Goianos: uma história contada através da oralidade

O povo goiano que conheço hoje, ou melhor dizendo, há 20 anos, carrega em si uma ancestralidade que deu forma e figura

Postado em: 27-06-2021 às 16h49
Por: Augusto Sobrinho
Imagem Ilustrando a Notícia: Goianos: uma história contada através da oralidade
Com um pé na roça, a linguagem coloquial marca a história goiana | Foto: Reprodução/Letícia Carvalho

O povo goiano que conheço hoje, ou melhor dizendo, há 20 anos, carrega em si uma ancestralidade que deu forma e figura para sua identidade. Apesar de ser sua História contada a partir do século XVIII, Goiás tem uma formação identitária que teve início antes mesmo do colonizador português chegar.

Haviam povos moradores nessas terras antes da chegada do bandeirante. Os povos indígenas Karajás, Avá-Kanoeiros, Javaés, Tapuias e Goyazes. Então, veio a colonização dessas terras. Povos portugueses com seus hábitos e crenças europeias e escravos africanos com suas religiões e culinárias.

Para além das histórias tristes da colonização, tivemos aqui um entrechoque e uma miscigenação cultural, que é semelhante a outras regiões brasileiras. Depois disso, a partir do século XIX, ainda vemos emergir uma cultura caipira, que foi agregada devido aos sertanejos e sua pecuária bovina. 

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A partir daí podemos marcar uma identidade cultural goiana que hoje reconhecemos no nosso dia-a-dia através da culinária, música e também vocabulário. Com uma economia voltada para o mercado da criação de gado e plantação de grãos, Goiás foi se formando em diversas fazendas.

A exemplo disso, temos a Fazenda Babilônia, ou ex-Engenho de São Joaquim, com mais de 200 anos de história. A propriedade do fazendeiro, comerciante, líder político e mecenas Joaquim Alves de Oliveira fica na zona rural da cidade de Pirenópolis. Ele, que também foi fundador do primeiro jornal do Centro-Oeste, a Matutina Meiapontense, que circulou pela província de Goiás do dia 5 de março de 1830 a 24 de maio de 1834, totalizando 526 números. Ele representa aquilo que formou o vocabulário do goiano.

Estes primeiros produtos jornalísticos datam do início do século XIX e contribuíram para a alfabetização dos povos goianos. Entretanto, de acordo com o ex-funcionário aposentado da Universidade Federal de Goiás, Armando Honório da Silva, com a cultura pecuária e vida na fazenda “dispensava” o letramento da população.

Expressões coloquiais

Naquele processo de aprender sobre o Planeta Terra e o sistema solar durante a aula de geografia, toda criança percebe-se dentro de um lugar, que existe dentro de outro maior, de outro maior ainda e por aí vai, até o universo e sua infinidade. Ou então, na aula de história, ensinam-nos que nosso presente está inserido em um contexto sócio-temporal que define aquilo que somos como sociedade e pessoas também.

Entretanto, há uma área pouco explorada, a nossa linguagem informal. Temos uma língua natural, aquela que aprendemos desde mamãe e papai, ou “mommy” e “dad”, e temos centenas de línguas estrangeiras, que podemos apreender em nosso vocabulário. Falta-nos explorar algo mais íntimo ainda, aquela língua que não é a oficial. São expressões que estão mais na boca do que no dicionário.

Uma linguagem que, assim como nos ensinam nas aulas de geografia e história, está inserida em uma língua oficial, mas que também diz mais sobre quem somos e até nos diferencia dentro de um plano mais geral. No nosso caso, vamos chamá-la de Dicionário Goianês, assim como Armando Honório da Silva e Ismael David Nogueira, ambos servidores técnico-administrativos aposentados da Universidade Federal de Goiás (UFG) chamaram-na no livro digital “Termos e expressões do coloquial do cotidiano da zona rural no Brasil central no século XX”.

Os autores conseguiram registrar quatro mil palavras e 300 expressões que nós, goianos, falamos. Vale destacar que esses termos identificados por eles integram uma “linguagem oral, coloquial e transitória que efetivamente existiu no século XX, na região central do Brasil, e que, sem dúvida, aparece nas falas do cotidiano do século seguinte”, ou seja, são a parte da linguagem formal ou culta que utiliza as normas gramaticais definidas pelo português brasileiro.

São aquelas expressões, portanto, que estão mais na nossa boca do que nos livros e dicionários. Algumas delas já estão tão inseridas no nosso cotidiano que nós as falamos e ouvimos naturalmente, pois fazem parte da nossa cultura e da nossa identidade goiana.

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