assentos do veículo. Mas, segundo ele, isso não vem sendo respeitado pelas empresas. 

O parlamentar acompanhou de perto a movimentação nos terminais da Capital e realizou vários registros em fotos e vídeos que mostram a superlotação em terminais, dentro dos coletivos e nas plataformas de embarque e flagrou várias aglomerações e veículos parados. 

“Quanto mais gente dentro dos ônibus, mais precisaremos de vagas nas UTIs. O descumprimento das normas de distanciamento e das medidas sanitárias, por parte das empresas do transporte coletivo, já são elementos suficientes para pedir a imediata paralisação do serviço na capital”, disserta. (Especial para O Hoje) 

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