O Dia Internacional da Mulher é um dia de luta!

Além de flores e bombons, a história e a importância desta data tem a ver com a vida e os direitos de todas as mulheres

Postado em: 04-03-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Além de flores e bombons, a história e a importância desta data tem a ver com a vida e os direitos de todas as mulheres

NATÁLIA MOURA

O Dia Internacional da Mulher é uma data feminista. Talvez a maioria das pessoas não acredite nisso. Seja pela ideia errada que se tem da data nos dias atuais, no Brasil, ou pela ideia errada que se tem sobre o que é feminismo. Não há como falar deste dia sem falar – direta ou indiretamente – sobre a luta feminista, nem que seja a omitindo. De acordo com a historiadora e professora da Universidade Federal de Goiás (UFG) Ana Carolina Eiras Coelho Soares, o Dia Internacional da Mulher é uma ideia presente nas lutas feministas desde o início do século 20. “Este dia esteve ligado à luta das mulheres trabalhadoras,  em diversos países, que reivindicavam, fundamentalmente, melhoria nas condições de trabalho, direitos trabalhistas e direito de voto”, conta a historiadora. 

De acordo com Ana Carolina, o primeiro grande marco para a criação da data aconteceu, na Rússia, em 1917. No dia 8 de março daquele ano (23 de fevereiro pelo calendário juliano), as operárias russas do ramo da tecelagem entraram em greve. Esta ação foi considerada pelo revolucionário soviético Leon Trótski como “o primeiro grande momento da Revolução de Outubro (segunda fase da Revolução Russa)”. Aqui no ocidente, a data começou a ser reivindicada pelas feministas na década de 1960. Segundo Ana, criou-se um mito de que isso se deu por conta de um incêndio em uma fábrica de tecidos estadunidense, em que 129 operárias morreram tragicamente no ano de 1857. “De fato, houve um terrível incêndio de uma fábrica têxtil em Nova York, mas ele ocorreu em 1911, no dia 25 de março”, explica.

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Mas muitos outros eventos e situações como esta motivaram a criação da data. Ana Carolina conta que o Dia Internacional da Mulher foi criado para que houvesse entendimento e combate às desigualdades presentes na sociedade, e que permanecem até hoje. “A data foi pensada para marcar um espaço de reflexão e ação sobre as questões trabalhistas, condições cotidianas de vida e violências de todo tipo que as mulheres sofreram e sofrem”, relata. E para isso o feminismo – ou “os feminismos” – é essencial. Para Ana, “ainda há muito desconhecimento e preconceitos arraigados sobre os ‘feminismos’ e sua importância para uma sociedade mais justa e igualitária”. Segundo ela, mesmo a luta feminista tendo percorrido um longo caminho, assim como no século passado, ainda há muita coisa que as mulheres precisam reivindicar para viverem de uma maneira mais igualitária e justa.  

Data comercial

Assim como em outros feriados, o Dia Internacional da Mulher sofreu uma alteração de sentido graças ao comércio. Por isso muita gente acredita que o dia foi feito para presentear as mulheres especiais da vida, espalhar florzinhas e receber cupons de promoção. Mas, graças à internet e a – talvez – quarta onda do feminismo, nos últimos tempos essa data tem voltado ao seu sentido original. “Embora o Dia Internacional da Mulher tenha se tornado comercial, ele vem sendo reivindicado pelos movimentos feministas para ser um momento de ação/debate/reflexão/conscientização da sociedade”, declara Ana Carolina. Segundo ela, a necessidade de se mudar padrões culturais que naturalizam as diferenças e legitimam as desigualdades sociais é urgente. 

Em um formulário feito pelo Essência sobre o 8 de março – respondido por cerca de 30 mulheres –, é possível ver essa mudança de sentido voltando ao original. A maioria das respostas da pergunta “O que o Dia Internacional da Mulher representa para você?” tem a ver com a palavra “luta”. Uma das participantes respondeu: “É só mais uma ‘data’ que seria para nos homenagear, mas que nunca fez tanta diferença, até pelo menos dois anos atrás, quando as lutas feministas começaram a aparecer mais nas redes sociais e na mídia”. Já para outra, o Dia Internacional da Mulher é “um dia que lembramos como a sociedade é machista e patriarcal, e que deve ser lembrado, não comemorado”. Nas respostas à pergunta sobre como elas vão passar a data, a maioria disse que vai estar nas manifestações, que ocorrerão na quarta-feira (8), em todo o Brasil e no mundo. 

 

Greve Internacional de Mulheres 

No dia 8 de março de 2017 (próxima quarta-feira) ocorrerá, em várias cidades do Brasil e do mundo, principalmente na América Latina, a Greve Internacional de Mulheres. A doula Lana Paula Luna é uma das organizadoras dos eventos que farão parte da programação da greve em Goiânia. Segundo ela, a ideia surgiu – ou se construiu – graças a duas outras grandes manifestações feministas que ocorreram nos últimos meses. Uma delas foi a campanha #NiUnaAMenos (“nenhuma a menos” em português), que ocorreu em outubro de 2016 na Argentina. No dia 19 do mesmo mês, as mulheres argentinas tomaram as ruas de Buenos Aires carregando cartazes em protesto pela morte de Lucía Pérez – jovem de 16 anos brutalmente assassinada após ter sido drogada e estuprada por três homens. 

O dia ficou conhecido mundialmente como “quarta-feira negra” e foi tomado na internet pela hashtag #NiUnaAMenos. A outra grande manifestação aconteceu no dia 21 de janeiro de 2017, em Washington D.C nos Estados Unidos da América. Mais de um milhão de pessoas marcharam pela vida das mulheres e contra a posse do atual presidente dos EUA, Donald Trump. A Women’s March (“Marcha das Mulheres”) contou com celebridades e teóricas do feminismo, e foi mundialmente repercutida. A organização da marcha ocorreu, porque Trump fez uma campanha polêmica repleta de declarações misóginas e machistas, dentre outros preconceitos, como racismo e xenofobia. Segundo Lana, no Brasil as causas são diferentes,  mas dialogam com as duas manifestações. 

A Greve Internacional de Mulheres possui representantes da América Latina, da África, da América do Norte, da Europa, do Oriente Médio e da Ásia. Lana conta que cada país e cidade possuem suas próprias reivindicações. Em Goiânia, dentre as principais pautas, estão: violência obstétrica, violência institucional, violência doméstica, transfobia, lesbofobia, legalização do aborto – dentre outras. Além da greve, outros eventos para discussão das pautas e reivindicações da luta feminista ocorreram e ainda vão ocorrer. Segundo Ana Carolina, essa é uma forma do movimento feminista manter diálogo com sociedade. “O pluralismo dos movimentos feministas atua em diversas frentes para colocar na cena principal essa discussão de luta por ‘direitos iguais’: palestras, rodas de conversa, eventos culturais, textos nas mídias sociais, artigos, reportagens de jornal, debates, etc”, relata. 

Segundo Lana – e o próprio site da Greve Internacional de Mulheres –, essa manifestação é importante para mostrar ao mundo que eles não vivem sem as mulheres. Um dos temas usados pelo movimento é: “Se nossas vidas não importam, que produzam sem nós”. Lana Paula acha extremamente necessário chamar a atenção das mulheres aos seus próprios potenciais: “Para mostrar nosso papel de agente transformador e peça essencial da sociedade”. Ana Carolina afirma que diversas questões atuais só se transformarão se continuarmos denunciando práticas que promovam as desigualdades. “O Dia Internacional da Mulher é um momento de reflexão e ação para que mulheres e homens possam viver de maneira mais harmoniosa e em condições iguais”, finaliza. 

 

Mulheres por Mulheres:

A produção artística como evidência de empoderamento é o tema transversal do projeto Mulheres por Mulheres. As artes cênicas, o audiovisual, a literatura, as artes visuais e a música integram a programação do evento que ocupa o Teatro Goiânia e a Vila Cultural Cora Coralina, nos dias 7 e 8 de março, com atividades gratuitas. A realização é da Arte Brasil Projetos Socioculturais. Com o apoio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura, o Mulheres por Mulheres promove oficinas, mostra de cinema, teatro e dança, feira de publicações independentes e feira de design autoral de moda e objetos – além de ampla programação de debates. Discussões atualizadas sobre o papel social da mulher, estratégias de empoderamento na ocupação do ciberespaço, mercado de trabalho, o nome social das travestis e transexuais perpassam os vários diálogos conduzidos por especialistas em diversas áreas do conhecimento. A exibição do filme Precisamos Falar do Assédio, dirigido por Paula Sacchetta, abre a programação, no dia 7 de março (terça), às 17h, na Sala João Bênio da Vila Cultural Cora Coralina. O primeiro bate-papo ocorre, logo em seguida, com a presença da professora da UnB Tânia Montoro, que vai abordar aspectos da violência contra a mulher. A abertura oficial do projeto continua no Teatro Goiânia, às 20h, com a apresentação do espetáculo A Casa de Bernarda Alba, da Cia. de Teatro Sala 3. O Mulheres por Mulheres conta com a curadoria de Rosa Berardo (Cinema), Vera Bicalho (Dança), Ana Cristina Evangelista (Teatro), Andrea Luiza Teixeira (Música), Maria Cristina Magalhães (Empoderamento) e Larissa Mundim (Literatura).

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