Atriz do cinema mudo é símbolo do Dia da Mulher

Aos 98 anos, Adriana Falangola, ou Dona Didi, é testemunha da história da cultura no Brasil

Postado em: 13-03-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa

A Era de Ouro dos chamados “filmes silenciosos” em Pernambuco, entre os anos 20 e 30 do século passado, teve uma mulher com um de seus personagens mais emblemáticos. Adriana Falangola, carinhosamente chamada de Dona Didi, é considerada a primeira atriz do cinema mudo pernambucano. Filha do cineasta italiano Ugo Falangola, um dos pioneiros da sétima arte no País, Adriana, hoje com 98 anos, chega neste dia 8 de março como testemunha da evolução cultural brasileira e como símbolo de uma época.

Desde cedo, Adriana acostumou-se a acompanhar o pai nos sets de filmagens dos documentários produzidos pela Pernambuco Film, produtora criada por Falangola em parceria com J. Cambieri. Cada documentário contava com créditos iniciais e finais distintos, todos protagonizados por Dona Didi. “Eu era quase o leão da Metro-Goldwyn-Mayer”, brinca.

No documentário Veneza Americana (1924), um dos principais filmes de Falangola, que foi recentemente restaurado pela Cinemateca Brasileira, Adriana aparece aos 6 anos na vinheta de abertura. O processo era aparentemente simples, porém bastante sofisticado para o período. Nele, Adriana surge em cena rasgando um papel com a logo da produtora e ao final do filme, a mesma imagem reaparece inteiramente reconstruída. 

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Do cinema às conquistas pessoais

Com o fim do cinema mudo, Falangola deixou o mundo dos documentários para dedicar-se à publicidade. No entanto a integração de Adriana ao universo do pai não ficou restrito apenas aos sets de filmagem ou ao estúdio da Pernambuco Film.

Contrariando os costumes da época, que reservava às mulheres apenas espaços muito bem delimitados, Ugo deu à filha outro lugar de poder. Foi nos chamados “passeios culturais” que ela pôde acompanhar o pai em peças teatrais, sessões de cinema e em partidas de futebol. Até mesmo as rodas de conversa de política e economia, normalmente destinado aos homens, Adriana tinha uma participação ativa. 

“Meu pai tinha uma predileção por mim. Éramos ao todo cinco filhos, sendo eu a única mulher. Todo o acesso que tive à cultura, os estímulos intelectuais e as oportunidades que ele me deu foram determinantes para minha formação, pude me tornar mais independente. As mulheres eram tratadas com distinção e esta diferença não era reforçada nos ambientes em que eu frequentava com meu pai”, afirma. 

Dona Didi acredita que a busca por igualdade entre os gêneros deve ser um princípio a ser buscado sempre. “Sempre houve uma tendência natural dos homens a agirem com uma certa superioridade em relação às mulheres. Excesso de direitos para eles e ausência para elas. Por isso, consideram louvável a educação e os valores com os quais fui criada”, destacou. 

Ciclo do Recife

Juntos, Cambieri e Falangola montaram a produtora Pernambuco Film nos anos 20 e deram início ao movimento conhecido como Ciclo do Recife, que reuniu, ao longo da década, uma série de cineastas pernambucanos. Os filmes documentais produzidos pela produtora de Ugo Falangola hoje compõem o acervo da Fundação Joaquim Nabuco, localizada na capital pernambucana. 

(Fonte: Ascom/MinC) 

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