Autoras de dezembro

Conheça cinco aclamadas escritoras que possuem em comum muito mais do que o amor à literatura

Postado em: 10-12-2016 às 16h00
Por: Sheyla Sousa
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Conheça cinco aclamadas escritoras que possuem em comum muito mais do que o amor à literatura

Natália Moura

Que lugar de mulher é onde ela quiser, nós já estamos cansados de saber. Se você não acredita nisso, é melhor rever seus conceitos. Temos inúmeros exemplos de mulheres maravilhosas que conquistaram o mundo com seus méritos, mesmo com todos os obstáculos da nossa sociedade patriarcal. Se em 2016 lidamos com machismo, imagine como foi para uma camponesa do sul da Inglaterra enfrenta-lo quando se mostrou uma exímia escritora em 1775! Ou com o que uma garota tímida de uma comunidade puritana estadunidense teve de lidar quando ousou ao escrever poesias em pleno ano de 1830! Garota essa que nasceu no mesmo dia e mês – mas 90 anos antes – que a escritora mais aclamada da literatura do nosso País, a garota de Chechelnyk, Ucrânia, criada brasileira, e inspiração de tantas outras garotas na hora de escrever. Talvez ela tenha sido uma inspiração para outra maravilhosa poeta, ainda viva, que soltou os cachorros direto do interior de Minas Gerais e conquistou o Brasil – assim como a ex-freira paulista, que estreou na literatura apenas neste século, mas com certeza já deixou sua marca registrada. 

Antes de contar mais sobre essas grandes escritoras, as quais as vidas se entrelaçam, é preciso deixar claro que, além da literatura – e, claro, de serem mulheres –, elas têm em comum o fato de terem nascido no mesmo mês: dezembro. Jane Austen nasceu no dia 16 de dezembro de 1775, exatos 54 anos e 359 dias antes de Emily Dickison. Poeta que, se tivesse vivido até os 90 anos, comemoraria seu aniversário no dia em que Clarice Lispector nasceu, em uma pequena aldeia da Ucrânia, enquanto seus pais fugiam do horror da guerra em 1920. Clarice tinha recém completado 15 anos quando, em Divinópolis (MG), Ana Clotilde Corrêa dava à luz sua filha, Adélia Prado, no dia 13 de dezembro de 1935. Passados sete anos, nascia no litoral paulista, mais especificamente na cidade de Santos, a romancista e contista Maria Valéria Rezende. Se você não está convencido de que essas mulheres merecem estar aqui reunidas, eu só faço um adendo: todas elas – mesmo que em épocas tão diferentes – pertencem ao movimento modernista. E são pelos motivos listados que o Essência relembra, agora, a trajetória dessas mulheres na literatura. 

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 Jane Austen – Mesmo que você nunca tenha lido nenhum livro de Jane Austen, as histórias criadas por ela, com certeza, chegaram de alguma forma até você. Assim como as obras de seu conterrâneo, William Shakespeare, as de Austen são clássicas e foram feitas adaptações e releituras delas por teatro, cinema, música e outras diversas manifestações de arte. Jane Austen começou seu amor pela escrita ainda na adolescência. Assim como a maioria de seus personagens, Jane cresceu em uma zona rural na Inglaterra. A escritora – considerada a primeira romancista modernista da Inglaterra – é muito criticada por ser ‘conservadora’ em seus livros, mas ao mesmo tempo é ambígua por trazer ao centro de suas histórias personagens femininas fortes. O pai de Jane era sacerdote, e ela teve seis irmãos e uma irmã mais velha, Cassandra, com a qual era muito intima. O único retrato conhecido de Jane Austen é um esboço feito por Cassandra – que atualmente se encontra na Galeria Nacional de Arte em Londres. Em 1801, a família mudou-se para Bath. Jane nunca se casou. Escreveu seu primeiro romance, Lady Susan, aos 17 anos: uma paródia do estilo sentimental de Samuel Richardson. Seu segundo livro, Prideand Prejudice (1797) – em português, “Orgulho e Preconceito” –, tornou-se sua obra mais conhecida, embora, inicialmente, tenha sido malvisto pelos editores, o que a levou a ser descriminada no meio editorial, por algum tempo. Depois, conseguiu publicar o romance Sense and  Sensibility (1811)– em português “Razão e Sensibilidade” –, cujo sucesso levou à publicação. Jane Austen também é a autora de Mansfield Park (1814), Emma (1816), Persuasão (1818) e Abadia de Northanger (1817). Jane Austen morreu em Winchester, Inglaterra, em 1817. 

Clarice Lispector – Como não amar Clarice? É uma das escritoras mais aclamadas da literatura modernista e de sua geração. Clarice chegou ao Brasil ainda bebê. Seus pais vinham da Ucrânia fugindo do holocausto. Nascida Haia, que significa “luz” em ucraniano. Toda sua família teve o nome trocado ao chegar ao nosso País. No Brasil, Clarice se considerava como pernambucana por ter morado no Estado desde seus 2 anos de idade. Ela é tida mundialmente como a maior escritora judia depois de Franz Kafka. Sua obra, de caráter subjetivo, surpreende pela linguagem e sutileza de como analisa o mundo. Com foco no inconsciente, a autora era romancista, contista e jornalista. Seu romance de estreia intitulado Perto do Coração Selvagem (1943) é conhecido por marcar o estilo introspectivo da autora. Clarice também escreveu os romances: O Lustre (1946), A Cidade Sitiada (1949), A Maçã No Escuro (1961), A Paixão Segundo G. H. (1964), Uma Aprendizagem ou O livro dos Prazeres (1969), Água Viva (1973) e Um Sopro de Vida (1978). A novela A Hora da Estrela (1977), foi sua última obra publicada em vida. Ela também possui uma extensa obra de contos, crônicas e artigos.   

Maria Valéria Rezende – O romance de estreia de Maria Valéria Rezende, Vasto Mundo, foi publicado em 2001. Mas Maria Valéria possui muitas histórias além da literatura para contar.Após o golpe de 1964, a escritora abrigou na sua casa militantes que lutavam contra o regime militar. Em 1965, ela entrou para a Congregação de Nossa Senhora – Cônegas de Santo Agostinho, onde se formou freira. Sempre se dedicou à educação popular – primeiro, na periferia de São Paulo, e, a partir de 1972, no Nordeste. Viveu no meio rural de Pernambuco e da Paraíba e, desde 1986, mora em João Pessoa. O sertão nordestino é um dos elementos mais  retratados em suas obras. Já esteve em Angola, Cuba, França e Timor – dentre outros países – convidada a falar sobre seus projetos sociais. Além de romancista, Maria Valéria é contista e escritora de livros infanto-juvenis. É autora dos romances O Voo da Guará Vermelha (2005),  Quarenta Dias (2014) e Outros Cantos (2016). A escritora pertence ao movimento pós-modernista. 

Adélia Prado – Nascida em Minas Gerais, Adélia Prado era filha de João do Prado Filho, ferroviário, e de Ana Clotilde Correa. Estudou no Grupo Escolar Padre Matias Lobato. Escrevia seus primeiros versos já aos 14 anos. Formou-se professora e tem cinco filhos. Ela publicou seus primeiros poemas em jornais de Divinópolis e de Belo Horizonte. Sua estreia individual, só na literatura, veio em 1975 com o livro de poemas Bagagem. Adélia impressionou o público por seu estilo e originalidade. Com O Coração Disparado (1978), conquistou o Prêmio Jabuti de Literatura, conferido pela Câmara Brasileira do Livro. A escritora também publicou os livros: Solte Os Cachorros (1979), Cacos Para Um Vitral (1980), Terra de Santa Cruz (1981), Quero Minha Mãe (2005), A Duração do Dia, (2010) e Carmela Vai à Escola (2011). 

Emily Dickinson – No Brasil, as obras de Emily Dickinson não são muito fáceis de achar. Sua escrita é considerada poética, ambígua, irônica, fragmentada, eé aberta a várias possibilidades de interpretação. Emily antecipou os movimentos modernistas que se sucederiam, depois de sua morte, em 1886. Nascida e criada na pequena cidade de Amherst, perto de Boston, EUA, Emily viveu ali a vida toda. Sua região era uma das mais puritanas e conservadoras dos Estados Unidos. Dickinson nunca publicou seus versos em vida. Foi sua irmã Lavínia, que após a morte da poeta, cuidou de seus escritos. Em 1955, o crítico e biógrafo de Emily, Thomas H. Johnson, reuniu em uma edição definitiva todos os 1.775 poemas da autora. 

 

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