Gustavo Mendanha desobedece ao decreto estadual por motivações políticas
Aglomerações continuam a ser registradas em Aparecida e mesmo com a família inteira contaminada pela Covid, prefeito não cede | Foto: Divulgação/Rodrigo Estrela
Por: Augusto Sobrinho
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José Luiz Bittencourt
A resistência de Aparecida ao decreto do governador Ronaldo Caiado que instituiu o sistema 14×14 de fechamento do comércio, indústria e serviços tem como escopo o projeto político do prefeito Gustavo Mendanha, que sonha se tornar candidato a governador em 2022 – apresentando-se desde já como alternativa a Daniel Vilela para representar o MDB naquela eleição, dentro do partido, e como oposição a Caiado.
Mas as consequências dessa irresponsabilidade são dramáticas. Neste fim de semana, aglomerações e multidões tomaram conta dos pontos comerciais de Aparecida. E, para piorar, outro município da região metropolitana, Trindade, resolveu acompanhar Gustavo Mendanha e desobedecer ao decreto estadual que instituiu o modelo 4×4, em que as atividades econômicas não essenciais cerram as portas por 14 dias e depois reabrem por mais 14 e assim sucessivamente até o arrefecimento da pandemia.
Querendo ou não, Mendanha passou a ser ícone do negacionismo em Goiás, descendo de nível a ponto de dividir lives com extremistas como Gustavo Gayer, aquele que provocou um engarrafamento de 18 quilômetros na BR-153 para protestar contra as restrições à movimentação de pessoas na Grande Goiânia.
Mendanha não fechou a sua cidade, que é hoje a única de grande porte em Goiás a não seguir o sistema 14×14, inclusive contrariando o prefeito de Goiânia Rogério Cruz, que não hesitou para suspender o andamento normal da economia da capital – hoje, tal como Aparecida, classificada como em situação de calamidade, sem vagas de UTi ou de enfermaria para receber pacientes graves ou não da Covid-19.
Aparecida chama a atenção do país por fugir da exigência de implantar um controle social mais rígido para reduzir a propagação da peste. Está inclusive na mira do Ministério Público, que pode a qualquer momento acionar o prefeito na Justiça para que cumpra o decreto estadual e resguarde a população de maiores riscos, não só na sua cidade, como também na região metropolitana, a maior populosa do Estado. A ação do MP, aliás, está demorando e caminhando para se transformar em omissão.
Na live transmitida pelo instagram, Mendanha e Gayer trocaram elogios e afinaram posições comuns contra o decreto estadual, entre outras amabilidades mútuas. O prefeito aparece reclamando de ter sido transformado em alvo ataques por tentar preservar a economia de Aparecida. Gayer retruca que Mendanha está “defendendo o povo aparecidense da miséria” e o conclama a se fortalecer e não esmorecer na luta contra as ações de prevenção sanitária, dando a entender que a pandemia não passaria de uma cilada da imprensa, “que está comprada e faz o jogo do governador Ronaldo Caiado”.
Mendanha sustenta suas posições em um Comitê de Prevenção e Enfrentamento criado pela sua própria prefeitura, no qual representantes de entidades empresariais têm maioria. Para a população em geral, apenas uma cadeira, entregue ao presidente do Conselho das Associações de Bairro de Aparecida. Garante o prefeito que “técnicos” assessoram o Comitê, o que é verdade. Só que são funcionários municipais, hierarquicamente subordinados a ele.
(Todas as vezes em que esse Comitê é citado, Mendanha e seus porta-vozes relembram estrepitosamente o fato de que há um representante do Ministério Público e outro da Defensoria Pública na sua composição, esquecendo-se malandramente de informar que os empresários estão em número maior lá dentro, inclusive contando com um representante da Federação das indústrias do Estado de Goiás – FiEG e do seu tenebroso presidente Sandro Mabel.)
Mendanha enfrenta problemas sérios com Covid-19 não só como gestor público, como ainda dentro da sua própria casa. Cinco tios, a mãe, a esposa e dois dos seus filhos foram contaminados. Agravando as coisas, na quarta, 17 de março, seu pai, o ex-deputado leo Mendanha, foi internado em estado grave na Clínica Santa Mônica, acometido pela mesma Covid-19 que o filho se recusa a aceitar como motivo para suspender as atividades essenciais não econômicas em Aparecida, apesar do colapso do sistema municipal de saúde tanto privado quanto público. No sábado, 20, leo enfrentou complicações e teve que ser intubado.
Ele, o prefeito, costuma aparecer em fotografias com os olhos arregalados. Mesmo assim, não enxerga a tragédia cotidiana da Covid, na sua cidade e agora na privacidade do seu lar, preferindo fugir dos desgastes e optando por apostar no negacionismo. Não vê por que não quer. Ou vê, mas prefere ignorar. (Especial para O Hoje)