Cinco dicas de leituras para fugir do jornalismo convencional

Os livros-reportagem casam os fatos as narrativas literárias para entregar aos leitores textos mais aprofundados e gostosos de ler

Postado em: 25-07-2021 às 13h00
Por: Augusto Sobrinho
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Os livros-reportagem casam os fatos as narrativas literárias para entregar aos leitores textos mais aprofundados e gostosos de ler | Foto: Redação

Se você está cansado daquele jornalismo convencional e gosta de uma leitura prazerosa e emocionante, a nossa dica será desbravar o lado literário desse gênero textual. Os livros-reportagens casam o factual com as narrativas mais elaboradas e com licença poética que entregam aos leitores textos mais aprofundados e gostosos de ler.

Os primeiros registros de narrativas que possuem características do Jornalismo Literário datam de cerca de três mil anos, no Egito. Os cinzeladores narravam em praça publica textos sobre as colheitas de grãos, casamentos reais, solenidades, viagens, guerras e a vida cotidiana. Eles podiam construir esses textos com aspectos fantásticos, líricos, aventureiros e até críticos.

Após isso, os próximos foram encontrados em Roma de autoria de Marco Valério Marziale, também chamado de Maciel. Ele, que recebeu o direito de escrever sobre a civilização e seus eventos, o fazia em forma de poesia em prosa. Seus textos falavam sobre os acontecimentos e sobre o homem e sua relação com a cidade e eram carregados de humor.

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Entretanto, a Idade Média acabou sufocando este gênero com a invenção da imprensa e sua forma de produção massiva. Então, a narrativa jornalística se soma à crônica, que “misturam-se com artigos filosóficos, relatos de viagem com o lirismo da poesia romântica, opiniões associa-se a contos e novelas”, afirma o autor do livro Jornalismo literário, Gustavo de Castro.

A crônica foi associada ao jornalismo durante seu período romântico. Suas características informativas, que podem ser verificadas na fidelidade à narração cotidiana, se misturam à sua liberdade imaginativa e forma esse gênero jornalístico. Entretanto, infelizmente, recebe críticas negativas referente a sua credibilidade, pois se afasta do modelo objetivo da indústria da imprensa.

Então, o que esperar do casamento entre as narrativas jornalística e romântica? O romance-reportagem se caracteriza pela fidelidade à realidade factual e a utilização de estratégias literárias para construção da narrativa. O jornalista, imerso naquela realidade, relata uma ocorrência social através de um estilo próprio de aprofundamento e contextualização, que é alcançado com a “precisão de dados e informações, metáforas e humanização” das fontes e personagens.

Devido uma estreita diferença com o ficcional, este gênero pode ser confundido e descredibilizado. Porém, é importante destacar que nele não há espaço para invencionismos. Os “adereços literários” usados pelos jornalistas são colocados com cautela e coerência com a realidade no qual a narrativa se baseia. Estes irão auxiliar o profissional na explicação, orientação e, até mesmo, a opinar no fato.

No Brasil, sua chegada foi tardia e suprimida pela Ditadura Militar. Com as vigilâncias impostas pela censura, a crônica foi transvestida de livro-reportagem. Neste novo perfil ela mantém sua característica literária, poética e as críticas sociais. Além disso, lhe é somada o caráter de apuração extensa e aprofundada, que valoriza as personagens, a contextualização e o ineditismo. Com isso, confira cinco dicas de leituras para fugir do jornalismo convencional:

  • Presos Que Menstruam – Nana Queiroz;

“Para o Estado e a sociedade, parece que existem somente 440 mil homens e nenhuma mulher nas prisões do país. Só que, uma vez por mês, aproximadamente 28 mil desses presos menstruam”, comenta Heidi Ann Cerneka, coordenadora da Pastoral Carcerária Nacional.

  • Viva como se estivesse de partida – Rafael Henzel;

Esta obra é um relato otimista e emocionante do jornalista que sobreviveu à tragédia da Chapecoense. “Este livro é dedicado a todas as vítimas do voo da LaMia e seus familiares e a todas as pessoas mundo a fora que oraram por esses amigos que nos deram grandes alegrias”, disse o autor.

  • Cabeça de papel – Paulo Francis;

Cabeça de Papel foi originalmente editado em 1977, e Francis, no livro, passa seu universo em revista: a elite carioca, os intelectuais marxistas, a imprensa e sua geração. Como cenário, o Brasil sob o regime militar e uma ainda silenciosa luta de classes, que no romance é anunciada como uma guerra civil”, comenta o editor Wagner Carelli ao caderno Ilustrada do Folha de S. Paulo.

  • A festa – Ivan Angelo;

A Festa, no dizer do próprio autor, é um romance circunscrito a um período. Assim, a escolha do espaço e tempo do romance não foi ocasional. A ambientação proposital é Belo Horizonte no início da década de 70, e o suporte narrativo de A Festa está em dois fatos: o tumulto, ocorrido na Praça da Estação, com um grupo de retirantes nordestinos, e uma festa de aniversário, onde deveriam comparecer algumas pessoas envolvidas na agitação”, comenta Célia Regina Ranzolin, aluna de Pós-graduação em Literatura Brasileira na UFSC.

  • O que é isso companheiro? – Fernando Gabeira.

O jornalista e seu amigo César abraçaram a luta armada contra a ditadura militar no final da década de 60. “O livro é fiel à maneira como eu via a história. Não falo uma coisa ali que eu me desminta. Mas como é uma história vista de muitos ângulos, pode haver confrontos com outras versões”, contou o autor ao caderno Ilustrada do Folha de S. Paulo. Esta obra foi adaptada para um longa-metragem disponível na Amazon Prime Video.

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