A dona do carimbó

Atração do Canto da Primavera, Dona Onete traz seu chamego paraense a Goiás e chama o pernambucano Otto para entrar na festa

Postado em: 29-10-2016 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Atração do Canto da Primavera, Dona Onete traz seu chamego paraense a Goiás e chama o pernambucano Otto para entrar na festa

`Me diga uma coisa: Pirenópolis tá muito quente?” Quem pergunta ao telefone é Dona Onete, diva paraense de 78 anos que estará na cidade goiana, hoje, como atração do Canto da Primavera.  Ao ser informada que sim, mas que cachoeiras geladas a aguardam, ela dá uma risada sonora e diz: “Adoro uma cachoeirinha!”. Dona Onete se tornou uma sensação da música brasileira por cantar carimbó chamegado, uma versão mais sensual do ritmo do Norte do País. Com dois álbuns gravados, ela vem rodando o Brasil e já se apresentou nos Estados Unidos, onde já tem data para retornar. 
A história de Dona Onete é cheia de detalhes peculiares. Professora durante toda a vida, sua estreia no mundo artístico depois de aposentada foi fruto de um acaso. “Eu cantava em casa, mesmo, e um dia eu estava dando ‘uma canja’ numa casa de carimbó. Numa casa em frente, uma banda de rock ensaiava, e eles estavam procurando uma voz feminina. Me ouviram e foram atrás, achando que iam achar uma moça de uns 25 anos. Quando me viram, ficaram meio sem graça. Depois foram à minha casa me procurar, pois queriam que eu cantasse com ele. A princípio eu não queria, mas meu marido me convenceu, e eu gravei duas músicas com eles”, conta.
Desde então, caiu nas graças dos DJs e, com a música paraense em alta, vem conquistando cada vez mais fãs, inclusive entre famosos, como Fafá de Belém e Gaby Amarantos, só para ficar nas divisas de seu Estado. Nascida Ionete da Silveira Gama, em Cachoeira do Arari, interior do Estado do Pará, morou em Belém, onde passou sua infância, e depois em Igarapé-Miri. Foi secretária de Cultura e professora de História e Estudos Paraenses. Também fundou e organizou grupos de danças folclóricas e agremiações carnavalescas. 
A música sempre foi algo que emanava dela rodeava seus dias. Mas ser um dia chamada de ‘diva’ foi algo que nunca ocupou seus sonhos. “Sempre ouvi dizerem ‘você é uma artista, tem uma voz linda’. Mas a música, ao mesmo tempo em que ela é ‘sim’, ela é ‘não’. Então eu não tinha como sobreviver da música,  assim, sem ter garantia de nada”, diz ela. 
No palco, Dona Onete mostra por que é considerada a diva do carimbó chamegado. Suas composições falam de amores e prazeres de forma simples e divertida. E ela se derrete toda ao cantar sobre um tal “moreno morenado” ou ao evocar os efeitos que a jamburana provoca. A cachaça é à base de jambu, erva que faz os lábios tremerem. E ela treme junto com a cantiga, numa das manifestações mais festivas desse Brasil. E foi assim, com esse dengo todo, que ela foi parar nos “esteites”. 
“Não sei nem o que dizer”, ela responde quando a pergunta é sobre os shows nos Estados Unidos. Mas ela tenta: “A cultura do Pará foi transbordando pela Amazônia”. Fato é que ela fez shows em Chicago, Albuquerque, Cleveland e Nova York, onde já tem novos shows agendados. “Dessa vez, não é em uma casa não, é no Central Park”, ela explica. E os gringos? Caíram no carimbó? “Até os mais velhos tremeram”.
A artista – “eu sou mais compositora que cantora” – só fica séria quando fala sobre a situação dos idosos no Brasil. Ela diz que ainda não é possível envelhecer, dignamente, com tantas demandas ainda por serem supridas – como locomoção, medicamentos, atendimento público de saúde. “As pessoas precisam se preparar para envelhecer”, ela conclui.
E nada de achar que ela é uma velha muito vaidosa. “Eu passo um batom no meu beiço, deixo meu rosto arrumado, mas nada de sair como se eu fosse propaganda de uma casa de tintas”, diz, e emenda: “Quem faz minha maquiagem sou só eu, porque não gosto de muita coisa”. Sobre o epíteto de diva, ela ressalta que “desde que não falem coisas que me abalem, pode chamar do que quiser”. Porque, para ela, tanto faz cantar em uma cidade do interior de Goiás ou em um teatro lotado em Cleveland. “Eu só quero falar do meu Brasil e do meu Pará”. 

Canto da Primavera
O Canto da Primavera segue em sua segunda semana em Pirenópolis. No domingo, Moraes Moreira e Davi Morais encerram a festa. Mas na noite de sábado, (29) Dona Onete é a grande atração – ao lado do cantor pernambucano Otto. “O Otto é meu amigo já de alguns anos e ele vai cantar umas músicas minhas, outras dele, mistura um bocado de coisa”, resume ela, do seu jeito, o que vai ser o repertório do show.
Para representar a força musical de Dona Onete, uma banda acompanha a cantora em suas apresentações. Além do guitarrista Pio Lobato, talento da música paraense e que também assina a produção musical do show, se apresentam com ela o baterista Vovô, Breno Oliveira no contra baixo, JP na percussão amazônica, e Daniel Serrão no teclado e no sax. E, para ficar ainda mais animado, Dona Onete repete a experiência criada para o Festival Mesa Brasil (MG) deste ano, convidando toda a musicalidade e pluralidade de Otto para o palco.
O músico recifense começou sua carreira como percussionista das bandas Nação Zumbi e Mundo Livre S/A, estreou na carreira solo com o disco Samba pra Burro (1998) e, desde então, não parou mais. Suas canções são marcadas pelo resgate de ritmos brasileiros somados à música eletrônica, numa fusão de rock e mangue beat que arranca elogios dentro e fora do Brasil.
No Canto da Primavera 2016, além da dobradinha para o show da noite de sábado, Dona Onete também participa de roda de conversa sobre sua carreira musical e a cultura paraense, ao lado de Geraldinho Magalhães, empresário da cantora e de outros artistas,  como Maíra Freitas, que também se apresenta no festival.

SERVIÇO:
Roda de Conversa com Dona Onete e Geraldinho Magalhães
Quando: 29 de outubro
Horário: 10h
Onde: Teatro Sebastião Pompeu de Pina (Pirenópolis-GO)

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Show Dona Onete convida Otto
Quando: 29 de outubro
Horário: 10h
Onde: Palco Principal (Pirenópolis-GO)

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