Vinho brasileiro é bom e há quem goste

Especialista promove primeira feira de vinhos em Goiânia e ressalta a qualidade do produto produzido no Brasil

Postado em: 29-10-2016 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Especialista promove primeira feira de vinhos em Goiânia e ressalta a qualidade do produto produzido no Brasil

Jornalista há 30 anos, Rodrigo Leitão é, também, sommelier especializado em enogastronomia há 13. Tudo começou quando ainda era editor de economia e foi convidado a assumir a editoria de cultura do jornal em que trabalhava. Pensando na distribuição das páginas, teve a ideia de criar uma coluna de gastronomia. Assim, pautas sobre vinhos foram surgindo e, com elas, a necessidade de se aprofundar ainda mais no assunto. Foi, então, que começou a fazer cursos e se especializar em vinhos. Com a credibilidade que ganhou, criou a feira de vinhos e espumantes brasileiros Brinda Brasil.
A feira é realizada em Brasília desde 2011 e chega pela primeira vez a Goiânia. O Brinda Brasil começou na sexta-feira (28) e segue no sábado (29). Trata-se de uma ampliação nacional que a feira ganha. Goiânia foi a primeira cidade escolhida, depois de Brasília, pela proximidade com a capital brasileira. A ideia é valorizar a produção nacional de vinhos com a participação de, pelo menos, 12 vinícolas nacionais, além de lojas especializadas de Goiânia. No evento, haverá degustação em doses de 50ml, e exposição e venda de todos os produtos expostos –  tanto para atacado quanto para varejo. Dentre os produtos apresentados pelas vinícolas goianas, estão vinhos, espumantes, grapas, sucos de uva, conhaques e cervejas artesanais.
Com a especialização na bebida, Rodrigo tornou-se, também, blogueiro sobre o assunto. A relação com os vinhos poderia ter começado mais cedo, já que é neto de portugueses, que têm a bebida em sua tradição. Mas confessa que, só depois de se tornar editor de cultura, o interesse apareceu. Ao contrário do que sugere o senso comum, Rodrigo não é , entretanto, um saudosista dos vinhos europeus ou dos vizinhos latinos. Ele tem se engajado em trazer à tona o produto brasileiro e mostrar que tem tanta qualidade quanto os internacionais, apesar de serem marginalizados. 
“O Brasil é o único País em que o vinho não é considerado alimento”, informa. Conforme explica o especialista, somente aqui o vinho entra na categoria de bebidas alcóolicas. Já nos países europeus que têm tradição com vinhos, é acompanhamento alimentar, tanto que está incluso na cesta básica mensal das famílias. Nos países latinos, como a Argentina e o Chile, ocorre da mesma forma que nos europeus. Isso colabora, inclusive, para a economia desses países, pois o vinho é produto da agricultura familiar, fomentadora econômica nacional. A União Europeia é responsável, nacionalmente, por 55% das vendas de vinho.
O sommelier explica que o primeiro motivo de o Brasil categorizar o vinho como alcóolico é a cultura, porque aqui não há essa tradição e, portanto, a bebida acaba ficando na mesma classificação que demais destilados. De acordo com o Decreto nº 6117, de 2007, no País, é considerada bebida alcoólica aquela que tiver concentração de, pelo menos, 0,5% de teor de álcool. O vinho tinto e o espumante, que contêm a menor porcentagem, apresentam 11% de teor alcoólico. Nos outros países, esse índice ainda não é suficiente para serem classificados como bebidas alcoólicas. Por isso são associados à alimentação, o que justifica a cultura de combinação de vinhos específicos com comidas específicas. 
Rodrigo atua, também, no ramo da enogastronomia, ou seja, entende da arte de combinar vinho e comida. Essa harmonização tem importância, inclusive, para a saúde. Segundo Rodrigo, o vinho traz benefícios para a circulação e para o funcionamento cardíaco do corpo. “Quem bebe vinho com frequência pode, inclusive, ficar imune a doenças cardiovasculares com o tempo”, sugere. Ele afirma também que a bebida pode auxiliar no combate ao Alzheimer e diminuir a incidência de infarto. Ou seja, o fomento à sua produção no País traria benefícios tanto para a economia quanto para a saúde.
No Brasil, há essa dificuldade econômica sobre a difusão do vinho, inclusive, por causa do imposto que é maior para a produção interna que para a externa, como menciona o especialista. “Fortalecer a produção interna pode alavancar a economia do País, mas, para isso, é preciso reduzir o valor interno”, explica. As condições climáticas daqui, também, não são as piores para o cultivo das uvas. “A variação climática tem favorecido as uvas brasileiras”, explica. Confessa que houve uma mais dificuldade neste ano, mas que, no geral, as condições são favoráveis. Rodrigo destaca, também, que houve um salto qualitativo nos vinhos brasileiros,  nos últimos cinco anos, e os fatores explicados anteriormente justificam isso. 
Entretanto o consumo de vinhos nacionais por brasileiros ainda é pequeno. “A produção no País é grande, mas, ainda assim, o consumo per capita é de 2,2 litros por ano, enquanto que no Vaticano a produção é menor, mas o consumo é de 54 litros por pessoa anualmente”, exemplifica. Para ele, é preciso incentivar uma cultura contra o preconceito com o vinho nacional. Os vinhos produzidos aqui têm qualidade e a balança para isso é a o próprio gosto. “Não existe vinho bom ou vinho ruim, existe o vinho que eu gosto e o que eu não gosto, mas para saber é preciso experimentar e consumir”, ressalta. Muitas vezes, também, o brasileiro consome o vinho com a comida errada e acaba julgando-o da maneira errada, opina o especialista. Portanto, para ele, é preciso entender que gosto é subjetivo. 

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