Telefone completa seus 141 anos de existência

Data marca a invenção do aparelho e o acelerado processo da comunicação mundial

Postado em: 11-03-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Data marca a invenção do aparelho e o acelerado processo da comunicação mundial

Bruna Policena

Neste ano, a invenção do telefone comemora seus 141 anos, e o Dia Mundial do Telefone é uma homenagem ao marco da data em que o aparelho foi patenteado pelo americano Alexander Graham Bell (1847 – 1922) no dia 10 de março de 1976. Este dia foi marcado pela primeira transmissão oficial de uma comunicação via telefone, e relatos históricos relembram a primeira frase a ser dita através do aparelho: “Sr. Watson, venha aqui. Quero ver você”.

A comunicação por telefone foi uma das invenções mais determinantes para o desenrolar do século 20, e embora historicamente Bell tenha sido considerado o inventor do aparelho, o italiano Antonio Meucci foi reconhecido como o seu verdadeiro inventor, em 11 de junho de 2002, pelo Congresso dos Estados Unidos. Meucci foi inventor do telégrafo, aparelho que serviu de base para o surgimento do telefone. De acordo com a história, o inventor italiano vendeu o protótipo do telefone a Bell em 1870. 

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Outra disputa de patente sobre a invenção do telefone foi com o engenheiro eletricista também estadunidense Elisha Gray que, por grande coincidência, aplicou no mesmo dia outra patente do mesmo gênero. O transmissor de Gray teria sido inspirado em outro dispositivo muito antigo conhecido como ‘telefone dos amantes’, no qual dois diafragmas são unidos por um fio esticado, e a voz é transmitida unicamente pela vibração mecânica do fio.

A Bell Telephone Company foi fundada, em 1877, pelo sogro de Bell, Gardiner Greene Hubbard, que comprou da Western Union as patentes do microfone de carbono, criado por Thomas Edison, o que tornou o telefone mais eficiente para chamadas de longa distância. De início, era preciso gritar para ser ouvido do outro lado da linha. E, a partir dos primeiro aparelhos, surgiram milhares de modelos novos.

No Brasil

O primeiro aparelho telefônico a chegar ao Brasil teria pertencido ao imperador D. Pedro II que, em 1877, tinha uma linha que ia do seu palácio (em São Cristóvão, no Rio de Janeiro) até o Centro da cidade. Mas só se popularizou muito tempo depois, já que no início somente famílias com boas condições financeiras conseguiam comprar e importar os aparelhos. E, mesmo que algumas famílias já tivessem o telefone, não havia linhas que interligassem as pessoas, então, mesmo com o telefone, não havia para quem ligar.

A aposentada Anaura Maria do Santos, nos seus quase 70 anos, conta que a idade proporciona experiências excepcionais quando o assunto é história. Ainda mocinha, por volta dos 15 anos de idade, foi a primeira vez que conheceu um aparelho telefônico. Veio do interior do Rio Grande do Sul para a capital de São Paulo trabalhar de empregada na casa de uma família com boas condições. E o telefone na casa era novidade. Ela acompanhou as várias versões e modelos de aparelhos telefônicos.

Anaura trabalhou como costureira até a sua aposentadoria, e criou suas duas filhas separada do marido. Foi ter seu aparelho e sua linha telefônica,  muito tempo depois, quando já havia tido uma das meninas. “Quando chegou o telefone sem fio, foi outra novidade, todo mundo queria ter”, ela relata. E o que mais a impressiona é a velocidade com que o telefone e a comunicação humana evoluíram e se modificaram. “Das cartas escritas, logo foi possível ouvir o som da voz do outro lado da linha, e, sem perceber, já estou mexendo na internet do meu celular”, conta a aposentada.

O comerciante Olímpio Antônio, de 47 anos, lembra que, quando criança, seu avô Luiz comprou um aparelho de telefone. Logo depois, sua mãe tinha dois aparelhos em casa, pois um vizinho muito querido trabalhava na empresa telefônica Telegoias e ajudou a família a ter a linha telefônica. E Olímpio conta que, há até pouco tempo, a linha telefônica da sua mãe ainda era no nome da esposa desse vizinho, e ambas as famílias mantêm a amizade e o convívio.

De acordo com dados atuais da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), ainda hoje, mesmo com a chegada dos celulares, é relevante o número de concessões e acessos de linhas telefônicas no País. Só em Goiás, há um total de 1.237.354 acessos e concessões. E a densidade do serviço na região é de 18,48 para cada 100 habitantes no Estado. No entanto os Estados com maior densidade de serviço no País são da região Sul e Sudeste. 

 

Entrevista: Romênia Souza 

Veja a entrevista que o Essência fez com Romênia Souza, professora da Rede Pública Estadual, também graduada em História e mestranda pela Universidade Estadual de Goiás (UEG) sobre a história, a utilização e a popularização do telefone. 

A invenção do telefone estava inserida em que contexto histórico mundial? E no Brasil?

Naquele momento, o mundo vivia sob os efeitos da chamada Segunda Revolução Industrial, uma fase marcada pela ampliação do processo de produção industrial, com o uso de novas matérias- primas e fontes de energia, dentre eles, a eletricidade e o petróleo. No Brasil, durante este período, vivíamos o II Império brasileiro, com uma economia agrária, ligada à produção de café. Contudo será com os lucros advindos do café, dentre outros, que irá se iniciar o processo industrial brasileiro, talvez um pouco tardio em relação aos países da Europa, mas buscando se enquadrar ao desenvolvimento econômico internacional.

Quando se popularizou o telefone no Brasil?

O telefone só iria se popularizar, atingindo amplas camadas da população brasileira, muitos anos depois da sua chegada ao Brasil, em 1877, já no século 20. Além dos telefones particulares, teríamos os chamados ‘orelhões’, que eram telefones públicos, que ficavam instalados em locais de fácil acesso para a população em geral – como em ruas, prédios públicos, escolas e hospitais.

Como você percebe a evolução da história a partir da invenção do telefone?

Entendo ter havido um rápido avanço, quer nas relações pessoais, quer nas relações econômicas e políticas, nacionais e/ou internacionais. Em todas estas situações, o que demandava certo tempo para ser feito/decidido, com o uso do telefone e seu contínuo aperfeiçoamento, se alterou e, cada vez mais, estas relações se tornam ágeis: decisões que envolvem o destino de nações inteiras, para o bem ou para o mal, como a deflagração de um conflito, podem ser tomadas em uma ligação telefônica, ou mesmo, na atualidade em uma videoconferência. 

De que forma a junção do telefone com a internet (celular) interfere na educação básica?

Parto do princípio que esta junção interfere não só na educação básica, mas em todos os níveis e modalidades de ensino. Recordo-me que, logo que teve início o acesso à internet via celular, houve grande polêmica a respeito de seu uso nas escolas ou mesmo sala de aula. Houve certo temor de que essa facilidade de acesso a uma vasta gama de informações pudesse levar à desqualificação da função do professor (risos), o que de fato sabemos não aconteceu. 

Uma dificuldade, que atravessa não só o ambiente escolar, mas outros espaços de trabalho é saber reconhecer o momento de se afastar do celular parar para fazer outras coisas. Na escola, isso se tornou debate constante, pois entendemos que é direito do aluno/aluna ter um celular para se comunicar com os familiares, e pode, até mesmo, ser um instrumento que serve como segurança para a pessoa, caso necessite.

O telefone foi criado com a finalidade de ‘aproximar as pessoas’ e facilitar a comunicação. Você acha que hoje o celular ainda representa essa ‘aproximação’?

É uma situação ambígua, pois, se por um lado, facilita nosso cotidiano e nos aproxima de pessoas distantes, nos trazendo notícias e fortalecendo laços de afinidade, nos informando em tempo real de inúmeras situações de nosso interesse – isto ninguém pode negar –, por outro pode criar dependências e, talvez, causar situações de isolamento ou mesmo constrangimentos. 

Ou, ainda, assistimos a inúmeras situações em que algumas pessoas passam a acompanhar cotidianamente a vida de outras, se isolando em uma realidade que talvez não corresponda à sua, podendo causar frustrações ou desencadear problemas de outras ordens. Mas ainda aceito a ideia de que o celular nos aproxima e traz muitos benefícios, desde que seja usado com cautela.

 

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