Segunda-feira, 01 de julho de 2024

Dia Universal do Teatro

Data marca uma das formas mais antigas de expressão da cultura humana

Postado em: 18-03-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Dia Universal  do Teatro
Data marca uma das formas mais antigas de expressão da cultura humana

Bruna Policena

O teatro foi uma das primeiras formas de expressão artística que acompanharam e amadureceuram o processo de evolução do ser humano. E a data foi escolhida para marcar a importância dessa atividade para a história da sociedade. Enquanto primitivo, o homem era caçador e selvagem, e, quando passou a se enxergar para além da natureza, sentiu a necessidade de dominá-la. Os desenhos rupestres e o teatro na sua forma mais primitiva retratavam a convivência humana e seus rituais de caça e celebração. O teatro primitivo era uma espécie de danças dramáticas coletivas, um ritual festivo, perda ou agradecimento.

Durante o processo evolutivo, o homem passou a realizar rituais sagrados na tentativa de acalmar os efeitos da natureza, harmonizando-se com ela. Os mitos e as danças miméticas começam a aparecer. E, com o surgimento da civilização egípcia, os pequenos rituais tornaram-se grandes rituais formalizados e baseados em mitos. E, dos mitos, surgiram histórias e personagens, os deuses do Egito. Os mitos possuíam regras de acordo com cada estado e religião; era apenas a história do mito em ação, em movimento.

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Os rituais e tradições serviam para o divertimento e a honra dos nobres. Já na Grécia, surge o teatro chamado ‘ditirambo’, uma procissão informal que servia para homenagear o deus Dioniso (deus do Vinho). E, dessa manifestação de tradição, evoluiu-se um coro formado por ‘coreutas’ e pelo ‘corifeu’, que cantavam, dançavam, contavam histórias e mitos religiosos. Quando criou-se o diálogo entre coreutas e o corifeu, os primeiros textos teatrais ganham movimento e ação.

No Brasil

Com as caravelas portuguesas, vieram os jesuítas, em meados do século 16, que trouxeram a educação europeia para a catequização dos indígenas que já habitavam o território. Durante o processo de colonização, apresentaram a literatura e o teatro que, de início, foi atrelada às danças indígenas e aosd rituais festivos, já que encontraram, aqui, tribos brasileiras que tinham uma afinidade natural com a música, a dança e a oratória. A primeira forma de teatro que o Brasil conheceu foi a dos portugueses, que tinha uma intenção de catequização e introdução da religião Católica no ‘novo mundo’.  

Nesta época, Padre Anchieta foi responsável pela autoria e pelo ensinamento das primeiras peças teatrais. No entanto o teatro, no Brasil, só ganhou força em meados do século 19, quando, em pleno Romantismo, Martin Pena apresenta suas peças de comédia e costumes. O dramaturgo Artur Azevedo e o ator João Caetano foram grandes nomes da época. E Machado de Assis e sua contribuição para a literatura também foi de grande relevância para o amadurecimento do teatro brasileiro. 

Goiânia

Um dos prédios mais antigos da Capital foi o Teatro Goiânia, inaugurado em 12 de junho de 1942, e até hoje é o mais tradicional espaço cultural de Goiânia; ainda cumpre com a sua função de dar espaço para a produção de arte regional, e recebe grandes peças e companhias do teatro nacional. O prédio, com capacidade para 850 pessoas, está localizado na Avenida Anhanguera, região central, e compõe o conjunto arquitetônico do projeto da cidade, trabalhado no estilo art déco do arquiteto Jorge Félix. Sua construção  teve início em 1940, e foi concluída em 1942. 

O jornal da época, o Correio Oficial, do dia 12 de junho de 1942, já anunciava a notícia de que o prédio começaria suas atividades. “A inauguração do Teatro Goiânia vai ser marcada por uma superprodução da Metro-Goldwyn-Mayer, na próxima terça-feira”. E, sempre participando da história da cidade, lá estava o então interventor federal do Estado, Pedro Ludovico Teixeira, que descerrava a placa, dando por inaugurada a mais luxuosa casa de espetáculos da nova Capital do Estado de Goiás. E, em 2003,  foi tombado como Patrimônio Histórico da Cidade.

Na cidade, também há o Cine-Teatro, onde foi de fato realizado o Batismo Cultural de Goiânia. A estreia foi marcada pela exibição do filme Divino Tormento, com Nelson Eddy e Jeanette MacDonald. Na mesma semana, a Companhia Eva Todor, a maior empresa de comédia brasileira, inaugurou o palco com a obra Colégio Interno, de Ladislaw Todor. O Cine-Teatro, como o nome já sugere, foi projetado para as funções de cinema e teatro, no entanto praticamente não foi usado para a exibição de filmes. Mas, atualmente, ele tem dado espaço para mostras e festivais de filmes.

Grupo Teatral Guará

Baseada em uma trilogia de Ariano Suassuna, a peça Farsa da Boa Preguiça é um dos trabalhos teatrais do Grupo Guará financiados pela Lei Goyazes de incentivo à cultura. Samuel Baldoni, integrante do grupo, conta que foi a partir de um convite da Coordenação de Arte e Cultura da Pontifícia Universidade Católica de Goiás que há 18 anos mantém e patrocina os trabalhos cênicos. Atuantes em Goiânia, participam também de festivais nacionais de teatro. A identidade do grupo é marcada pela interação com o público, com características fortes do teatro popular, encenando os clássicos da dramaturgia regional.

Entrevista: Samuel Baldani 

Quando você começou a trabalhar com teatro?

Comecei a trabalhar em 1988 e, profissionalmente, em 1995.

De onde surgiu a ideia de se criar o Grupo de Teatro Guará?

Foi um convite da Coordenação de Arte e Cultura e da Pró-Reitoria de Extensão da PUC Goiás para que desse continuidade no trabalho que desenvolvia enquanto aluno da Instituição. O nome Guará vem do Lobo, e foi para demarcar de onde viemos, do Cerrado.

Qual o tipo de teatro feito pelo Grupo de Teatro Guará? E esse trabalhe pretende atingir o quê? 

Fazemos um teatro voltado para as potencialidades expressivas do ator. O foco do nosso trabalho é o ator: sua gestualidade, seu corpo poético e suas virtuosidades. Nossos espetáculos são marcados pela forte comunicação com o público, e tem sua origem ligada ao teatro popular e aos clássicos da dramaturgia regional e universal. 

Pretendemos formar plateia, formar novos atores e falar do ser humano, da nossa gente, da nossa história, dos sentimentos. Enfim, a nossa cena é o espaço do homem contemporâneo. O material do teatro é o ser humano. Esse é o nosso propósito. Colaborar com uma nova ordem.

O grupo surgiu em 1995. Como é estar 20 anos à frente deste projeto?

É muito bom, é muito aprendizado e muito gratificante por tudo que conseguimos nesse percurso. Praticamente participamos (sendo selecionados) de uma média de dois festivais nacionais de teatro pelo Brasil por ano. Já conquistamos prêmios, boas críticas; vários atores da cena local e nacional começaram no grupo e nos vemos como participantes da história do teatro de nosso Estado como uma referência.

Quais os momentos mais desafiadores e mais comoventes que você teve dentro do Grupo de Teatro Guará?

Momentos desafiadores são vários e a todo instante. Isso não para nunca. Sempre estamos nos provocando, e cada trabalho é um momento novo com seus desafios e necessidades. Momento mais comovente foi ganhar seis prêmios (os principais) no Festival Nacional de Blumenau (SC).

Na sua opinião, como o teatro pode contribuir com a sociedade?

Não só o teatro, mas todas as manifestações artísticas são essênciais. É uma necessidade do ser humano. Como diz o poeta: “A arte existe, porque a realidade não nos basta…” (F. Gullar). O teatro veicula ideias, expressa momentos e sentimentos, compartilha conhecimentos, poetiza a vida e promove a vivencia de emoções, e mais do que tudo é um instrumento de reflexão e crítica social.

Qual a importância de se existir um dia para celebrar e existência do teatro?

Demarcar, chamar atenção para essa linguagem artística e comemorar essa arte milenar que acompanha o ser humano desde os primórdios. O teatro é uma arte artesanal, arte do encontro e isso nos dias que correm se faz necessário.

Quais os atuais/próximos projetos do Grupo de Teatro Guará?

Estamos começando uma nova montagem de um dramaturgo baiano, professor da UFBA. Um texto que nos coloca de frente com esse mundo louco que estamos vivendo: Os Javalis é o nome do texto. Pretendemos também a continuidade da peça Farsa da Boa Preguiça e Amor Por Anexins.

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