Projeto idealizado por bares do Centro de Goiânia proporciona retomada cultural na Rua 8

Sem apoio da Prefeitura, revitalização do Centro depende da iniciativa privada e do interesse da população

Postado em: 12-11-2021 às 11h27
Por: Giovana Andrade
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Sem apoio da Prefeitura, revitalização do Centro depende da iniciativa privada e do interesse da população | Foto: Reprodução

O Centro de Goiânia, que até a década de 90 concentrou grande parte do movimento cultural e das atividades de lazer da capital, está passando por um processo de retomada, em grande parte conduzido pela iniciativa privada e pelo próprio público, que deseja ocupar suas ruas e reacender a vida noturna nesta parte da capital. No último ano, um número significativo de bares foi aberto na região e, graças também ao recente declínio da pandemia de Covid-19, cada vez mais pessoas se dirigem ao setor para se divertirem.

Na rua 8, que abriga também o histórico Cine Ritz, dois estabelecimentos cumprem um papel importante no processo de ocupação do Centro. Um deles, o Zé Latinhas, existe no mesmo lugar desde 1967, trocou de dono em 1985 e passou por uma transformação recente, no início de 2021. O restaurante, que continua funcionando durante o dia, pertencia ao avô de Áureo Silva, que agora divide a administração do bar com mais dois sócios, Beatriz Gonçalves e Robert Dantas.

Áureo conta que o bar teve um crescimento muito rápido, recebendo cada vez mais público. “Deu muito certo, o público teve o retorno, a gente recebe muita gente durante o fim de semana, e até durante a semana já tá acontecendo”, diz.

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Segundo Beatriz, que é arquiteta e urbanista, o segredo por trás desse retorno tão rápido é o extenso planejamento que ocorreu antes do lançamento do projeto. “Antes de abrir o bar a gente ficou muito tempo planejando, eu e o Áureo somos arquitetos, ele e o Robert já tinham experiências com bar, então a gente tinha experiência na área”, explica.

O conhecimento em arquitetura e urbanismo, além de auxiliar no projeto de reforma do estabelecimento, deixou clara a importância de ocupar o Centro, uma parte histórica da cidade. “A gente sabia a relevância que tinha de revitalizar o Centro e de trazer vida pra esse lugar. O nosso objetivo era criar um lugar que fosse democraticamente acessível pra todas as pessoas”, relata.

Somado ao Zé Latinhas, um velho conhecido reabriu as portas, desta vez na rua 8. A Casa Liberté, que antes ficava em um casarão na rua 19, permaneceu fechada durante a maior parte de 2020, em consequência da pandemia de Covid-19, conforme conta Heitor Vilela, dono do bar. 

“Preferimos fechar as portas para garantir a integridade de toda a equipe e clientes, além de não corroborar com negacionistas e com o governo criminoso do Bolsonaro”, conta. Para a reabertura, a casa adotou uma nova dinâmica, em um lugar mais aberto, com mesas na rua, semelhante ao Zé Latinhas. “A Rua 8 foi a escolhida pelo charme e o potencial cultural que tem agregado na região”, complementa Heitor.

Segundo ele, é maravilhoso voltar à ativa neste momento, com a pandemia mais controlada graças ao avanço da vacinação. “Tanto nós quanto os clientes estavam morrendo de saudades. Nosso público é muito fiel e recebemos apoio e muito carinho de todos desde quando decidimos fechar as portas até agora na reabertura”, relata.

Além dos serviços oferecidos por ambos os bares, os administradores, em uma parceria da Casa Liberté e do Zé Latinhas com o Muquifu Cultural, um coletivo de arte que também faz morada na rua 8, idealizaram o evento chamado Centrão. Nas duas edições realizadas até agora, o projeto contou com quase nove horas de discotecagem, feira de discos e banca de produtos de artistas independentes.

Segundo Heitor, a expectativa é que cada vez mais pessoas e iniciativas se juntem, produzindo frutos positivos e enriquecendo a cena cultural da capital. “A ideia é movimentar aquela região do centro, que é o coração cultural da cidade, com cinemas, teatros e bares, com cada vez mais eventos conjuntos. O Muquifu, o Zé Latinhas e a Liberté deram esse primeiro passo para organizar um evento do nível do Centrão”, expõe. 

“O Centrão é um evento dos vários que devem acontecer, não só de edição mas outros tipos de eventos também. Ele foi muito importante pra gente ver que tem o público, e o público precisa disso”, conta Áureo. 

Na perspectiva do arquiteto, o Zé Latinhas transformou a ideia de ir exclusivamente a um determinado estabelecimento. “Então atingiu o objetivo que a gente sempre quis, que não era movimentar só a gente, era movimentar a rua e a região, e hoje isso acontece”, comemora. 

“Isso tem um valor pra cidade que é muito grande, porque dificilmente um planejamento consegue prever esse tipo de coisa. Geralmente se prevê coisas muito burocráticas, mas prever que uma rua vai estar ocupada sempre e não por um lugar específico, isso talvez seja a coisa mais valiosa pro urbanismo”, conclui.

Nesse contexto, os maiores beneficiados são o Centro da cidade, que há muito carece de um movimento de revitalização, e a população goiana, afinal, quem procura uma programação, agora  tem a rua 8 como uma referência de possibilidades plurais e, acima de tudo, acessíveis.

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