Segunda-feira, 01 de julho de 2024

Projeto interartístico leva para as ruas dramatizações de conflitos sociais

Artistas goianos de todas as vertentes se uniram para realizar intervenções nas ruas da Capital

Postado em: 11-01-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Artistas goianos de todas as vertentes se uniram para realizar intervenções nas ruas da Capital

Natália Moura

A discussão sobre o que é, e o que não é arte é antiga. Talvez a ideia mais aceita, hoje em dia, seja de que existam ‘as’ artes. No início, elas eram aceitas como apenas 6. Música, Artes Cênicas, Pintura, Escultura, Arquitetura e Literatura foram alcançadas pelo Cinema – a conhecida Sétima Arte – após um bom tempo. Depois, em forma de manifesto, outras foram inseridas ao conjunto: Fotografia, História em Quadrinhos, Jogos de Vídeo e Arte Digital completam as 11 artes. Quando pensamos em cada uma delas, assim como em sua classificação, elas estão separadas. Pensamos na Música sozinha. No Teatro e na Dança separados, ou pelo menos, não necessariamente juntos. Esse desmembramento da arte, ou das artes, é reflexo do nosso mundo – e de nós mesmos -, onde o isolamento das coisas é tão comum.

‘Esse Tal’

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Na contramão do nosso isolamento surgiu em Goiânia, no ano de 2014, um projeto interartístico chamado Esse Tal. A bailarina Vanessa Voskelis e o músico Adriel Vinícius depois de um ‘insight’ resolveram unir suas artes e fazer… arte. O nome veio da música homônima de Transcendente Missão (2014), primeiro álbum solo de Adriel, que também é compositor. No início, as apresentações eram feitas apenas pelo casal que, com o tempo, percebeu que Esse Tal ia além da união da dança dela e da música dele. Por isso, os dois decidiram incorporar outras artes ao projeto como o teatro, a performance e, até mesmo, a pintura. 

“Quando eu vivia tentando sair

Da ignorância na qual eu cresci

Eu nem sabia que ela serve

Pra me proteger”

Assim surgiu um novo braço do projeto o Esse Tal Convida. Nele vários artistas goianos de todas as vertentes se uniram e começaram a fazer intervenções nas ruas da Capital. “Hoje eu chamo o Esse Tal de companhia, mesmo sendo uma companhia de duas pessoas fixas e de outras pessoas transeuntes”, afirma Adriel que também comenta que o projeto sempre está em interação com outras pessoas. No processo de criação de uma nova performance, a companhia utiliza dois critérios fundamentais: compor algo que toque a eles mesmo e que, ao mesmo tempo, faça uma ponte com quem os observa. 

“Vi depois de um tempo sendo infeliz

Que a ciência que eu tanto quis

Me fez deixar rir a vida e não a querer viver”

Esse processo de criação é normalmente concebido em conjunto. Ele se baseia na junção da música e da dança. O intuito do Esse Tal é a aproximação de todos os públicos, inclusive os que, ‘erroneamente’, possam enxergar a dança como algo restrito a um grupo específico. 

“Não levo mais jeito pra ser esse tal

Que sempre teme algo surreal

E se baseia a ser levado a conhecer”

Esse “corpo que questiona” tem tudo a ver com a companhia. Quando eles estão em cena, a dramatização feita se baseia sempre em conflitos sociais. “É uma arte bem marxista, não porque a gente quis que fosse”, conta a bailarina ao se lembrar das apresentações já feitas pelo Esse Tal. Segundo ela, eles sempre acabam questionando as classes, os preconceitos e as segregações em suas criações. A última apresentação do grupo, Cale-se, foi feita como uma intervenção no Centro de Goiânia. Em conjunto com dois bailarinos e um artista plástico, a performance se tratava do momento político atual do Brasil e do mundo, que vai do ato de ‘se calar’ até o Cálice de Chico Buarque. 

“Vi que sendo simples serei mais feliz

Já que a volúpia simplesmente quis

A tantos tolos revela seu doce

Que é o surpreender”

Mas segundo eles, a apresentação que mais marcou os dois foi A Dor de Ana. No drama é contada a história de uma mãe nordestina, que perde seu filho para a seca do nordeste do Brasil. A apresentação foi levada ao Teatro Sesi, Teatro Sesc, Basileu França, Sarais e para cidades no entorno de Brasília. Adriel lançou seu segundo álbum solo Prazer, Meu Nome é Via-Láctea ano passado. Por enquanto, os dois ainda estão reverberando o Cale-se, e enquanto isso, seguem com seus projetos pessoais. Adriel faz show no formato “quanto vale o show?” no próximo domingo (15), no Evoé Café com Livros.

“Silêncio” 

*Os versos em itálico são da música Esse Tal de autoria do músico Adriel Vinícius, presente em seu álbum “Transcendente Missão (2014)”. 

* Edição realizada às 13h 31min para acréscimo de informações e esclarecimento. Pedimos desculpas ao projeto “Esse Tal”, a Vanessa Voskelis e ao Adriel Vinícius, pelos erros na hora da decupagem da entrevista. Afirmamos que o Jornal O Hoje, e o caderno de cultura e variedades do mesmo, o Essência, não quer limitar a arte de maneira alguma e se passamos esta impressão pedimos desculpas mais uma vez. 

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