Passarinhos do Cerrado lança seu segundo CD

Passarinhos do Cerrado, grupo goiano de coco, une o ritmo nordestino às tradições goianas em Origens, disco que busca cantar suas raízes musicais

Postado em: 02-09-2016 às 06h00
Por: Redação
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Passarinhos do Cerrado, grupo goiano de coco, une o ritmo nordestino às tradições goianas em Origens, disco que busca cantar suas raízes musicais

Júnior Bueno
“Vou atrás de origens que eu não vivi”. É assim, com um chamado ancestral, que o grupo goiano de coco Passarinhos do Cerrado lança seu segundo CD, Origens, nesta sexta-feira (2) à noite, no Martim Cererê. O lançamento faz parte das comemorações de dez anos do grupo, que ainda contará com a gravação de seu primeiro DVD ainda neste ano. O tempo voa. Parece que foi ontem que um ajuntado de músicos se reunia em praças e feiras livres para cantar cantigas de roda. “Era uma formação diferente: os homens tocavam e as meninas dançavam e cantavam”, diz Nadia Junqueira, integrante do grupo. “De lá para cá, mais de 40 pessoas já passaram pela banda”.
Algumas mudanças estruturais ocorreram nesta década: primeiro, trocaram feiras e praças por palcos. Em seguida, Rodrigo Kaverna, um dos membros originais remanescentes até hoje, descobriu o coco, ritmo nordestino que casou com perfeição com a goianidade do grupo. E, assim, após dez anos, a banda formada por Bruna Junqueira, Cléber Reizim, Milca Francielle, Nádia Junqueira e Rodrigo Kaverna, encontrou no álbum Origens um meio de resgatar e expor suas raízes, misturando aos ritmos que encontraram fora de Goiás as tradições genuinamente goianas, como o carro de boi e a Folia de Reis. 
Recheada de participações especiais, não lhe faltaram companhias oriundas de Pernambuco e de Goiás, mostrando que, apesar dos pés em Goiás, os sons nordestinos não lhe escapam dos ouvidos. Este segundo disco é um trabalho feito a muitas mãos. Começa pelo financiamento: além da verba da Lei Municipal de Incentivo à Cultura, o grupo recebeu mais de R$20 mil captados por meio de financiamento coletivo pela internet. Mais de 200 pessoas apoiaram a campanha Eu Quero Origens e viabilizaram a gravação em Recife. 
A oportunidade de realizar este trabalho na terra do coco proporcionou a produção artística assinada por Juliano Holanda e participações especiais de peso como Siba, A Matinada, Bongar e Lucas dos Prazeres. Juliano Holanda, que também é músico da Orquestra Contemporânea de Olinda, é arranjador, instrumentista e compositor de mais de 100 músicas gravadas.
O outro pé do grupo, contudo, está bem enraizado em Goiás. O CD também conta com as participações de indígenas da etnia Krahô, da Congada Santa Efigênia, de Niquelândia, dos barulhos dos carros de bois de Mestre Reis, de Damolândia e de membros do projeto Ninho Cultural. As violas caipiras goianas também foram registradas no disco pelas mãos de Pedro Vaz e Diego Lobo. 

10 anos
A história do grupo começa na Praça Universitária com um grupo de jovens a fim de fazer música regional e tradicional. Os dois primeiros anos do grupo são marcados pela presença de dezenas de membros e pelo trabalho de ciranda e cantiga de rodas. Até então, as mulheres cantavam e dançavam, e os homens tocavam. Até que Rodrigo Kaverna descobre o coco. 
O ritmo se tornou conhecido pelo grupo por meio de pesquisas de Kaverna na internet. A ideia, inicialmente, era ter uma nova forma de trabalho que fosse mais fácil de ser tocado em bares, por exemplo, para que o grupo conseguisse uma renda para financiar o projeto de cirandas e cantigas. Bastou o primeiro show, no dia 4 de abril de 2008, para que o coco se tornasse o foco principal e paixão do grupo.
Meses depois, o grupo já tocava composições próprias, e foi em julho deste mesmo ano, no Encontro de Cultura dos Povos da Chapada, que Passarinhos do Cerrado conheceu um dos grupos que era referência para eles. Pandeiro do Mestre também tocava no festival e foi o primeiro contato com quem faz coco em Pernambuco. Esse contato proporcionou ao grupo ter acesso aos instrumentos apropriados para tocar coco e conhecer melhor o ritmo – como se toca e se dança. Foi o próprio Nilton, músico fundador do Pandeiro do Mestre, quem voltou em 2011 a Goiânia para assinar a produção do primeiro disco, Coco de Folia.
O primeiro álbum já registrava a ousadia empreendida pelo Passarinhos do Cerrado, que é misturar o coco nordestino com a identidade cultural e musical goiana. “O coco no Nordeste tem essa característica de ser nômade – em Pernambuco, Alagoas, Paraíba; em cada lugar ele tem uma cara diferente. Tem o coco praiano, o coco do sertão. Então nós fizemos essa mistura, que é o coco com o regionalismo goiano, das festas, da religiosidade”, diz Nadia. O novo ritmo surgiu com um tipo de melodia e de letras e uma nova forma de canto. As influências da Congada e da Folia de Reis, sobretudo, estão presentes nesta criação. 
Agora é a vez do público ir mais fundo nas origens do grupo, do compositor principal e da própria história de Goiás. Origens conta com 13 faixas, todas autorais assinadas por Rodrigo Kaverna. O nome que leva o álbum reflete a proposta deste trabalho. As canções remetem às origens, não só do compositor, como do grupo, da música feita por ele e do povo goiano. Por isso a presença de torés indígenas em quatro faixas: Folha Amarela, Primeiros a Chegar, Toré Acirandado, Toré de Abertura/Origens. Essas faixas remetem às origens de Kaverna, bisneto de Avá Canoeiro, e de Goiás. 
Para ele, essas músicas não são apenas memória aos ancestrais, mas uma forma de resistência dessa cultura viva e latente, apesar do genocídio que faz hoje de Goiás um dos Estados com menor número de indígenas do Brasil atualmente. As origens dos goianos, do grupo e de Kaverna também estão expressas nas canções Damolândia, Viola de Violeiro, Coco da Xambá e Bandeira do Divino. As tradições goianas estão registradas neste disco no som dos carros de boi do Mestre Reis, nas violas e nas batidas da Folia de Reis, na congada de Santa Efigênia e na referência ao maior quilombo do Brasil, os Kalunga, em Cavalcante.
A relação da arte com a natureza, presente até no nome do grupo, também aparece nas canções Picapau, Udu de Coroa Azul e Cachoeira. E, no encarte, o passaredo se alvoroça: um conjunto total de 20 espécies de aves é distribuído em todo a arte do CD. Caboclinho, fim-fim, udu de coroa azul, cardeal do nordeste, acauã, canarinho verdadeiro, maracanã, tico-tico, surucuá, coruja buraqueira, picapau de banda branca, bem-te-vi, gralha cancã, andorinha do campo e beija-flor vermelho, tucanuçu, periquito-rei, campainha azul, saíra amarela e seriema.

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