Go Go Power Rangers

Entre a nostalgia e o drama adolescente, ‘Power Rangers’ não decide que história quer contar

Postado em: 29-03-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Go Go Power Rangers
Entre a nostalgia e o drama adolescente, ‘Power Rangers’ não decide que história quer contar

Toni Nascimento

Quando um estúdio/produtora, como a Lionsgate, resolve levar para o cinema uma grande adaptação – daquelas que têm o poder de render milhões em faturamento e iniciar uma franquia que poderá gerar bastante lucro –, ele precisa ter em mente, desde o storyline (“primeiras ideias para o roteiro”), que “escolher é perder”. A equipe do longa de Power Rangers já afirmou ter planos para seis filmes, e eles conseguiram superar as expectativas de arrecadação no primeiro fim de semana de exibição, mas infelizmente não escolheram um tom definido para o filme e, mesmo assim, perderam em qualidade. 

Saban’s Power Ranger estreou na última quinta-feira (23) e ocupou 801 salas por todo o Brasil, tendo como concorrente direto nas bilheterias, aqui nas terras tupiniquins, o suspense Fragmentado, do diretor M. Night Shyamalan, que estreou no mesmo dia em 618 telas. Com um orçamento de R$ 100 milhões, os Rangers superaram a expectativa de R$ 33 milhões, nos Estados Unidos, e faturaram R$ 40 milhões, em seu fim de semana de estreia nas terras do tio Sam, e R$ 60 milhões no mundo todo. A grandiosa arrecadação só ficou atrás do novo live-action da Disney, A Bela e a Fera, que chegou ao seu segundo fim de semana ainda no topo.  

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Infelizmente, o lucro está longe de significar qualidade. Mas por que devemos começar com os erros? Não devemos. Uma das maiores qualidades de Power Rangers é fazer você desviar a visão dos seus inúmeros erros para enxergar a beleza da mitologia ranger que, finalmente, é explorada com maior profundidade. Como o longa faz isso? Usando referências de sucesso da sétima arte. O melhor exemplo é o desenvolvimento de personagem dos Rangers baseado na obra cinematográfica de John Hughes.

Pensem comigo: a série dos anos 90 era sobre cinco adolescentes que, sem mais nem menos, se tornavam os defensores e salvadores da Alameda dos Anjos – e, consequentemente, do mundo. Todo episódio, que durava (e ainda dura nas temporadas atuais da série) cerca de 20 minutos tinha o mesmo arco: Rita Repulsa criava um monstro; os Rangers lutavam contra ele e seu exército de homens de massa; o monstro era derrotado; Rita Repulsa o fazia crescer; e os Rangers derrotavam a versão gigante dele. Não existia nenhum arco dramático para ser completado ou ao menos o mínimo de desenvolvimento de personagem. 

O longa, dirigido pelo diretor Dean Israelite, corrige esse erro e dedica, nada mais, nada menos, que todos os dois primeiros atos para fazer isso. Em meio a câmeras inventivas e uma péssima direção de atores (sério, a atuação dos cinco personagens principais é muito ruim), Dean e o roteiro vão mostrando os anseios e desejos daqueles garotos e construindo arcos e relações fechados e até bonitos, inspirado diretamente naquela que pode ser considerada a melhor obra de John Hughes, Clube dos Cinco. 

Mas, se esse é o grande acerto do filme, também é a porta de entrada para o erro. Que filme eles queriam ter produzido? Se escolher é perder, precisava existir uma escolha definitiva entre um longa que usa o ato de ‘morfar’ (que chega a ser dolorido de tão difícil) como uma metáfora para o difícil crescimento e amadurecimento que acontece adolescência ou um verdadeiro aceno e sorriso para a ‘fanfarrice’. Eles erraram ao tentar ficar com os dois.

Se ter apenas meia hora de ação desenfreada no ato final – com direito a fan service com a clássica música Go Go Power Rangers – não bastasse para destoar com toda a construção de personagens da primeira uma hora e meia de filme, a presença totalmente pastelona da vilã Rita Repulsa, interpretada por Elizabeth Banks, no meio de cenas que tinham a clara intenção de soar amedrontadoras, é pior ainda. 

Pastelão ou filme sério? Definir o tom do filme é totalmente necessário para deixar clara a mensagem a ser passada. Power Rangers é divertido e tem seus momentos de nostalgia, mas devido à falta de escolha, nunca saberemos qual era intenção  do longa além de ganhar muito dinheiro. Além de tudo isso, fica ainda uma dúvida maior: qual foi o cachê pago para que Bryan Cranston aceitasse fazer esse filme?  

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