O cinema de todas as pátrias

Cineclube Imigração estreia mostra de filmes de diferentes nacionalidades que contam a história da democracia – ou a falta dela – no Brasil, Uruguai e Argentina

Postado em: 12-01-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: O cinema de  todas as pátrias
Cineclube Imigração estreia mostra de filmes de diferentes nacionalidades que contam a história da democracia – ou a falta dela – no Brasil, Uruguai e Argentina

Júnior Bueno

O Cineclube Imigração começa uma nova etapa a partir de hoje(12), às 19 horas, na Vila Cultural Cora Coralina. Com a parceria da Lei de Incentivo à Cultura da Prefeitura de Goiânia, tem início o Ciclo de Cinema Político Latino-Americano. O clube, que procura estimular a criação do cineclubismoem Goiás, desde sua criação em 2014, programou três longas de diferentes nacionalidades que possuem em comum o fato de dialogarem com a história da democracia no Brasil, na 

Continua após a publicidade

Nesta quinta-feira, 12, às 19 horas, o filme é Estado de Sitio (1972) de Costa-Gravas, um filme que denuncia a influência dos Estados Unidos nos governos latinoamericanos na década de 70. Na sexta-feira, 13, às 19 horas, o filme argentino A História Oficial (1985), premiado com o Oscar ao melhor filme estrangeiro, do diretor Luís Puenzo, denuncia os cosas de sequestros de crianças de filhos de desaparecidos-políticos na violenta ditadura argentina. Para finalizar o filme brasileiro, Quase Dois Irmãos (2004) da diretora Lucia Murat, no sábado, 14, às 14 horas. O filme retrata a vida de dois amigos que vivem o mesmo momento histórico só que um segue a vida políticas e outro segue a marginalidade.

A curadoria foi realizada pelo professor Francisco LilloBiagetti, mestre em Ciências Sociais pela  UniversidadeArcis, do Chile. Segundo ele, “a escolha dos filmes se dá pela necessidade de mostrar a debilidade da cultura democrática nospaises latino-americanos”. O filme do diretor greco-francês Costa-Gravas, Estado de Sitio, por exemplo é um clássico do cinema político. “Os estudantes de sociologia, história e filosofia dos anos 80, vivíamos assistindo Costa-Gravas e lendo Eduardo Galeano, claro lendo também, Brasil Nunca Mais organizado por Paulo Evaristo Arns e Olga de Fernando Moraes. Os jovens hoje não conhecem essa filmografia e muito menos se interessam por uma aproximação a essas leituras”. 

A história se baseia em fatos reais: o sequestro no Uruguai do agente americano Dan Mitrione e do cônsul brasileiro Aloysio Gomide pelos Tupamaros, em 1970. O filme foi filmado no Chile, então governado por Salvador Allende. Estado de Sitio é um filme intrigante, panfletário e pode ser associado a filmes como Pra Frente Brasil de Roberto Farias ou O Bom Burguês de Osvaldo Caldeira, que tratam o tema da denúncia aos atropelos aos Direitos Humanos, a guerrilha urbana e a falta de perspectivas de uma juventude sem futuro político.

A Historia Oficial, filme do argentino Luiz Puenzo, premiado com o Oscar deMelhor Filme Estrangeiro, foi escolhido por tratar do processo de transição na Argentina do sistema ditatorial que cai em desprestigio depois da derrota na Guerra das Malvinas.Um conflito internacional gerado para desviar o foco dos 25 mil desaparecidos políticos num período de tempo tão curto (1976-1982) que faz de Argentina uma das ditaduras mais violentas das Américas. 

O filme conta a história de uma professora da classe média argentina que descobre que a criança que adotou pode ser filha de presos políticos da ditadura militar. Aescolha do filme de Puenzo, se dá pela beleza do filme e a esperança de reencontrar-se com a história e a família.

Nas últimas décadas o Brasil produziu muitos filmes e documentários sobre a ditadura militar brasileira, mas no caso de Quase Dois Irmãos de Lucia Murat, o filme consegue transitar nos anos de rebeldia, passando pelos anos de chumbo e acaba analisando nossa consolidada democracia e os sobreviventes revolucionários que se embriagaram com o poder. 

No longa, Miguel é um senador que decide reencontrar Jorge, amigo de infância e atualmente poderoso traficante de drogas do Rio de Janeiro, para negociar um projeto social nas favelas. De origens diferentes, eles se tornaram amigos na década de 1950. Nos anos 70, reencontraram-se na prisão de Ilha Grande, onde os prisioneiros políticos e presos comuns dividiam o mesmo espaço.

O Ciclo de Cinema Político Latino-Americano tenta colaborar com a valorização e importância da democracia em sociedades com modelos políticos tão frágeis que devem ser conquistados a cada eleição, manifestação e organização civil. A participação política nas escolas, nos clubes e nas organizações sociais devem formar indivíduos que não sejam manipulados e com senso crítico.

 

Veja Também