Novos caminhos para a leitura

Natália Moura

E diversas discussões sobre leitura, a suposição de “fim do livro impresso” é levantada como pauta. Alguns acreditam, que com os avanços da tecnologia, ele logo será extinto. Da mesma maneira como acreditaram que o rádio sumiria com a invenção da televisão, e o jornal impresso desaparecia com os sites de notícia, o que não aconteceu (ou ainda não). Talvez seja muito cedo para prever o fim do livro impresso, e mais ainda, atribuir a culpa disso ao avanço da tecnologia. O que vemos hoje, na realidade, são novas reformulações para este livro em um contexto em que as tecnologias têm tido papel fundamental. 

Uma dessas reformulações são os clubes dos livros virtuais para assinantes. Esses clubes são um novo tipo de serviço e possuem diversos perfis. Neles, existe uma curadoria do livro de cada mês, e é inserida à experiência literária outros produtos além da obra. Como cartas do curador, revistas ou zines, brindes, e outros. Os clubes têm sido muito procurados pelos amantes da literatura, ao mesmo tempo em que colocam os livros impressos em evidência para novos públicos. Além disso, o serviço possui outro segmento fundamental: despertar o interesse das crianças para a literatura. 

Existem clubes especializados – e eles são maioria – só em literatura infantil. Alguns dos mais famosos são: Leiturinha, um serviço que pretende atingir não só as crianças, mas provocar toda a família com uma nova experiência literária e já possui mais de 25 mil assinantes; O clube A Taba, especializado em literatura infantil e juvenil, é formado por curadores independentes que buscam livros além do apelo comercial; Booxs, formado por pedagogos, escritores, psicológos, professores, contadores de histórias e especialistas em educação infantil que selecionam livros e produzem atividades para enviar aos pequenos assinantes.

Um dos mais conhecidos clubes, para gente grande, é a Tag – Experiências Literárias. Com proposta de conquistar o público que ama ler, a Tag contrata todos os meses um curador diferente, sempre alguém que é referência no cenário cultural. Essa pessoa indica um livro que marcou sua vida, e é produzida uma revista que possui curiosidades sobre o curador, a obra e a história dos dois juntos. No kit também é colocado um marcador personalizado e outro ‘mimo’ literário. O clube também disponibiliza plataformas de interação entre os associados. 

O psicanalista Bruno Fiuza assina o serviço há quase um ano, e conta que a idéia de receber um livro diferente indicado por uma pessoa relevante no meio cultural o atraiu. “Sou apaixonado por literatura e a ideia me interessou. Assim eu conheceria livros que muitas vezes não chamariam minha atenção espontaneamente”, afirma Bruno sobre o Clube. Ele se diz satisfeito com todos os livros que recebeu, mas conta que já possuía um dos exemplares, por isso, este foi trocado. “Todo mês ao final da revista que acompanha o kit, o próximo curador dá uma dica sobre o próximo livro, e se você adivinhar e já tiver eles dão algumas opções de troca”, comenta Fiuza. 

Os elementos surpresa do kit chamam muito a atenção do público. A professora Ana Carolina de Deus conta que decidiu assinar o Clube por causa disso, mas também pelo fato dos livros indicados fugirem dos blockbusters mais vendidos. Já a estudante de direito Laura Rodrigues procurou o serviço para “sair de sua zona de conforto”. Segundo Laura, na hora de escolher a sua próxima leitura, ela sempre acabava lendo o mesmo tipo de narrativa. “Confesso que as edições especiais e os mimos foram fatores de peso”, finaliza sobre sua escolha. 

Garimpo     

Com uma proposta um pouco diferente, o Garimpo Clube do Livro surgiu no mercado em setembro de 2016. A escritora Julia Wähmann, uma das fundadoras do Clube, conta que a ideia, no entanto, já rondava a cabeça de Gustavo Barbeito (empresário e financista do serviço), há algum tempo. Wähmann trabalhou como editora na Rocco por 4 anos, e quando saiu, no fim de 2015, discutiu com Barbeito sobre a criação do clube. “Ele já tinha todo o plano de negócios pronto e os meios para viabilizar a empreitada, e eu tinha a experiência do mercado editorial e de, informalmente, indicar e sugerir livros para pessoas próximas”, relembra Julia. 

O Garimpo oferece opções de clubes de diferentes perfis para os clientes. Dentre eles estão o Leia Mulheres (que coloca em evidência livros escritos por mulheres), Humor e Amor (que pretende levar risadas aos assinantes), Ficção, Poesia, Negócios e os clubes infantis (por faixa etária). A escolha de criar os clubes e não o clube, segundo Julia, se deu porque eles acreditam na diversidade de leitores. “Criar clubes com perfis distintos, mas com temas ou propostas minimamente delineados, amplia as chances de acertarmos e criarmos elos e confiança com os assinantes. É difícil generalizar e achar que um livro X possa agradar a todos”, completa a escritora. 

Cada um dos clubes possui um curador diferente. O mais recente, Leia Mulheres foi lançado neste mês, e é uma parceria do Garimpo com o movimento internacional #ReadWomen. O movimento leva às cidades clubes do livro (a moda antiga) em que são lidos apenas escritoras. A curadoria deste clube no Garimpo é feita pelas percussoras do Leia Mulheres no Brasil, e mediadores do clube em São Paulo, Juliana Gomes, Juliana Leuenroth e Michelle Henriques. “A proposta de tirar as mulheres escritoras da sombra do mercado dominado por autores homens é maravilhosa e fundamental nesses tempos em que o feminismo volta feroz e cada vez mais necessário”, afirma Julia sobre a nova parceria.

De acordo com ela, no processo de escolha os curadores têm liberdade total e não existe vínculo com uma só editora. “Temos uma limitação de preço, mas dentro da margem estabelecida, estamos totalmente à vontade para escolher”, finaliza. O kit do Garimpo Clube do Livro é composto pelo livro do mês, uma carta do curador do clube e brindes eventuais que vão desde produtos de papelaria a zines, ou outros formatos de publicações. Julia também conta que os clubes com mais procura são os infantis, o de ficção e o Leia Mulheres, que mesmo com pouco tempo de lançamento têm tido uma procura imensa. “Aos poucos estamos ampliando nossos canais de comunicação com o público, e dentro de algum tempo queremos fazer encontros presenciais”, afirma. 

Para a escritora, o Garimpo Clube do Livro possui a missão de levar aos leitores livros que fujam da listas de best-sellers. Segundo ela, hoje no Brasil as grandes livrarias privilegiam os grandes títulos, por já terem um bom público no exterior (traduções) ou por já serem de autores consagrados. “As editoras têm catálogos fantásticos, cheios de livros que acabam tendo pouca chance de exposição, pouca mídia. Livros de pequenas e médias editoras também têm pouquíssima chance de êxito, e nem sempre têm distribuição”, declara a autora que finaliza que a tentativa do Garimpo é abrir novos caminhos neste mercado editorial.