Livro sobre memórias e receitas de ‘Goyaz’ será lançado nesta terça (5)

Publicação objetiva salvaguardar a identidade cultural do Estado a partir de experiências gastronômicas

Postado em: 05-12-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Livro sobre memórias e receitas de ‘Goyaz’ será lançado nesta terça (5)
Publicação objetiva salvaguardar a identidade cultural do Estado a partir de experiências gastronômicas

GABRIELLA STARNECK*

Continua após a publicidade

O livro Nádia Köller: Memórias e Receitas de Goyaz, escrito por Ana Christina da Rocha Lima, será lançado, nesta terça-feira (5), no Palácio das Esmeraldas. O intuito da obra é salvaguardar a memória e a identidade cultural do Estado a partir de experiências gastronômicas. Segundo a autora, o resgate histórico se iniciou com a própria Nádia Köller, responsável pelos registros originais de saberes construídos, cotidianamente, nas cozinhas que ela frequentava. “As cozinhas eram o epicentro, o pulso da casa, o domínio do feminino”, ressalta Ana Christina. O livro conta com o apoio do Fundo de Arte e Cultura de Goiás.

A obra é uma publicação da Nega Lilu Editora com o selo Eclea, que é dedicado exclusivamente para publicação de obras que têm relação com preservação de memória. Segundo Larissa Mundim, responsável pela editora, Nádia Köller: Memórias e Receitas de Goyaz é um livro ousado por se diferir dos demais no projeto gráfico. “A gente tem, a partir dos aspectos relacionados à afetividade que estão contidos no livro, um acabamento que dialogue com esse sentimento”, afirma Larissa. Se nós temos um livro comum, ele está em uma estante, e fica em pé de igualdade com os outros. Então uma obra que tem um diferencial pelo acabamento e pelo design gráfico, sem dúvida, é mais atrativo!”, completa. 

Livro

Há 50 anos, Nádia Köller transformou o caderno de anotações da contabilidade da loja Irmãos Rocha Lima (1962) em um caderno de receitas. Ali, ela registrou os segredos da Bala de Café da Edina, do Pastelinho da Babita, da Rosca da Dona Tula e mais de 200 outros pratos da culinária goiana, “motivo de intercâmbio, ciúmes, boicotes e homenagens”. Sem suspeitar da relevância daquele registro, Nádia anotou receitas que compunham o cardápio de sua casa. Algumas delas, como o Pudim de Pão (tia Mariquita), existiam desde o século 19. 

Por esse motivo, segundo Ana Christina, o resgate histórico se iniciou com a própria Nádia, responsável pelos registros originais de saberes construídos, cotidianamente, nas cozinhas que ela frequentava, na segunda metade do século passado. “O livro é um objeto com características múltiplas e provoca questões diversas. A primeira delas é que este livro tem a função de resgatar, difundir e disponibilizar para gerações futuras parte das receitas que eram feitas cotidianamente nas casas da cidade de Goiás no século passado”, afirma Ana.

Objetivo

Segundo Ana, a culinária integra aspectos da cultura que fazem parte da identidade local, e conhecê-las é apropriar um pouco da história do Estado. “É importante que a nossa história seja preservada, pois propicia que uma pessoa se aproxime de suas origens. Outro aspecto importante é que, através das receitas, entramos em contato com algumas das autoras, e fizemos uma microbiografia, com fotos, além de executar as receitas e atualizá-las para que possam ser reintegradas ao nosso cotidiano. A história dessas mulheres também faz parte do patrimônio imaterial, e deve ser preservada como exemplares de nossa cultura”, completa a autora.

Ana destaca que o livro escrito por Nádia Köller tem uma história muito importante, exemplo de força e graça para lidar com questões que a fizeram se tornar uma mulher tão interessante. “É uma homenagem a ela, pois o caderno de receitas original faz 50 anos neste ano. Apaixonar-se por Nádia Köller é uma maneira interessante de abrir espaços para as diferenças e a aprender a viver com elas. Na segunda parte do livro, temos as receitas transcritas literalmente, um documento que convida as pessoas a experimentarem e testarem essas receitas; é uma aventura!”, ressalta Ana.

Projeto gráfico

Segundo Larissa, Nádia Köller: Memórias e Receitas de Goyaz provavelmente está entre os livros mais complexos produzidos pela editora Nega Lilu em função do acabamento que foi demandado. “Nós temos fotografia na capa, que é uma capa dura, mas também pensamos no aspecto afetivo que o livro traz – de alguma forma manifestado por meio dos materiais.  É um esforço muito grande da nossa editora trabalhar de forma muito afinada com um projeto gráfico, que transforma o livro em um objeto de desejo. Esse é o diferencial da editora”, afirma. 

O livro, para enfatizar os aspectos afetivos, possui uma capa com tecido para trazer aconchego ao leitor. O tecido que compõe a capa é feito de algodão cru – que foi lavado e passado antes de ser impresso. “A gente traz uma ousadia por meio da escolha do papel. A Nega Lilu Editora nunca foi convencional e nunca vai ser. A gente está tratando um assunto que, em tese, seria tradicional – culinária Goiânia –, mas que está muito afinado com a proposta do livro, tentando trazer ousadia pra ele”, destaca a responsável pela editora. 

Ainda de acordo com Larissa, em um tempo no qual o livro é pouco acessado pelas pessoas no País, uma obra não pode ser simplesmente boa; ela também precisa ser bonita para se tornar um objeto desejado pelo leitor.  “Em um País que tem potencial enorme de leitura, mas, que em função da ausência de uma cultura implantada de leitura, lê pouco, ou menos que o potencial que ele tem, o livro precisa ter um diferencial”, afirma ela. Até porque os livros eletrônicos estão ocupando um espaço que antes era ocupado apenas pelo livro de formato físico, então ele precisa ter um diferencial. “Esses dois aspectos nos estimulam a produzir cada vez mais livros lindos, atrativos, que possam surpreender o leitor”, completa a editora.

*Integrante do programa de estágio do jornal O HOJE sob orientação da editora Flávia Popov 

SERVIÇO

Lançamento do livro Nádia Köller: Memórias e Receitas de Goyaz – Nega Lilu Editora

Quando: terça-feira (5 de dezembro)

Onde: Salão Dona Gercina (Palácio das Esmeraldas, Praça Cívica – Goiânia)

Horário: 19h

Valores: R$ 60; preço promocional de lançamento: R$ 50

Entrada franca

Entrevista: Ana Christina da Rocha Lima 

Como surgiu a ideia de escrever um livro que aborda uma temática que contribui para a preservação de memória?

Este livro foi feito por meio de um caderno de receitas que pertencia a minha família. O caderno em si já representa um primeiro registro do nosso patrimônio imaterial, deste saber que circulava pelo universo feminino das cozinhas. O que fiz foi dar mais um passo, que foi principalmente registrar as histórias que existiam ali como senhas – a história dessas mulheres, uma mirada para a cidade através da história de suas vidas. Tem muito tempo que essas histórias circulavam por mim, e também o caderno de receitas já existia, e o vi na cozinha da minha avó durante toda a minha vida. Por meio deste livro, eu consegui reunir as receitas e as mulheres – acho que é esta diferença e particularidade deste livro. E acho que o mais importante, apesar de pertencer a uma família, é pertencer antes à história de todos nós, portanto é um patrimônio de todos.

Qual foi o principal desafio encontrado para escrever Nádia Köller: Memórias e Receitas de Goyaz?

Como é uma obra com aspectos múltiplos, demandou produção e equipes diversas. A parte de pesquisa demandou contato, entrevistas, pesquisa em acervos, etc. Depois, fizemos um documentário que não estava previsto, e foram feitas pílulas; isso demanda uma nova produção, e será documentário. A fase de execução das receitas foi também uma aventura: registrar sabores e técnicas com mestras da Cidade de Goiás por meio da Associação Mulheres Coralinas foi um trabalho de arqueologia de sabores. E, ainda, o registro fotográfico, editorial, gráfico, etc. Foi uma produção complexa, com muito trabalho e prazer.

“O caderno de Nádia Köller guarda, nas entrelinhas, muito mais do que receitas”. O que justifica essa afirmação?

As receitas são importantes, como disse acima, mas as pessoas e os aspectos da cultura que elas representam também fazem parte do nosso patrimônio cultural. A partir das receitas, encontramos pessoas, histórias incríveis e emocionantes. Não dá para se aproximar destas histórias e não ser enriquecida com elas. 

Por que você procurou a Nega Lilu Editora para fazer o livro?

A Nega Lilu é uma editora que acredita, assim como eu, que livros têm de ser objeto de desejo. Com a facilidade e rapidez de comunicação e informação que temos através do mundo digital, o livro para ser acessado, tem que chamar  leitor, e a primeira coisa que chama é a estética, o ‘fazer bem feito’. O desejo que provoca tudo que é construído em torno deste objeto tem o objetivo final de despertar o leitor e facilitar a leitura. A Larissa Mundim faz um trabalho dedicadíssimo, e tem uma equipe muito competente. É uma parceria que vai render mais livros incríveis…

Você participou do processo de diagramação da obra? 

Fiz direção de arte, capa e produção executiva do livro. Tenho uma empresa de criação, a Ana de Hellios, e, neste caso específico, meu processo de criação foi provocado pela escrita, e a escrita provocou o projeto gráfico inicial. Mas acredito em trocas, em reconhecer o lugar e saberes de outras pessoas, e encontrei na equipe da Nega Lilu um apoio e conhecimentos que significaram uma parceria fundamental – o  livro é um projeto da equipe.

Como foi o processo de conquista do apoio do Fundo de Arte e Cultura de Goiás?

Fiz um projeto para o Fundo de Cultura, com todas as etapas previstas, inclusive o projeto gráfico inicial. A seleção é muito séria e competente, e tivemos a felicidade do projeto ter sido contemplado. Sem o apoio do Fundo de Cultura, este livro jamais seria realizado com a excelência que foi feito – as leis de incentivo são fundamentais para que a nossa cultura seja fomentada e preservada. 

Veja Também