População burla distanciamento e lota parques

Diversos parques da Capital são frequentados diariamente por goianienses em busca de lazer e atividades físicas | Foto: Wesley Costa

Postado em: 09-04-2021 às 07h40
Por: Sheyla Sousa
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Diversos parques da Capital são frequentados diariamente por goianienses em busca de lazer e atividades físicas | Foto: Wesley Costa

João Paulo Alexandre

Apesar de Goiás ultrapassar a triste marca de 500 mil casos do novo coronavírus, o registro parece não intimidar as pessoas a cumprirem medidas relacionadas ao distanciamento social. Em vários parques da Capital é possível encontrar pessoas sem máscaras, não cumprindo o distanciamento mínimo e utilizando equipamentos de uso coletivo. A busca de uma vida saudável não pode ser sinônimo de desleixo com o atual momento que o mundo enfrenta.

Goiânia conta com uma punição de R$ 110 para as pessoas que não fazem o uso de máscaras, por exemplo. Mas a cidade não tem um artigo definido no decreto sobre como devem ser as regras de utilização dos parques da cidade. Fiscalização, também, nesses pontos, é praticamente inexistente.

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A infectologista Joana Darc Gonçalves da Silva explica que, apesar do risco de contaminação ser menor em espaço aberto, ele existe. Principalmente quando há aglomeração. “A contaminação em lugares ventilados e abertos ocorre quando você não respeita o distanciamento ou toca em alguma superfície que esteja contaminada.”

Joana conta como acontece a contaminação nesses casos. Segundo ela, há dois modos de transmissibilidades: a direta e a indireta. “Nós expelimos muitas partículas de salivas que ficam um tempo suspensas no ar, mas, em espaço aberto, ela cai com mais facilidade. Porém, se uma pessoa não tiver um metro de distanciamento, no mínimo, por exemplo, essa gotícula contaminada vai atingir a pessoa por alguma parte. Essa é a contaminação direta. A mesma coisa acontece com os objetos que são compartilhados que estão contaminados e não foram higienizados. Esse é o modo de transmissão indireta”, destaca.

As atividades físicas ao ar livre não estão proibidas em Goiânia. Mas a infectologista afirma que isso não é sinônimo de relapso com o atual momento que estamos vivendo, ainda mais com a presença de variantes mais transmissíveis. “É muito importante a pessoa evitar caminhar ou passar próxima uma da outra. Levar álcool em gel, caso o espaço não o disponha, evitar utilizar barras ou equipamentos que sejam compartilhados, não dividir objetos e não aglomerar”, destaca.

Joana destaca que, em algumas partes do mundo, algumas medidas de marcação de sinalização de solo têm surtido efeitos. “Em alguns lugares já tem uma faixa que divide o sentido das pistas de caminhada. Isso ajuda muito para evitar aglomerações naquele momento em que você faz o exercício. Outra situação que é interessante é o fato da distribuição de círculos, que respeitam o espaço de dois metros, e dentro dele só ficam o núcleo de uma família. Nele, a pessoa pode ficar sem máscara, por exemplo”, explica.

A profissional destaca que essas são algumas medidas que poderiam ser adotadas no Brasil, mas que teriam que ser constantemente fiscalizadas já que a aglomeração é um aspecto cultural de nosso país “A aglomeração voluntária no Brasil já é algo que está na nossa raiz. É algo que pode ser evitado, mas muitos não conseguem. E a aglomeração que a pessoa não tem como escapar, que são as presentes nos transportes públicos e em casas onde todas pessoas têm que sair para trabalhar. Isso é o reflexo de uma situação socioeconômica que se agrava cada dia mais”, destaca.

Atenção

Joana afirma que o policiamento é uma medida a ser trabalhada cada vez mais entre os brasileiros. “A gente tem um costume de levar a mão nos olhos, rosto, boca. E é com elas que pegamos todo objeto ou qualquer instrumento que pode estar contaminado. Outra coisa que a gente tem que levar em consideração é que, quando a gente encontrar um conhecido, por mais que a gente ame, evite abraçar. Parece que a gente vem repetindo a mesma coisa várias vezes, mas as pessoas devem cair na realidade que está crítica”, reforça.

Nesse sentido, ele destaca que aquele toque de cotovelo ainda pode ser levado em consideração nesse momento. A doutora pontua, ainda, que as atividades em ar livre são bem mais seguras dos que as realizadas dentro de academias fechadas. “Teve muitas discussões entre aberturas de academias e igrejas. Estamos falando de lugares com níveis altíssimos de contaminação. São ambientes em que a ventilação não acontece de maneira natural, por mais que sejam seguidas as regras de distanciamento. O vírus se espalha com maior rapidez com o ambiente fechado, mesmo com o uso do álcool e da máscara”, confirma.

Por fim, Joana faz um apelo para a sociedade em geral para o cumprimento do isolamento e das regras sanitárias. “Se para você já está chato falar, ouvir ou ler algo sobre Covid-19, imagine para quem está trabalhando na linha de frente. Não só apenas pessoas que estão cansadas, mas pessoas que estão morrendo por causa da doença. Isso é um clamor. Pense no profissional de saúde a cada comportamento que você tem. Analise e seja mais cauteloso para se proteger, proteger a gente e quem você ama.” 

Aglomerações têm ligação com a sensação de prazer 

Apesar de muitas pessoas acharem o assunto repetitivo, a insistência de pessoas para promover aglomeração é quase instantânea. Por mais que todos os dias, diversos profissionais reforçam o período de uma pessoa próxima da outra, as fiscalizações mostram que essas dicas não estão sendo absorvidas. Segundo o psicólogo Fabiano de Abreu Rodrigues, essa ação está ligada a uma sensação de prazer.

“São diversos motivos, um deles é o negacionismo proveniente do instinto de sobrevivência onde pensar ter razão, libera neuro-hormônios da satisfação. Tem também o fator cultural proveniente da educação e do clima local. Povos de lugares mais quentes desobedecem mais regras de confinamento por estarem desacostumados a ficar mais tempo dentro de casa”, pontua.

Segundo ele, isso acontece por conflitos entre razão e emoção. “A ansiedade em excesso prejudica a razão e às vezes a pessoa sabe inconscientemente, mas a consciência não traz a razão. Ansiedade e estresse prejudicam o envio de mensagem da região emocional para a racional no cérebro.

Fabiano explica que a questão do individualismo, que está cada vez mais presente na nossa sociedade, reflete muito nessa questão. “Esta personalidade está relacionada também ao uso da internet e diversos fatores. Gosto de dizer que vivemos na era do selfie, do eu, do perfil, do usuário, ou seja, eu, eu, eu. Esse individualismo tem consequências. Uma das provas são as variantes do vírus que impede de conter o vírus e acabar com a pandemia.”

O psicólogo revela que um acompanhamento com um profissional pode trazer resultado, mas outros fatores também devem ser levados em consideração. “Sim, mas o problema também é genético, um tratamento coletivo seria impossível. E o tratamento precisa do reconhecimento. A pessoa precisa querer se tratar e muitas não acreditam ter problemas. O problema coletivo no Brasil, para ser resolvido, tem que começar no processo educacional, depois na educação cultural. Não é simples”, finaliza. (Especial para O Hoje)

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