‘A Chegada’ com cheirinho de Oscar

No filme ‘A Chegada’, o diretor Dennis Villeneuve explora a ficção cientifica pela primeira vez como se fosse uma velha amiga de infância

Postado em: 29-11-2016 às 11h00
Por: Redação
Imagem Ilustrando a Notícia: ‘A Chegada’ com cheirinho de Oscar
No filme ‘A Chegada’, o diretor Dennis Villeneuve explora a ficção cientifica pela primeira vez como se fosse uma velha amiga de infância

Toni Nascimento

A Chegada estreou na última quinta-feira (28) como o
primeiro filme da temporada de premiações a estrear como promessa e com um
grande potencial para o Oscar 2017. Diferente da onda de longas Blockbuster e
filmes pipoca que chegam para preencher todas as salas de cinema, a obra de
Dennis Villeneuve rema contra a maré e se impõe com uma pegada filosófica.

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A trama acompanha a Dra. Louise Banks (Amy Adans), linguista
escolhida pelo governo dos Estados Unidos para tentar entender a língua usada por
extraterrestres, que chegaram divididos em 12 óvnis espalhados pelos quatro
cantos do mundo. Ao lado de um físico interpretado por Jeremy Rendel, a
protagonista tenta entender o que as criaturas querem dos seres humanos
enquanto lida com um trauma da sua vida pessoal.

O filme não tem medo de trabalhar todos os seus elementos
com muita calma e cuidado, investindo em uma trama intimista que está sempre
trabalhando – apesar de sua escala global – as angustias humanas mais primárias
como a passagem do tempo, o amor, a perda e a morte. A lentidão do filme pode
ser encarada pelo público médio como um erro de timing, mas Villeneuve deixa
claro que não. As cartas são jogadas na mesa logo quando Dra. Louise entra pela
primeira vez na nave alienígena com sua equipe, que sem gravidade, coloca os
personagens de cabeça para baixo como se fosse natural. A cena dura em média
uns 10 minutos e é composta de pura exploração, até para os telespectadores, já
que a sequência é quase ausente de diálogos.

A cena retratada também tem outra função: subverter as
regras narrativas. Um dos princípios da linguagem alienígena é a falta de
linearidade, característica que além de representada no roteiro ao longo de
toda a duração do filme, está inserida na própria narrativa do longa, que
brinca de maneira sutil e bonita com a forma que uma história pode ser contada.

Temos aqui a alma do filme, que é a comunicação. Se a
chegada de seres externos é difícil de entender pela diferença de linguagens,
Villeneuve faz questão de ressaltar que o homem não consegue se comunicar nem
entre si em primeiro lugar. Se a comunicação é tão importante assim para a
sobrevivência, ela também funciona como ferramenta para a manutenção das
relações humanas.

A ficção cientifica sempre foi famosa por retratar realidades
surreais, totalmente inventadas e às vezes utópicas para tratar de assuntos
totalmente reais e pontuais da existência humana e sua organização, e aqui ela
faz isso com extrema eficiência e precisão.

É exatamente ai que Villeneuve acerta a mão, quando ele fala
de questões da linguagem, da comunicação e dos sentimentos humanos dentro de um
filme de ficção cientifica. E se como um bom drama ele já marcaria o público a
ponto de ser um novo clássico do cinema, ao se inserir dentro da ficção ele se
torna um dos maiores filmes do gênero cinematográfico de todos os tempos e o
maior dos últimos anos. As tomadas aéreas conseguem transmitir a
grandiloqüência das naves enquanto também ajudam na ambientação e no tom,
tornando-se essencial para tornar o filme aquilo que ele é.

Filmografia sólida

Quando Incêndios estreou em 2013 já era possível notar uma
fagulha de maestria na direção de Dennis Villeneuve.  O canadense de 49 anos é especialista em planos
close-ups, com uma câmera capaz de captar todas as angustias e questionamentos
humanos, possibilitando manter um clima intimista e sensível em qualquer gênero
cinematográfico que ele decidir visitar.

O diretor se mostra completamente ciente da sua capacidade,
tanto que os seus últimos cinco filmes trabalham em gêneros totalmente
distintos: Villeneuve passou pelo thriller psicológico de Os Suspeitos, ao
drama filosófico de O Homem Duplicado, todos os dois em 2013. Em 2015
presenteou o cinema com uma trama sobre tráfico em Sicário – Terra de Ninguém.

Apesar de Villeneuve estar explorando a ficção cientifica
pela primeira vez como se fosse uma velha amiga de infância, o mérito precisa
ser dividido entre toda a equipe. A fotografia acerta no tom acinzentado que
passa todo o peso e a nostalgia necessária. A ambientação também é eficaz e a
limitação geográfica eficiente até para demonstrar a passagem do tempo.

Amy Adams é uma estrela a parte e transforma sua personagem
em uma mulher determinada e cheia de dor. A sua atuação unida à câmera pessoal
de Villeneuve ajuda a transparecer na tela todas as emoções da personagem e do próprio
longa. Talvez ela não seja indicada a melhor atriz por esse filme, já que está
cotada para disputar a vaga por Animais Noturnos. Porém é quase certo que as
categorias de melhor filme, melhor direção e melhor roteiro adaptado já podem
contar com A Chegada, um filme que entrará para a história do cinema em uma
posição invejável.  

Foto: divulgação 

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