Como ensinar os filhos a lidar com a frustração

“Quem sabe lidar com frustração tem mais chances de ser uma pessoa feliz”, diz psicóloga

Postado em: 29-03-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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“Quem sabe lidar com frustração tem mais chances de ser uma pessoa feliz”, diz psicóloga

Muitos pais já devem ter passado por aquela situação em que o filho não quer sair da cama cedo para ir à escola. A criança se frustra, e os problemas já começam por aí: ela faz birra, se faz de ‘surda’, de rebelde, faz corpo mole, põe em prática a ‘operação tartaruga’… tudo para não levantar. Inúmeras outras circunstâncias, como jogar videogame até tarde, comer doce antes do almoço – ou de adolescente que quer ir à balada, ou que quer comprar uma roupa e não tem dinheiro – se repetem no cotidiano das famílias. E o que fazer? Como os pais podem ensinar a os filhos a lidar com essas pequenas frustrações do dia a dia e da vida?

Para Karin Kenzler, psicóloga do Colégio Humboldt, instituição bilíngue e multicultural (português/alemão),localizada em Interlagos, em São Paulo (SP), não é recomendável evitar que os filhos sofram decepções na vida, mas sim ensiná-los a lidar com a frustração. “O ideal é aprender a postergar a realização do desejo e, até mesmo, quando não é possível realizá-lo, viver bem, apesar desta frustração. Nós, adultos, sabemos como é difícil acordar cedo, mas postergamos esse desejo para aproveitar o fim de semana, quando podemos acordar mais tarde. Dá para ser feliz com ­obrigações, compromissos e limitações que temos, e precisamos ensinar isso, desde cedo, para as crianças”, diz.

Karin explica que é importante que os pais sigam três passos em situações como essas:

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1) Precisamos mostrar como nós lidamos com a frustração e, para tanto, precisamos nos solidarizar com o desejo da criança. Em outras palavras, vamos empatizar, concordar com sua vontade. Exemplo: “Concordo que é difícil sair da cama cedo para ir à escola. Também estou com vontade de dormir mais um pouco”.

2) Em segundo lugar, vamos colocar algumas preocupações que nos vem à mente, em relação à realização desse desejo, como obstáculos e limites indesejados. Importante, até aqui, é não polarizar com a criança. Ela precisa se identificar com você e se sentir compreendida. Exemplo: “Mas se eu fizer isso posso levar uma advertência do meu chefe; e você perderia a brincadeira com os colegas que estarão te esperando…”.

3) Em terceiro lugar, vamos começar a pensar em saídas, soluções. É preciso fazer com que a criança também comece a pensar para além do desejo dela, buscando alternativas. Perguntar a ela o que podem fazer diante dos fatos dados é uma boa estratégia. Se ela não conseguir pensar em nada, faça sugestões. Importante é que ela acompanhe o processo e não apenas o resultado final. Exemplo: “Daqui a dois dias, é sábado. O que acha de irmos, hoje, e combinarmos de dormir até tarde, no sábado, e tomar café na cama?”.

Quando não há uma solução satisfatória, o idela é mostrar resignação diante do limite, mostrando que podemos aguentar e seguir em frente. Exemplo: “O pior é que, nesta semana, teremos compromisso todas as manhãs. Teremos que ser muito guerreiras para aguentar e vencer essa semana. Que tal comemorarmos quando acabar com um jantar, passeio…?”.

A psicóloga explica que o principal legado que os pais podem deixar para os filhos é fazer com que a criança aprenda a enxergar os prós e contras da situação e ajudá-las na tomada de decisão. “Os parâmetros de uma criança são os pais. Eles não devem ser permissivos ou autoritários, em excesso, pois são atitudes prejudiciais”. 

Ela pondera que a criança que se frustra, demasiadamente, poderá vir a ser um adulto deprimido ou submisso e cheio de medos. Por outro lado, a falta de decepções é perigosa para a vida adulta. “Limites são frustrações, e crianças criadas sem limites tornam-se mimadas, inseguras, confusas e com intolerância à frustração, podendo tornar-se adultos que desistem diante do primeiro obstáculo ou que não tem resiliência”, pondera Karin. Muitas vezes, os pais têm dificuldade em dar limites e a lidar com as frustrações dos filhos, mas devem superar esse receio e fazê-lo com tranquilidade. “Se der uma vida muito paradisíaca ao filho, ele vai ter dificuldade quando não estiver sob custódia dos pais, e terá de enfrentar situações financeiras difíceis, fazer tarefas chatas, lidar com colegas de trabalho de que não gosta…”, completa.

Para que os filhos saibam superar essa frustração, Karin explica que é preciso que eles entendam que vai ficar tudo bem, mas que não vai ser do jeito que eles querem. “A criança não pode pensar que nunca terá alguma insatisfação, pois desapontamentos fazem parte da vida. Ela deve desenvolver uma postura de aceitação e tolerância diante das dificuldades, pois a vida está longe de ser perfeita. Tolerar frustração é lidar bem com a vida. Quem sabe lidar com frustração tem mais chances de ser uma pessoa feliz”, finaliza Karin. 

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