Insegurança faz população evitar Parque Botafogo em Goiânia

Local conta com danificações nas pistas de caminhadas, mato alto e falta de patrulhamento | Foto: Wesley Costa

Postado em: 02-04-2021 às 08h05
Por: Sheyla Sousa
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Local conta com danificações nas pistas de caminhadas, mato alto e falta de patrulhamento | Foto: Wesley Costa

João Paulo Alexandre

Um dos principais parques de Goiânia sofre com o completo abandono físico e paisagístico. O Parque Botafogo, que fica na região Central da cidade, conta com bancos quebrados, pista de caminhada tem várias rachaduras, buracos e desníveis. Porém, o problema mais apontado pelas pessoas que ainda se arriscam a frequentarem o local é a falta de segurança.

O parque foi criado em 1938 pelo arquiteto urbanista Atílio Corrêa Lima e estava inserido no plano original de Goiânia com o intuito de levar lazer para as pessoas que acabara de habitar a nova Capital de Goiás. Ele passou por uma urbanização e arquitetura em 1993 com o objetivo de recuperar as matas remanescentes no local e dar mais lazer para os moradores da região.

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Um grande diferencial é que o espaço conta com duas partes e é dividido pela Marginal Botafogo. Com isso, uma das partes era voltada para a Avenida Araguaia e a outra para o Setor Vila Nova. A parte da Avenida Anhanguera contava com uma mata com espécies nativas e várias nascentes. O espaço ganhou caminhos, estares com mesas, bancos e lago. Já a área da Vila Nova ganhou equipamentos como pista de cooper e bicicross, boxes, lanchonete com sanitários e chuveiros próximos ao campo de futebol, arquibancada, quadra polivalente e de peteca.

Porém, a realidade do local é outra. Esses lugares sofreram com a ação do tempo e outros foram alvos de vandalismo. Em poucas voltas, é fácil encontrar grades quebradas, assim como brinquedos. Não é difícil encontrar roupas, lençóis e até camisinhas abandonadas nos playgrounds ou próximos aos espaços destinados à diversão infantil. Esses fatores acabam criando um pouco de receio da população que passe no local.

A aposentada Ana Lúcia Torres, 67 anos, ainda leva as netas para se divertirem numa parte tida como mais aberta para que as meninas brincassem em manilhas de concretos que viraram um monumento no local. Ela lembra de alguns episódios violentos que já aconteceram no parque e fez com que a sua presença caísse muito no local.

“Aqui já encontraram uma mulher morta e um corpo boiando no lago. Isso assustou muito a gente. Antes, aqui era cheio de estudantes que colhiam amostras para fazer pesquisas sobre solo e água do parque. Mas um dia um deles foi assaltado e todos os instrumentos de pesquisa foram levados por quatro pessoas. Então nenhum estudante voltou mais aqui.” conta.

Segundo ela, a presença da Guarda Civil Metropolitana é algo raro no local. “A gente quase não vê. Eles pararam de vir aqui depois que uma erosão se formou na entrada em que a viatura usava para entrar aqui. [Um agente] a pé é a coisa mais difícil de se ver. Se uma pessoa for assaltada aqui e precisar de um guarda imediato não terá”, assevera.

Medo

Ana Lúcia acredita que o centro da mata serve como ponto para o tráfico de drogas na região. “Quando chega ao anoitecer, muitas pessoas começam a entrar no meio da mata de maneira muito suspeita. Às vezes, isso acontece à luz do dia. Eles vão e passam muito tempo lá dentro. Em algumas trilhas, a gente encontra latas de cerveja, camisinhas, roupas. Tudo é abandonado lá dentro e a gente fica com medo”, ressalta.

A insegurança é sentida por todas as pessoas que passam no lugar. Porém, o problema é mais sentido pelas mulheres que precisam passar pelo parque. Não há um que não saiba de uma história de crime em que a vítima foi do sexo feminino. Elas usam qualquer artifício para tentar inibir. A reportagem encontrou uma mulher que carregava um pedaço de pau para atravessar o parque.

Outra medida adotada é andar acompanhado. Foi isso que Marileide Pereira dos Santos fez para passar pelo local. Acompanhada da filha adolescente, ela conta que algumas pessoas ao seu redor foram vítimas de violência ao passar no parque. “Tenho duas amigas que foram assaltadas e levaram o celular delas durante o dia. No momento em que atravessava pela pista de cooper do parque. Meu filho também foi assaltado quase no fim do dia. A violência aqui é constante”, reforça.

Ela relembra que uma vez estava indo para o trabalho e foi passar por dentro do parque. Em determinado momento, uma pessoa chegou perto dela, mas apenas perguntou se ela tinha cigarro, “Eu me gelei todinha. Fiquei morrendo de medo. E não tinha um policial nas redondezas ou guarda municipal aqui. Um policiamento mais ostensivo faz muita falta no local.

O Hoje questionou a GCM sobre o efetivo. Por meio de nota, a corporação informou que “está neste momento em todas as frentes de serviço da Segurança Pública Municipal, inclusive nas operações da Central Covid-19. Temos a Coordenadoria de Guarda Ambiental que faz o policiamento preventivo e ostensivo nos 49 parques, bosques e áreas verdes de Goiânia. Contudo, pedimos que a população denuncie situações de violência pelo número 153. As denúncias podem ser feitas de forma anônima e as nossas viaturas chegam rapidamente em qualquer lugar da nossa capital.” 

População clama por uma revitalização no local 

O parque tem uma área de 172 mil metros quadrados. A área verde é predominante no local, mas sofre com o abandono e afasta a população do local. Quem afirma isso é José Inácio Pinheiro, de 65 anos. Ele vende picolé entre o Setor Vila Nova e Setor Central, mas via ali um excelente ponto de revender os seus produtos, se o lugar estivesse em boas condições.

“Primeiramente, aqui tinha que podar esse mato e trazer um projeto que recuperasse tudo o que tem aqui. Poderia fazer um lago mais chamativo. Colocar mais brinquedos para as crianças, melhorar essas pistas de caminhadas. Tem muitos buracos e alguns trechos estão só o cascalho. Aqui precisa de uma grande reforma para que a população venha frequentar aqui”, conta.

Segundo ele, o parque “é um grande presente para Goiânia”, mas que anda muito esquecido e acaba se tornando pelo poder público. “É muito triste ver tudo isso aqui abandonado. Antes, isso aqui estava lotado. O pessoal vinha do Mutirama e gostava de ficar aqui. Hoje estamos passando pela pandemia, mas, mesmo se não estivéssemos, muitas pessoas sequer pisaram o pé aqui, pois ficam com medo e não tem nada para oferecer a essas pessoas também.”

Por meio de nota, a Agência Municipal de Meio Ambiente (Amma) informou que “realizou uma frente de serviços no Parque Botafogo entre os dias 01 e 05 deste mês, promovendo a limpeza e roçagem da vegetação rasteira da unidade, poda de árvores, reparos na iluminação e pintura da sede administrativa do parque.”

O texto destaca que “diariamente o Parque Botafogo recebe ações de limpeza das pistas de caminhada e trilhas, limpeza de lixeiras, recolhimento de detritos diversos mal acondicionados, asseio dos banheiros públicos e conservação dos espaços internos e externos, que são realizadas tanto por servidores efetivos da Agência, quanto por ressocializandos que trabalham na unidade.”

Sobre a conservação da pista de caminhada, a Secretaria de Infraestrutura (Seinfra) disse que “irá encaminhar uma equipe ao local para avaliar as condições da pista de caminhada e realizar a manutenção da pavimentação.” (Especial para O Hoje) 

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