O desafio de nos compreender

Videoinstalação do Centro Cultural UFG aproxima diferenças entre mulheres indígenas e brancas

Postado em: 15-12-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Videoinstalação do Centro Cultural UFG aproxima diferenças entre mulheres indígenas e brancas

GUSTAVO MOTTA*

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A cineasta Patrícia Ferreira, que pertence à nação indígena Mbyá-Guarani, e a artista visual Sophia Pinheiro inauguram, nesta sexta-feira (15), a exposição em vídeo A Imagem como Arma, no Centro Cultural UFG. O projeto é realizado com apoio do Fundo de Arte e Cultura de Goiás (FAC) e aproxima fronteiras entre mulheres indígenas e brancas. O trabalho fica disponível ao público, na Capital, até a próxima sexta-feira (22).

A criação da obra se iniciou, em 2016, quando Sophia Ribeiro cursava mestrado em Antropologia na UFG. Ao longo de dois anos, as duas artistas se corresponderam por vídeo-cartas, e o contato remoto estimulou a pesquisa que origina o trabalho. “Primeiramente, nós aceitamos o desafio de nos compreender”, ressalta Patrícia. A cineasta conta que recebeu Sophia na aldeia Ko’enju, em São Miguel das Missões (RS).

A visita contou com o exercício de empatia da família indígena ao receber a mulher branca e o desafio de Sophia em conviver em um espaço diferente. “Isso foi fundamental para entender os valores morais e éticos que guiam nossos comportamentos”, avalia Patrícia. Para Sophia, a experiência garantia a oportunidade de experimentar a transição entre territórios que se distinguem pela cultura.

Videoinstalação

Parte do material exposto advém das correspondências em imagem entre as duas artistas. Questões comuns às mulheres, mas pouco discutidas na antropologia – como  casa, maternidade, subjetividade da vida, dos espaços e corpos, além da desvalorização universal do mundo doméstico – são abordadas nas imagens exibidas.

Discussões sobre o corpo também são abordadas para reflexão sobre diferenças e semelhanças entre os guarani e os brancos – na linguagem nativa, os juruákuery. Na jornada de conhecimento mútuo e autoconhecimento, Patrícia conta que havia uma “espécie de consciência entre nós, como humanas”. A cineasta entende que essa consciência é a nossa identidade, de indivíduos imperfeitos, que habitam um mundo imperfeito e, ao mesmo tempo, diferentes.

Autorrepresentação

A pesquisa do projeto se ancora no estudo sobre mulheres indígenas, que produzem a sua autorrepresentação por meio do audiovisual. Patrícia avalia que a imagem é uma arma política para ser usada como o papel, em manifestações protagonizas pelas mulheres guarani, em contraposição à passividade, ao exotismo e à visão romantizada, que foi historicamente retratada pelo homem branco.

Sophia Ribeiro afirma que o projeto tem a intenção de ser exibido em aldeias em Goiás e fora do Estado. “A questão indígena e da mulher são assuntos universais”, ressalta. A pesquisadora aponta que o trabalho, desempenhado juntamente com uma artista indígena, pode ser uma arma contra o olhar preconceituoso, machista e discriminatório a respeito dos povos originários, especialmente sobre as mulheres.

*Integrante do programa de estágio do jornal O HOJE sob orientação 

da editora Flávia Popov

SERVIÇO

Videoinstalação “A imagem como Arma”

Quando: estreia hoje (15) e vai até a próxima sexta (22)

Onde: Centro Cultural UFG (Av. Universitária, nº 1.533, Setor Leste Universitário, Goiânia)

Horário: das 18h às 21h

Entrada gratuita 

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