No coração de Goiânia, movimento pela preservação e ocupação da Rua do Lazer enfrenta desafios

Produtor cultural explica que os projetos independentes carecem do apoio do poder público para se consolidarem, e faltam políticas públicas de cultura e lazer nesse sentido

Postado em: 14-11-2021 às 11h42
Por: Giovana Andrade
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Produtor cultural explica que os projetos independentes carecem do apoio do poder público para se consolidarem, e faltam políticas públicas de cultura e lazer nesse sentido. | Foto: Reproduçao

Nos últimos meses, o Centro de Goiânia vem passando por uma forte retomada cultural, proporcionada principalmente pela iniciativa privada, com abertura de bares e realização de projetos independentes, e possibilitada pelo público, que se interessa e faz questão de ocupar esses espaços. Ainda hoje, no entanto, por falta de uma política cultural que valorize as ações em espaços públicos, o setor não explora todo seu potencial.

A histórica Rua do Lazer, por exemplo, que na década de 70 constituía a parte mais boêmia da capital, é um espaço de resistência que busca oferecer opções acessíveis de lazer e cultura, mas que enfrenta desafios. O produtor cultural Diógenes Mendes, que administra um dos bares ali localizados, conta que o local sofreu ações truculentas que vão no sentido oposto do processo de revitalização.

“Tivemos um incidente catastrófico, uma ação truculenta e de total despreparo da GCM, na qual chegaram atirando bombas e coagindo músicos, professores, famílias e outros mais que ali se encontravam de forma passiva ouvindo música popular brasileira. Uma atitude extremista, despreparada e sem justificativa”. Ele destaca ainda que o mesmo não é obervado em regiões nobres da capital.

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Dessa forma, é possível concluir que o desprezo com que o Centro muitas vezes é tratado advém do fato de que se trata de uma região popular, frequentada por um público plural. “Somos resistência total, lutando pra reflorecer a cultura nas veias dilaceradas da nossa capital, tentando levar um direito universal à cultura, à educação, a ações de incentivo à arte como um todo”, relata Diógenes.

O produtor cultural explica que, embora os projetos desenvolvidos nesse sentido estejam transformando a realidade de região, reacendendo a vida noturna no setor graças a iniciativas independentes e à presença do público, que faz questão de ocupar essas ruas, a ausência de apoio da gestão municipal dificulta o processo de revitalização.

“Precisamos de mais incentivo por parte da prefeitura e dos órgãos responsáveis, que só aparecem na hora de multar ou de conduzir ações bizarras como a que presenciamos recentemente. A gente precisa da parceria deles, monitoramento durante os eventos, incentivo à segurança das pessoas que transitam nos locais, porém nunca aparecerem, mesmo oficializado os movimentos culturais junto à PM e à Guarda Municipal”, diz.

O empresário Heitor Vilela, que comanda um bar na Rua 8, vizinha da Rua do Lazer, compartilha da visão e dos objetivos de Diógenes, buscando ocupar espaços que por direito pertencem à população goiana, e que merecem ser explorados em todo seu potencial.

“O que defendemos e lutamos é o direto de acesso a cidade. Queremos utilizar, acessar e ocupar as ruas da cidade. O poder público além de abandonar e esvaziar os espaços culturais do Centro, ainda se esforça em tolir e reprimir brutalmente iniciativas independentes. Vamos buscar diálogo e sobretudo resistir, políticas públicas de cultura e lazer não podem ser resolvidas apenas com força policial”, defende.

“Isso tem que ser um manifesto, precisamos mostrar que Goiânia tem vários e excelentes artistas e muita coisa pra se mostrar. Muita gente nem conhece os locais, os pontos culturais”, complementa Diógenes.

Ele explica que hoje, está em processo de construção o Sindicato dos Bares da Rua do Lazer, na tentativa de ter uma maior autonomia e produzir, em parceria com a Prefeitura de Goiânia, movimentos culturais e populares que possam reviver os momentos de ouro da Rua do Lazer e reflorecer os movimentos culturais no centro da cidade.

A consolidação desse projeto é algo que só tem a somar, tanto para o Centro de Goiânia, que há muito carece de um movimento de revitalização, quanto para a população da capital, a partir da possibilidade de desfrutar de iniciativas culturais plurais e acessíveis, além de manter viva a história da cidade, o que já deveria ser motivo mais do que suficiente para incentivar o poder público a colocá-lo em prática.

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