Uma profissão que tem se reinventado

Cresce a presença de homens no mercado de trabalho de moda. E a alfaiataria, apesar de ser um dos mais antigos ofícios do mundo, mostra que está se adaptando aos novos tempos

Postado em: 20-11-2017 às 09h15
Por: Kamilla Lemes
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Cresce a presença de homens no mercado de trabalho de moda. E a alfaiataria, apesar de ser um dos mais antigos ofícios do mundo, mostra que está se adaptando aos novos tempos

A profissão de alfaiate já chegou a ser considerada como quase que extinta, mas hoje esse ofício, tido como um dos mais antigos do mundo, se modernizou. Atualmente, além dos ateliês onde são feitas peças exclusivas e sob medida, os alfaiates também estão presentes nas grandes indústrias. São eles os responsáveis pela definição do desenho do molde de uma roupa, pela escolha do tipo de tecido, adereços, do corte e da costura a serem usados numa roupa.


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De acordo com Mônica Rodrigues, professora dos cursos técnicos de Modelista e Técnico em Produção de Moda  do Senac Goiás, diferente de outras funções do ramo de moda e confecção, como por exemplo a de costureiro, o alfaiate possui um nível maior de conhecimento. “Ele trabalha todas as etapas da confecção de uma peça. Ou seja, ele pega uma ideia já criada e que esteja num papel ou numa imagem de revista, desenha o molde, faz o corte e costura toda a peça”, explica Mônica Rodrigues.


A professora do Senac afirma que, mesmo numa produção em larga escala, algumas grandes indústrias contratam esse profissional visando imprimir mais qualidade em seus produtos, principalmente no que diz respeito ao acabamento e ao caimento das roupas. “Mesmo não sendo responsáveis pelas criações, o que é feito pelos estilistas, os alfaiates também fazem o que chamamos de alta moda. Eles desenvolvem peças com uma melhor qualidade, com caimento exclusivo, com mais cuidado no acabamento”, frisa Mônica Rodrigues.


O novo alfaiate

O supervisor de modelagem do Grupo Jean Darrot, Geraldo Gomes Ribeiro, 47 anos,  é um desses profissionais que levou o conhecimento e a arte da alfaiataria para a indústria. Ele conta que teve contato com o ofício de alfaiate ainda bem cedo, aos 13 anos de idade. “Eu aprendi com meu tio, que era alfaiate, e trabalhei com ele até os meus 18 anos. Aprendi a fazer ternos, camisas e calças sociais. Depois fui para o ramo da confecção e comecei a trabalhar com jeans e malhas”, conta.


Com 28 anos de atuação no segmento de moda e confecção, Geraldo diz que os alfaiates de hoje em dia de fato estão tendo que se reinventar e que a indústria da moda tem absorvido muito da experiência desses profissionais, com objetivo de levar mais qualidade às suas peça. “Muito desse trabalho da alfaiataria foi resgatado pela indústria, com o intuito de trazer  uma vestibilidade melhor para as peças, um acabamento também melhor e assim fazer um  produto com muito mais qualidade”, destaca.


Mais homens

Goiânia e sua região metropolitana detém o título do sexto maior pólo de confecções do Brasil. A capital e seus municípios vizinhos respondem por 70% das confecções de Goiás, gerando mais de 200 mil empregos diretos. Desse enorme contingente de trabalhadores que atuam no comércio da moda, 80% é formado por mulheres. Os dados são do Sindicato das Indústrias de Confecções de Roupas em Geral do Estado de Goiás (Sinroupas).


Mas esse cenário tem mudado bastante nos últimos anos e os homens também têm despertado para as inúmeras e boas oportunidades de emprego nesse segmento. De acordo o gerente de recursos humanos da Jean Darrot, Antônio Pelágio Ferro, há cerca de 10 anos, 80% da mão de obra na fábrica localizada em Trindade era formada por mulheres.


Hoje, segundo ele, a situação se inverteu. “Atualmente a situação já se reverteu. Hoje temos na fábrica 320 funcionários a maioria é formada por homens, inclusive no serviço de costura, uma habilidade que até há pouco tempo era coisa quase que exclusiva das mulheres”, afirma o gerente.


Leomir Laureano da Silva, 29 anos, que trabalha no setor de modelagem da Jean Darrot, é um bom exemplo de como o mercado da moda não discrimina ninguém e oferece ótimas oportunidades de carreira, tanto para mulheres quanto para homens. Ele conta que entrou nesse segmento muito por acaso, que quando mais jovem nunca pensou em trabalhar nessa área e que ninguém da sua família lidava com costura ou moda.


“Eu estava em busca do meu primeiro emprego então aos 16 anos consegui uma oportunidade como auxiliar de acabamento. Depois com 18 anos fiz um curso no Senai de modelagem e em seguida comecei a trabalhar numa confecção como auxiliar de costureiro e depois como costureiro. Nesse tempo  fiz outros cursos de aprimoramento, como o de modelagem em CAD, que é a modelagem digital. E tenho gostado muito”, relembra.


Hoje, feliz com a carreira que escolheu por acaso, Leomir trabalha no setor de modelagem da Jean Darrot como costureiro pilotista. A função exige uma habilidade e experiência maiores, já que as roupas que ele faz são as mesmas usadas nos desfiles de lançamento de coleção.


Preconceito

Professora dos cursos técnicos de Produção de Moda e de Modelagem do Senac Goiás, Mônica Rodrigues, também afirma que a participação masculina no mercado de trabalho da moda tem aumentado nos último anos. Mas ela salienta que pelo número de oportunidades geradas nesse setor em Goiânia, a presença masculina poderia ser bem maior, se não fosse um certo preconceito que ainda existe. “Nas turmas com que costumo trabalhar a maioria ainda é formada por mulheres e 25% por homens. Mas percebo que ainda há um preconceito grande, por parte dos próprios homens, em ingressar nesse mercado, apesar de muitos terem vontade e talento”, afirma.


Outra mudança importante de cultura, segundo a professora, é que os alfaiates que tradicionalmente só faziam roupas masculinas como ternos e calças sociais, hoje buscam se capacitar para também fazer peças femininas. “Antigamente era comum os alfaiates fazerem somente roupas para homens, afinal ter um terno sob medida era algo muito valorizado. Mas hoje se usa muito menos ternos e calças sociais do que há 20 ou 25 anos. Até porque esse tipo de roupa também passou a ser feito em larga escala. Por isso esses profissionais, que já tinham uma enorme habilidade de corte e costura, têm buscado se atualizar e se diversificar, aprendendo a fazer a fazer roupas femininas também, principalmente vestidos sociais que requer um trabalho mais detalhado e artesanal”, revela a professora.  

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