Bergman, o mito do cinema sueco, nos trouxe o melhor que o cinema tinha a oferecer

O diretor sueco experimentou a estética em seus filmes antes mesmo de isso se tornar tendência e fez história em um país não tão reconhecido por suas obras cinematográficas.

Postado em: 05-09-2021 às 18h25
Por: Luan Monteiro
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O diretor sueco experimentou a estética em seus filmes antes mesmo de isso se tornar tendência e fez história em um país não tão reconhecido por suas obras cinematográficas | Foto: Reprodução

Definir Ingmar Bergman é uma tarefa extremamente complicada. Até hoje, 14 anos após sua morte, muitos críticos e apreciadores da sétima arte tentam compreender o maior do cinema sueco sem sair da superfície. Em sua trajetória dentro do cinema, o diretor experimentou tudo e mais um pouco através de suas obras e nos presenteou com suas percepções sobre humanidade, amor, fé e existencialismo.

Sua obra sobrevive até os dias atuais devido seu amor pelo cinema e sua vontade de se tornar eterno. Seus filmes, sempre magistrais e com algo profundo a dizer, nos dá percepções sobre a sociedade, solidão e dor.

Na opinião desse jovem jornalista, a obra prima de Bergman, Persona (1966), é o conhecimento sobre nossa solidão, nossa distância, nossa falta de habilidade de realmente se conectar com os outros. No filme, o diretor faz com que confessamos nosso medo dos homens, de errar e da morte a nós mesmo durante seus quase 90 minutos de duração.  

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Persona é um drama sobre desespero, silêncio, terror e sobre a vida. O filme é uma história de uma pessoa que fala de outra pessoa que não diz nada. Em seguida, elas comparam suas mãos e finalmente elas se fundem uma na outra.

Para a interpretação de Persona existem três vertentes recorrentes. Uma, afirma que Alma e Elisabet são duas pessoas distintas, passando pelo exato problema que o filme apresenta. Outra, diz que Alma é a persona de Elisabet e a última, diz que Elisabet é a persona de Alma. Neste ponto, é preciso ter uma ideia bem clara sobre o filme: ninguém nunca vai entendê-lo por completo. E isto é o que torna a obra única.

Desde seu lançamento, em 1966, ela vem acumulando dissertações e teses das mais diversas ordens, debates acalorados sobre personalidade e convivência, críticas sobre técnica e beleza cinematográficas e, mesmo assim, ainda há coisa nova para ver e interpretar no filme, que não envelheceu um único segundo desde então.

Experimental e metalinguístico, Persona é uma obra que usa de sua própria temática para descobrir-se, destruir-se e reconstruir-se, seja pelo gancho inicial e final, seja no momento da quebra dramática, no ápice da dissociação de personalidades. O filme simplesmente se queima, no meio da projeção, lançando-nos uma série de imagens, o mundo exterior onde tudo é som e fúria, para então voltar ao ponto em que estava. Ou pelo menos é isso que a gente acredita, a princípio.

É praticamente impossível especificar o que de fato acontece no final do filme, principalmente por ser é um exercício unicamente pessoal, mas é importante relembrar que não existe uma interpretação fixa para o destino das personagens aqui. Bergman comentou diversas vezes que o filme pode significar “tudo e nada ao mesmo tempo”, cabendo ao espectador usar do que tem em mãos, ou seja, o próprio filme, para justificar e alimentar sua versão do que é a história.

Persona é um filme difícil. É filme que parece não ter sentido algum, e a rigor, ele não tem. A obra é um exercício de troca com o público, que precisa usar as peças e adequá-las, de alguma forma, nas estantes de símbolos que o diretor constrói; é um filme incômodo e experimental, no sentido técnico e narrativo da palavra. Uma mudança total para Bergman e uma pérola inestimável para o cinema, que se transforma a cada vez que a gente assiste. Um filme como nenhum outro. Um convite à muda de máscaras, à desconstrução e fusão de si mesmo a uma outra coisa.

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