Errar é um êxito

Confira a crônica da semana, de autoria do escritor e advogado Lucas Montagnini | Imagem: Reprodução

Postado em: 14-03-2021 às 12h15
Por: Raphael Bezerra
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Confira a crônica da semana, de autoria do escritor e advogado Lucas Montagnini | Imagem: Reprodução

Lucas Montagnini

Errar é divino, mas nunca te contaram isso. Te ensinaram, de forma inexorável, as supostas formas de acertar. Doutrinaram que tudo tem uma lógica, que é matemático, que o amor acontece, que alma gêmea aparece, que os problemas só surgem pra quem muito se aborrece. Quase uma receita de bolo, dessas que a gente vê na internet.  Mas nunca, nem de longe, te ensinaram a errar. E assim a gente cresce, comendo bolo de internet, rolando o dedo no celular e nos perguntando, ansiosos com o próximo erro, o porquê de errarmos tanto.

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A receita completa que nunca nos revelaram, na verdade, deveria ser de um suculento e interminável bolo de erros com cobertura de perdas. Não por drama, mas porque faz parte do viver. Caminhar por aí é se equilibrar em linhas tortas, se debruçar em curvas sinuosas. Deveriam ter nos dito que o equilíbrio é o que dá o verdadeiro tom à vida. Mas não só o equilíbrio fitness, pós-moderno, de comer uma fruta ao invés do pão com manteiga no café da manhã. É aquele equilíbrio que faz a gente se sentir um verdadeiro trapezista de circo: hora feliz sob a plenitude de calorosos aplausos, hora triste nos ensaios da realidade; levando tombos dia sim, outro também.

O erro é a vida sendo sua mãe, te dando leves (ou nem tanto) tapas na bunda, tentando te direcionar àquilo que, de alguma forma, é relevante para o crescimento individual. O erro é divino porque é o outro lado da moeda, o parâmetro, o motivador. O erro é o ópio do acerto. A perda já é mais ambivalente, às vezes é ganhar, se livrar, abrir novas portas; às vezes é nunca mais ver ou sentir, perder às vezes é só perder – e tudo bem, também. A gente começa a perder quando nasce, mas ganhamos muito na medida em que vivemos.

Crescer talvez seja, em muito, entender que não existem garantias de tempo, tampouco verdades absolutas e, sobretudo, que o certo ou errado não são mais do que reflexos da relatividade de ser humano. O marinheiro livre é aquele que navega pela existência sem se ancorar na ortodoxa cultura do medo, seguro de que a incerteza é uma das poucas constantes que permeiam as nossas breves, intensas e passageiras vidas. Erre quantas vezes for necessário. 

 

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