“Ópera Secreta”, novo filme de diretora goiana, explora o poder de comunicação da música

O curta-metragem, que tem pré-estreia programada para o início de 2022, trata de temas como a solidão, o isolamento das pessoas na sociedade contemporânea e o poder da arte nesse contexto

Postado em: 02-12-2021 às 15h46
Por: Giovana Andrade
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O curta-metragem, que tem pré-estreia programada para o início de 2022, trata de temas como a solidão, o isolamento das pessoas na sociedade contemporânea e o poder da arte nesse contexto. | Foto: Divulgação

Estreando no campo da ficção, a documentarista goiana Viviane Louise explora em Ópera Secreta, seu novo curta-metragem, a solidão e o isolamento das pessoas na sociedade contemporânea e o poder de comunicação da arte. A pré-estreia do curta está programada para o início do próximo ano, assim que o Cine Cultura, que permanece fechado por conta da pandemia, reabrir suas portas ao público.

O curta tem como protagonista o jovem Alexandre (Guilherme Rodrigues), um rapaz do interior de São Paulo que veio para Goiânia para estudar Medicina. Sem amigos e parentes na capital e muito tímido, ele tem uma rotina exclusivamente voltada para os estudos e passa grande parte do tempo trancado no seu apartamento de quarto e sala no Centro da capital, isolado do mundo exterior. 

Esse cotidiano, no entanto, sofre um abalo quando Alexandre passa a escutar uma mulher na vizinhança que canta árias como Habanera, da ópera Carmen, de Bizet. Seduzido pela potência e beleza daquela voz, Alexandre acaba apaixonando-se por essa mulher sem rosto que embala as suas noites solitárias.

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Na tentativa de descobrir quem é ela, o estudante se vê obrigado a sair do seu isolamento e começa a interagir com outros personagens, como um morador de rua (Rodrigo Cunha), que também fica fascinado pelo canto da artista desconhecida, além de outras vizinhas e da síndica do prédio onde mora, as quais, por sua vez, se sentem incomodadas por essa música que soa tão incomum aos seus ouvidos.

No final da sua jornada, Alexandre descobre que a musa que idealizara é uma mulher madura (Valéria Braga), tão solitária quanto ele, mas que ainda conserva seu poder de sedução.

Para Viviane, a música é o personagem principal do filme, por seu poder de tocar e aproximar as pessoas. Na seleção das árias, ela fez questão de incluir Quem Sabe, de Carlos Gomes, não só para garantir uma presença brasileira na trilha sonora, mas também como forma de homenagem a seu pai, que adorava cantar boleros e era um grande apreciador desta canção em particular.

Ao lado da música, Viviane chama a atenção para outros temas que o filme explora, seja de forma mais evidente, seja de forma mais sutil: a solidão urbana e a falta de comunicação entre os indivíduos, problemas da contemporaneidade que se agravaram em tempos de pandemia; a situação dos moradores de rua, exemplificada pelo personagem vivido por Rodrigo Cunha, e a própria questão da violência contra as mulheres, uma vez que a figura mítica da Carmen da ópera de Bizet foi vítima de feminicídio.

Rodrigo e Valéria contracenam com o estreante Guilherme Rodrigues, e as atrizes Eliza Araújo, Simone Dezzen e Lara Carvalho, no papel das vizinhas do estudante de Medicina, completam o elenco. A produção conta ainda com a participação da cantora lírica Ângela Barra, que empresta a voz à cantora misteriosa do curta, interpretando as árias Habanera (Carmen), Quem Sabe (Carlos Gomes) e Ave-Maria (Gounod). Já o roteiro é assinado pela cineasta Jaqueline Farid, com diálogos de Farid Tavares, que também responde pela direção de produção. O projeto foi bancado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) de Goiás.

Filmagens

As filmagens de Ópera Secreta ocorreram no mês de agosto de 2021, durante quatro dias, e tiveram como cenário dois apartamentos em prédios vizinhos situados na Rua 16, no Centro de Goiânia, que também serviu de palco para algumas tomadas externas. A cantora Ângela Barra cedeu o apartamento onde vivem os seus pais, também localizado no Centro da capital, para servir de ambiente da cena final do filme, onde se pode ver um imponente piano na sala de estar.

Já as sessões de gravação das árias foram realizadas no Centro Cultural Martim Cererê. “A Angela foi extremamente generosa. Sua voz continua muito potente. O resultado ficou muito bom”, elogia a diretora Viviane Louise.

A atriz e diretora de elenco Valéria Braga, parceira de longa data da diretora Viviane Louise, afirma que os personagens, assim como as pessoas na sociedade contemporânea, vivem “em bolhas, cada um com sua verdade, com sua insegurança”. Apesar da pequena participação na história, Valéria destaca que a personagem que interpreta, a misteriosa cantora lírica, carrega uma profunda complexidade. Por ser uma pessoa deslocada, que não se adapta à época atual, “ela criou um tempo próprio para viver”, observa.

Documentarista premiada, diretora de filmes como Anjo Alecrim (2005), Café com Pão Manteiga Não (2007), O Vento da Liberdade (2011), e A Dama do Cerrado e o Exército de São Francisco (2015), Viviane Louise há muito tempo tinha o projeto de filmar uma narrativa ficcional, embora, nos seus projetos anteriores, tenha sempre trabalhado com uma linguagem híbrida, entre o documentário e a ficção.

A oportunidade surgiu quando Jacqueline Farid e Farid Tavares lhe apresentaram o roteiro de Ópera Secreta. Atualmente, ela se dedica à produção de outra ficção, mas em longa-metragem: o filme Joana Boba, que terá como cenário a cidade de Goiás.

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