Os Vinhedos de Bento Gonçalves

Para quem quer conhecer o Sul contornando a serra e experimentando saborosos vinhos

Postado em: 15-05-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Para quem quer conhecer o Sul contornando a serra e experimentando saborosos vinhos

Bruna Policena


A  cidade gaúcha Bento Gonçalves, também conhecida como Cruzinha e Colônia Dona Isabel, foi erguida onde antigamente era um distrito da cidade de Montenegro. A região já era morada dos índios caigangues, mas estes foram desalojados violentamente pelos chamados ‘bugreiros’, abrindo espaço, no fim do século 19, para que o governo do Império do Brasil decidisse colonizar a região com uma população europeia. Ao longo dos 127 anos, o município foi recebendo milhares de imigrantes, em sua maioria italianos da região do Vêneto, mas com alguns integrantes de outras origens como alemães, franceses, espanhóis e polacos, tendo de desbravar uma área ainda quase inteiramente virgem.

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Depois de um início cheio de dificuldades e privações, os imigrantes conseguiram estabelecer uma próspera cidade, com uma economia baseada inicialmente na exploração de produtos agropecuários, com destaque para a uva e o vinho, cujo sucesso se mede na rápida expansão do comércio e da indústria na primeira metade do século 20. Durante o primeiro governo de Getúlio Vargas, houve uma séria crise entre os imigrantes e seus primeiros descendentes e o meio brasileiro. Depois da Segunda Guerra Mundial, a situação foi apaziguada, e brasileiros e estrangeiros passaram a trabalhar em comunidade. No ano passado, a cidade adotou o ‘talian’ como língua co-oficial, juntamente com o português. 

Vale dos Vinhedos

Várias cidades da Serra Gaúcha tiveram histórias semelhantes. Entre os municípios de Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo do Sul, está o Vale dos Vinhedos, conhecido assim pelos vales que compõem uma paisagem natural exuberante e pelos famosos vinhedos e vinícolas. As uvas de castas nobres cultivadas no Vale dos Vinhedos originam os vinhos finos, hoje reconhecidos no mundo inteiro.

O Vale dos Vinhedos é a única região do Brasil a conquistar Indicação de Procedência, e o roteiro é certo para quem deseja conhecer a cultura da uva e do vinho. O Selo de Indicação de Procedência Vale dos Vinhedos (I.P.V.V.) garante a procedência com qualidade do que é produzido na região, distinguindo-os dos demais. 

Os vinhos e espumantes produzidos no Vale dos Vinhedos precisam ser elaborados com as uvas provenientes do mesmo, e engarrafados na sua origem. Também é necessário realizar testes com especialistas técnicos da Embrapa Uva e Vinho e da Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos Aprovale).

Rota dos Espumantes

Garibaldi, outra cidade que compõe o vale dos vinhedos há mais de um século, produz os mais refinados sabores da autêntica gastronomia italiana aliada aos mais finos champanhas franceses, elaborados por processos como o charmat e o champenoise. A cidade está a 19 minutos de Bento Gonçalves. A Rota dos Espumantes é um ótimo passeio turístico. É possível conhecer as cidades percorrendo poucos quilômetros de carro ou de Maria fumaça, que é outra atração da cidade. 

Nesta rota, o turista pode degustar deliciosos espumantes produzidos na cidade, com fama nacional e internacional. A visita ao local e o processo de elaboração da bebida também é um dos passeios mais especiais, já que a cidade conta com o charme de sua arquitetura histórica, beleza da paisagem histórica, desde a época colonial. Em Bento, o visitante encontra uma infinidade de opções de vinícolas para visitar. De pequenas e grandes vinícolas, entre multinacionais e cooperativas, aqui vão algumas sugestões: Peterlongo, Cooperativa Garibaldi, Coumayer e Chandon do Brasil. 

Pipa Pórtico

A Pipa Pórtico é considerada o cartão de visita da cidade. Um barril de vinho medindo 17 metros de altura já adianta aos visitantes que. ao chegar a Bento Gonçalves, estará entrando literalmente no mundo do vinho. Foi construída em 1985, e esta, atual, substitui a existente, que era de madeira. 

Epopeia Italiana

A Epopeia Italiana é um parque temático da cidade que tenta reviver e fazer os seus visitantes sentirem como era o cotidiano dos imigrantes italianos nos anos de 1875, que marcou a chegada dos primeiros italianos na região. O cenário e as apresentações retratam as belezas históricas da época e as necessidades enfrentadas pelos imigrantes que saíram da Itália destino ao Brasil.

Caminhos de Pedra

Caminhos de Pedra passou a ser concebido a partir da realização de um levantamento do acervo arquitetônico de todo o interior do município. O roteiro é um verdadeiro museu vivo, na zona rural de Bento Gonçalves, onde os descendentes dos imigrantes recebem o visitante, colocando-o em contato com a originalidade da sua cultura, por meio da preservação da arquitetura, dos ofícios, dos costumes, do dialeto ‘talian’ e gastronomia.

Igrejas e Catedrais

A Igreja Matriz Cristo Rei, inaugurada em 14 de novembro de 1954, tem uma beleza singular. A obra foi realizada durante cinco anos, com tijolos e revestida de cimento com pigmentação amarela, pelo escultor alemão Alfredo Staege. As janelas são vitrais com ornamentos de brocados. E as luminárias têm um designer que lembra os parreirais da região. Para visitar, é preciso ligar com antecedência e agendar a visita.

A Igreja São Bento, “a igreja em formato de pipa”, é edificada totalmente em concreto, medindo 13,5 metros de altura e 22,5 metros de diâmetro, podendo abrigar até mil pessoas. Trata-se de uma homenagem aos imigrantes italianos que colonizaram a região, tornando-se um marco permanente da sua principal atividade: a vitivinicultura. 

As obras do Santuário Santo Antônio foram concluída em 1894, quatro anos depois de sua construção. Em 1923, foi reformada e, em 1933, foi construída a torre do Santuário, medindo 40 metros de altura.  O estilo arquitetônico é romano; seu interior é decorado pelas pinturas dos milagres de Santo Antônio; o altar é todo de mármore Carrara; as estátuas de Cristo e de Santo Antônio são de madeira maciça esculpida, e os sinos foram trazidos de Bassano-Itália.

A Capela Nossa Senhora das Neves foi construída de forma artesanal com tijolos. E, por conta de uma forte estiagem que assolava a região, não havia água para a argamassa. No entanto, foi em fevereiro de 1905 que os moradores da Linha Leopoldina, no interior de Bento Gonçalves, colheram a melhor safra de uva dos últimos anos. E já que sobraria muito da safra, os fieis resolveram usar o vinho no lugar da água – como o vinho representa o sangue de Cristo. E foi inaugurada em 5 de agosto de 1907. 

Vale do Rio das Antas

A 25 km de distância da cidade, está situada a Ponte Ernesto Dorneles, também conhecida como “Ponte do Rio das Antas”, uma das maiores do mundo, em arcos paralelos suspensos. Pelo caminho, o visitante encontra tendas de produtos coloniais, artesanato e lanchonetes com vista panorâmica, onde podem ser observadas as águas do Rio das Antas, formando uma enorme ‘ferradura’ ao redor de uma montanha.

Esportes radicais

Para quem procura por aventura, a cidade de Bento Gonçalves não fica para trás. O rafting e o jeep tour são outras atrações para visitantes, assim como a descida pela correnteza das águas do Cachoeirão do Rio das Antas, com duração de duas horas e 30 minutos, entre os limites dos municípios de Nova Roma do Sul e Nova Pádua, a 35 km do Centro da cidade; são 12 km de descida em corredeiras de níveis III e IV. 

O jeep tour percorre caminhos ‘aventureiros’ em meio aos parreirais e vegetação agreste da serra. O passeio sai do Centro da cidade, em direção ao Vale do Rio das Antas, passando pelo ponto mais alto de Bento Gonçalves, a 720 metros acima do nível do mar. Outros pontos a serem considerados são: um túnel desativado da viação férrea de 277 metros de comprimento; um viaduto, também desativado, de 65 metros de altura; o Belvedere da Ferradura, no Rio das Antas, e trilhas radicais construídas pelos imigrantes italianos no meio da mata nativa. 

 

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