Pandemia ‘força’ profissionais a mudarem de carreira

Goianos encontraram novas formas de obter renda mudando de profissão

Postado em: 25-04-2021 às 23h59
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Pandemia ‘força’ profissionais a mudarem de carreira
Goianos encontraram novas formas de obter renda mudando de profissão

Daniell Alves

Após diversas áreas serem totalmente afetadas pela pandemia da Covid-19 e ficarem sem lucros, os goianos tiveram que mudar de profissão para conseguir manter as contas em dia. Entre os empregos mais afetados, de acordo com levantamento da Secretaria do Trabalho, estão os profissionais de varejo, funcionários de consultórios odontológicos, especialistas de produção de TV e cinema, além de servidores de comida, garçons e artistas de palco.

Em entrevista ao O Hoje, o vice-presidente da Federação das Micro e Pequenas Empresas de Goiás (Femicro), Lívio Márcio de Queiroz, avalia que essa realidade é visível no Estado. Segundo ele, essas áreas foram bastante afetadas já que permaneceram por muito tempo de portas fechadas, como o ramo de eventos, academias e esportes. “Não há como mensurar o quanto essas medidas afetaram a economia nos municípios. Inúmeros empresários estão quebrados com dívidas impagáveis e sem perspectivas futuras. Os governos têm sido pouco efetivos no socorro que as micro e pequenas empresas tanto necessitam nesse difícil momento”, diz.

Continua após a publicidade

Lívio ainda lembra que apenas cerca de 1 mil empresas conseguiram empréstimo. Segundo ele, parte dessa dificuldade em conseguir verba também pode ser atribuída à falta de organização gerencial dentro das empresas. “Só em Aparecida são 40 mil CNPJs”. Se somar Goiânia, Anápolis e Aparecida, a estimativa é de pelo menos 160 mil empresas, estima ele. “As prefeituras também não têm como ajudar. O Governo Federal, o máximo que fez foi parcelar o Simples Nacional. Isso não é ajuda”, lamenta. “Nós achamos que as microempresas nem deveriam fechar. O que uma papelaria e uma lojinha de aviamentos ou de embalagem têm a ver com a transmissão, uma vez que estão sendo seguidos todos os protocolos?”, questiona.

Além disso, ele enfatiza que não há fiscalização eficaz em Goiás onde realmente seria necessário como, por exemplo, em supermercados, filas de bancos e dentro dos ônibus. “As microempresas geram 95% de emprego e renda. Estamos com medo de, até o fim do ano, cerca de 50% dessas empresas nem existirem mais”, afirma.

A empresária Suellen Gouveia, 38 anos, é formada em Relações Públicas e por muitos anos direcionou a carreira para o mercado de eventos. Ela era coordenadora e gerente de uma empresa organizadora de eventos em Goiânia. Mas, com o início da pandemia, as restrições para evitar o contágio da doença afetaram diretamente a empresa onde atuava. “A realização de eventos foi suspensa tão logo a pandemia foi declarada e ainda não há expectativa de retomada. É o mercado mais afetado”, destaca.

A partir daí, ela decidiu abrir neste ano uma agência de comunicação e marketing, onde ela pode se dedicar a outras áreas da comunicação. “Tudo mudou, desde a minha rotina, perfil dos clientes. O próprio perfil de serviços que realizo hoje é bem diferente. Minha agência tem como propósito conectar marcas aos seus públicos, usando as ferramentas de comunicação e relacionamento mais adequadas ao perfil e objetivo de cada cliente. Eu foco muito em gerar experiência de marca, independente do segmento do cliente e tenho conseguido bons resultados”, explica ele que, atualmente, trabalha na modalidade home office.

Como empreendedora, Suellen quer crescer de maneira sustentável, num formato de home office, gerando emprego e renda para minha agência e para os meus clientes. “Quero que eles cresçam por meio do trabalho de comunicação estratégica que oferecemos”, frisa.

Durante a fase de implantação da agência, ela recorreu ao Sebrae para se informar sobre MEI e formalização, mas conta que no decorrer da sua carreira, já havia participado de cursos e consultorias na instituição, que somaram para a sua formação. “Tudo o que participei junto ao Sebrae fez a diferença na profissional que sou hoje”, relembra.

Golpe

Enquanto uns abrem o próprio negócio, outros fecham. Foi o caso da jovem Sarah Giulia, 23 anos, que tinha aberto no último ano uma loja de bijuterias. As vendas eram on-line e os clientes podiam comprar pelas redes sociais. Ela conta que estava lucrando bastante com os produtos, mesmo durante a pandemia. “No início foi ótimo pra mim porque as pessoas tinham reservas de dinheiro que poderiam usar comprando coisas não essenciais”, revela.

Contudo, depois de levar um golpe de R$ 4 mil, a empresa dela não conseguiu se manter e teve que fechar as portas. Futuramente, ela ainda pretende reabrir o negócio com um planejamento financeiro mais estável. Após isso, mudou de profissão e começou a trabalhar com atendimento ao cliente em uma empresa de produtos farmacêuticos.

Criatividade

Já a vendedora Maria Cleonice, de 52 anos, também teve que se reinventar para obter uma renda extra. É que ela trabalhava vendendo bolos e salgados em uma escola, mas depois que as aulas presenciais foram suspensas o negócio dela precisou ser interrompido. “É um dinheiro que faz falta, era pouco, mas ajudava”, revela.

Enquanto as aulas não retornam, começou a fazer tapetes de crochê. O artesanato entrou na vida de Maria há cerca de uns 15 anos, quando começou a praticar depois de uma amiga ensinar. Durante um período, ela havia parado, porém a necessidade fez com que a artesã colocasse os dedos para trabalhar. Os tapetes são feitos mediante encomenda. “Tem de todas as cores, para sala, cozinha, banheiro e quartos. Os preços variam de R$ 40 a R$ 150. Depende do modelo que o cliente quiser”, explica. 

Retomada econômica gerou empregos em Goiás 

A retomada econômica proposta pelo Estado, no último ano, tem surtido efeitos positivos na geração de empregos. Nos primeiros dois meses deste ano, Goiás ultrapassou o saldo registrado em todo ano de 2020. Naquele ano foram 26.258 carteiras de trabalho assinadas.

Segundo dados divulgados pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), órgão do Ministério da Economia, o Estado já apresentou saldo de 17.990 novas vagas em fevereiro. Somando com o mês de janeiro, o resultado são 34.447 trabalhadores contratados no território goiano nesse período.

O crescimento colocou Goiás novamente a primeira colocação entre estados da região Centro-Oeste. Para se ter uma ideia, Mato Grosso criou 11.795 vagas, Mato Grosso do Sul 7.054 e o Distrito Federal 3.238.

No cenário nacional, Goiás se destacou ficando em sétimo lugar, atrás de São Paulo (1º/128.505 vagas), Minas Gerais (2º/51.939), Paraná (3º/41.616), Santa Catarina (4º/33.994), Rio Grande do Sul (5º/29.587) e Bahia (6º/18.993). Quando é feita a avaliação dos dois primeiros meses de 2021, Goiás pula para o sexto lugar nacional na geração de empregos, atrás apenas de São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Nos últimos 14 meses de registro, de janeiro de 2020 a fevereiro de 2021, Goiás soma 60.705 vagas com Carteira de Trabalho assinada. Nesse período, apenas em quatro meses os números do emprego em Goiás ficaram com saldo negativo (março, abril, maio e dezembro de 2020). (Especial para O Hoje)

 

Veja Também