Puxe o “erre” com orgulho de ser goiano

Por que falar chiado é bonito e puxar o “erre” é feio? Quando criança, isso nunca foi um questionamento, mas na adolescência

Postado em: 16-05-2021 às 10h58
Por: Augusto Sobrinho
Imagem Ilustrando a Notícia: Puxe o “erre” com orgulho de ser goiano
Os fonemas devem ser valorizados, pois caracterizam as nossas raízes culturais. Foto: Reprodução

Por que falar chiado é bonito e puxar o “erre” é feio? Quando criança, isso nunca foi um questionamento, mas na adolescência me ensinaram que isso me tornaria uma pessoa “da roça”. Ninguém quer ser roceiro, quer ser da capital, pois isso está relacionado a ser moderno, ser estudado e sociável.

Falar porta, portão e porteira sempre foi um desafio para verificar o sotaque caipira. O exercício é não deixar a língua se curvar para trás, com a ponta quase tocando o céu da boca. Se isso acontecer, as risadas virão e você será taxado de menos urbano, como se “ser da roça” fosse algo pejorativo.

De acordo com o senso de 2019 do The World Bank, o Brasil tem uma população de mais de 210 milhões de pessoas. Mais de 8 milhões de km² com pessoas espalhadas por todo canto. Isso influencia uma variedade, que, segundo o Atlas Linguístico do Brasil, possibilita que existam mais de 200 palavras que mudam de estado para estado.

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Tem o “R” retroflexo, popularmente conhecido como “R” caipira; o “R” carioca, que raspa no fundo da garganta; o “R” gutural, que é mais suave, ouvido em Belo Horizonte e nas capitais do Norte e Nordeste; o “R” pronunciado com a ponta da língua e o “R” que perde vibração e quase desaparece.

Todas elas são diferentes formas de falar do brasileiro, que definem o “Sotaque do Brasil”. Ele é plural, é diverso e é lindo mesmo que insistam em fomentar um genocídio linguístico que previlegia o “s” chiado do carioca e tabula o “erre” goiano como caipira e roceiros.

Puxar o “r” caracteriza a nossa goianidade e possibilita um sentimento de pertencimento e resgate da nossa raíz.    Como, por exemplo, em uma viagem para São Paulo, um desconhecido me cumprimentou e me perguntou se era de Goiás. Estranhei a situação, mas confirmei minha naturalidade.

Quando o questionei como identificou isso, ele me disse que percebeu pela minha forma de falar, pois ele também é goiano. Segundo ele, bastou um “uai” e um “rensga” para ele perceber a semelhança existente entre nós e para “se sentir em casa”, pois há 10 anos morava em São Paulo.

As expressões verbais fazem parte do leque que é a identidade cultural. É entender que não é uma vergonha, mas valorização do sentimento de pertencimento a este povo goiano. Aprender a fonemar o “r” da forma “certa” é aprender que não há errado, mas um preconceito.

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