Vinho na Serra Catarinense

A maioria dos proprietários das vinícolas são empresários bem sucedidos e não filhos ou netos de colonos do vinho, como acontece no Rio Grande do Sul

Postado em: 15-07-2021 às 08h47
Por: Redação
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A maioria dos proprietários das vinícolas são empresários bem sucedidos e não filhos ou netos de colonos do vinho, como acontece no Rio Grande do Sul | Foto: reprodução

Por Edna Gomes

Não conhecia os vinhedos de Santa Catarina. Fiquei impressionada com o seu potencial. O que achei estranho foi a pouca divulgação do lugar. A maioria dos proprietários das vinícolas são empresários bem sucedidos e não filhos ou netos de colonos do vinho, como acontece no Rio Grande do Sul. Falta a eles  um trabalho bacana, profissional, visando o enoturismo. Deveriam convidar jornalistas do setor para visitar a região, marcando presença em eventos de degustação. Eu que sou sommelier e jornalista que escreve sobre vinhos e gastronomia, não sabia quase nada do local.

Estive alguns dias atrás em Santa Catarina para conhecer alguns vinhedos. Infelizmente, foi uma viagem curtíssima, mas fiquei feliz com o que encontrei.  Vinhos de qualidade e personalidade. Com paisagens belas e aprazíveis, além de excelente gastronomia e vinhos interessantes — o que configura uma boa desculpa para todos os que visitam as vinícolas —, e terminam por se encantar com elas. Os vinhedos de Santa Catarina são incríveis! Apesar de ser um atrativo apropriado aos meses frios do ano. A natureza também tem sua parcela de culpa nessa história. A região tem cachoeiras, estradas cênicas, cânions de tirar o fôlego, mirantes com montanhas a perder de vista. Tudo isso a apenas 180 km do Aeroporto Internacional de Florianópolis (FLN), que recebe voos diretos da Azul a partir de várias cidades do País.

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Tratando-se de vinhos, o novíssimo mundo realmente é a Serra Catarinense. Cada vez mais, os vinhos finos e espumantes produzidos no terroir de altitude de Santa Catarina estão conquistando qualidade, apreciadores e fama internacional. O enoturismo é fraco ainda, mas vem ganhando força na região, atraindo visitantes para experiências enogastronômicas repletas de novas sensações. O que mais me deixou maravilhada, foi a paisagem do lugar. A experiência de degustar bons vinhos é enriquecida pela exuberância de paisagens com montanhas, araucárias, campos e vinhedos que representam um atrativo único. A gastronomia das cidades serranas prepara moradores e visitantes para enfrentar as baixas temperaturas. É farta, calórica, saborosa. Em geral bebe-se mais vinho do que cerveja, e os catarinenses têm o hábito de servir champanhe a qualquer hora do dia, com sol ou chuva.

Hoje, a vitivinicultura faz parte da cidade, que elabora seus vinhos, onde nos últimos tempos colheu inúmeros reconhecimentos.  No primeiro e segundo dia, visitei algumas vinícolas que ficam nas altas encostas da Serra Catarinense. Por serem muitas vinícolas, dividi o roteiro em duas partes para que eu pudesse aproveitar melhor as paradas.

O meu roteiro começou no município de Bom Retiro, passando por São Joaquim, Lages e Campo Belo do Sul. Já pensou em harmonizar vinhos com paisagens? Com esse objetivo, preparei algumas dicas de vinhos e vinícolas com cenários inesquecíveis. Abaixo, destaco três vinícolas:

A primeira vinícola do roteiro tem uma ótima opção para hospedagem. Dentro da vinícola Thera foi inaugurada a Pousada Fazenda Bom Retiro, um lugar interessante, bem boutique, que traz toda a atmosfera de charme e requinte que envolve os apreciadores de vinhos.

Para quem gosta de um contato maior com a natureza, o cenário da vinícola Thera tem uma bela paisagem. Dá para fazer pequenas caminhadas pela região e registrar muitas fotos.

Para quem não quer ficar hospedado na Thera, pode aproveitar o wine bar e o restaurante que é aberto para os visitantes.Provei o Thera Rosé (2016) Produzido com uvas Syrah, Merlot e Cabernet Franc, apresenta notas de frutos vermelhos, toques cítricos e florais. Sua acidez equilibrada revela uma agradável mineralidade, aspecto típico dos vinhos da região serrana de Santa Catarina.

Visitação: apenas com agendamento e ocorrem nas sextas-feiras às 17h, sábados às 11h e às 17h e domingos às 11h.
A vinícola Villaggio Bassetti é uma segunda opção para quem está em São Joaquim. O local oferece visita guiada com degustação de até 4 rótulos, que são produzidos no local.

Um grande diferencial dessa vinícola é o seu acesso. Diferente da Thera e da Villa Francioni, você percorre uma via asfaltada entre os vinhedos. O local sofreu essa estruturação para permitir que pessoas com baixa mobilidade pudessem fazer o passeio sem dificuldade. É a única vinícola da região com esse tipo de suporte. Me impressionou o vinho Villaggio Bassetti Ana Cristina (2015) ,Varietal 100% Pinot Noir com um ano de passagem em barricas de carvalho francês. Frutado, macio e aveludado, de coloração avermelhada e intensa, com aromas de frutas vermelhas delicadas. Este vinho comprova que a altitude da Serra Catarinense é bastante apropriada para a elaboração de vinhos elegantes e complexos com esta casta, considerada uma das mais nobres do mundo.

A vinícola Abreu Garcia fica na cidade de Campo Belo do Sul e está a 950 metros acima do nível do mar. O cenário natural incrível da região.

Todos os visitantes são recebidos por enólogos da vinícola, que os levam para conhecer os vinhedos. Além de apresentar o espaço, esses profissionais também mostram como é o processo de fabricação dos vinhos da marca. No final, há a degustação de alguns rótulos e o visitante também pode optar por comprar garrafas por valores acessíveis.
A vinícola é um sítio arqueológico, com um danceiro indigena datado do século 15. Degustei o Sauvignon Blanc. É leve e persiste na boca, tem aromas evidentes mas sem excessos. Notas herbáceas, cítricas e aromas florais atípicos, lembram flores azuis, aparecem naturalmente no nariz. Em boca mantém a graça e a jovialidade, consequência da generosa acidez e estilo penetrante.

Cabernet-Sauvignon Merlot 2011- Na boca tem volume, as frutas vermelhas se confirmam, incorporadas ao toque terroso. Tem bom frescor, final sedoso, com álcool não muito em harmonia com taninos maduros mostrando vivacidade. Um vinho honesto. Não me seduziu.

Visitação: Todas as vinícolas precisam ser agendadas previamente.

Como foi a minha primeira vez pela rota das vinícolas catarinenses, o ideal é concentrar o passeio pelos vinhedos que ficam em São Joaquim e região serrana. Dessa forma dá para aproveitar mais tempo e fazer paradas mais longas. Foi a viagem mais incrível que fiz. Eu voltarei com certeza! (Especial para O Hoje)

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