Quinta-feira, 28 de março de 2024

Berlim ganha instituição para abrigar ‘street art’

Museu será aberto no início o próximo ano e já desperta polêmica por abrigar obras de arte que pressupõem um caráter subversivo

Postado em: 28-03-2016 às 06h00
Por: Sheyla Sousa

Graça Magalhães-Ruether/Correspondente de O GLOBO

Antes considerados marginais, artistas praticantes da street art – que engloba grafites, projeções, esculturas e outras intervenções em espaços públicos da cidade – estão sendo absorvidos pelas instituições culturais na Europa. Depois de Amsterdã, Berlim terá o seu centro de street art, o Museu de Arte Urbana Contemporânea, que será aberto no início do próximo ano e já desperta polêmica, por abrigar obras de arte que pressupõem um caráter subversivo.

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Por trás do museu que está sendo instalado em um prédio antigo no bairro de Schöneberg, está a empresa gigantesca de apartamentos de aluguel Gewobag, que tem no seu portfólio 60 mil imóveis alugados. Ela atribui o apoio à street art a seu poder de fascinar o público, sobretudo os “novos berlinenses”, pessoas que vieram morar na cidade após a queda do Muro, há 26 anos.

Com a Fundação Urban Nation, a empresa imobiliária passou a coordenar as principais atividades de street art de Berlim. O primeiro evento do ano começou  no último domingo, quando os artistas Collin van der Sluijs e Super-A pintarão um mural sobre unificação. “A street art fascina porque leva à reflexão e, sobretudo, provoca”, diz Yasha Young, americana residente em Berlim que chefia a Urban Nation e é a curadora também do novo museu.

‘Arquivando’ a arte

Para ela, a “street art não vai deixar a rua” pois as ações artísticas nos muros e paredes ao ar livre continuarão. Com o mu­seu, porém, haverá a possibilidade de “arquivar” as obras mais importantes. “Mui­tos artistas famosos como Bansky e El Bocho fazem obras que, muitas vezes, antes de sua autoria ser descoberta, são apagadas”, lamenta ela.

No “Parque do Muro”, uma ampla área na antiga linha divisória da cidade, artistas e amadores pintam com pistolas de tinta a principal relíquia da era da divisão. O estudante de arte inglês Clive Burns ficou surpreso com a falta de consideração pelo que é pintado no muro, ao descobrir que, a qual­­quer momento, um desenho pode ser coberto pelas tintas de outro artista. “Algumas obras podem ser levadas aos museus mas a maioria é danificada pelo tempo e de­saparece”, diz ele.

Kai Jakob, autor do livro Streetart em Berlim, diz que a street art nunca vai perder o seu caráter de fugacidade mas isso não impede que ela seja “arquivada” em museus. As fotos das obras mais famosas desse gênero em Berlim, que deverão fazer parte da coleção do museu, são um exemplo desse conflito.  

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