Período de férias exige cuidados redobrados com a saúde e segurança das crianças

Queixas campeãs em atendimento no pronto socorro do local, durante as férias, incluem acidades com tombos, quedas de bicicleta e ingestão de bolas de gude

Postado em: 27-12-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Queixas campeãs em atendimento no pronto socorro do local, durante as férias, incluem acidades com tombos, quedas de bicicleta e ingestão de bolas de gude

Gustavo Motta*

Férias podem significar tranquilidade, descanso e alto astral, mas o momento para viajar com a família – e as crianças – precisa ser planejado e exige atenção aos pequenos para evitar dor de cabeça. É possível aproveitar o tempo para brincadeiras saudáveis ao ar livre, alimentação equilibrada, e cuidados com a contração de doenças e as condições de tempo que podem destruir as férias.

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A pediatra Patrícia Filgueiras dos Reis conta que as precauções começam com a escolha do destino, que precisa ser feita com antecedência, e com a participação das crianças. “É bom fazer uma consulta antes das viagens – de um a dois meses antes da partida – verificando, inclusive, as vacinas no cartão de saúde e atualizando as que possam estar atrasadas”, conta. Segundo Patrícia, o cuidado com acidentes também precisa ser redobrado: “É necessário verificar os riscos locais e orientar os filhos em atividades como ecoturismo, visitas à zona rural ou área urbana” – inclusive no ambiente doméstico.

Acidentes

Segundo informações do Hospital Materno Infantil (HMI) as queixas campeãs em atendimento no pronto socorro do local, durante as férias,  incluem acidades com tombos, quedas de bicicleta e ingestão de bolas de gude. A pediatra Ana Márcia Guimarães também cita acidentes automobilísticos com bebês, ingestão de substâncias abrasivas, medicamentos tóxicos, e queimaduras, entre as ocorrências mais registradas: “Como as crianças não frequentam o turno escolar, onde gastam muita energia, elas ficam entediadas e vão procurar o que fazer”.

Conforme a especialista, é nesse momento que os pequenos encontram situações irregulares em casa – móveis inadequados, produtos de limpeza e objetos cortantes ao alcance. Patrícia  alerta os responsáveis sobre a necessidade de um kit de medicamentos que pode evitar complicações ao bem estar das crianças, com repelente, antialérgico, protetor solar e curativos com adesivos. Ana Guimarães complementa o kit e inclui remédios para vômito, febre e pacotes de soro para reidratação.

A pediatra afirma que o ambiente doméstico precisa se adaptar à necessidades de segurança do pequenino. “Quando sai de férias, e viaja, a criança vai ao encontro de espaços que podem ser inadequados”, conta. Entre as recomendações de adequação do local, a especialista sugere que produtos químicos sejam guardados longe das crianças e que tomadas elétricas fiquem cobertas. A médica conta que, durante as férias, os casos de acidentes domésticos que chegam ao Materno Infantil se intensificam devido à exposição prolongada a situações de risco.

Tecnologia

Outro ponto destacado por Ana é a exposição excessiva à tecnologia. “A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda que bebês com menos de dois anos não sejam expostos a nenhum tipo de tela ou monitor, porque isso pode afetar o desenvolvimento da criança”, conta. A especialista ainda reforça que entre dois e seis anos, a exposição precisa ser monitorada pelo pais, e não  deve ultrapassar duas horas diárias”.

Além da SBP, a Academia Americana de Pediatria (APA) também sugere pouco contato com eletrônicos, e a não exposição de bebês com menos de 18 meses a qualquer tipo de tela. No caso  de crianças entre  dois e cinco anos, a APA orienta o uso limitado de uma hora por dia, antes das 18 horas. “O excesso de contato com monitores pode levar ao vício, com sintomas de abstinência semelhantes ao vício químico”, pontua Ana Guimarães.

A infância é identificada como um período de pleno desenvolvimento cerebral, o que requer outros tipos de contato que não são propiciados pelos meios eletrônicos. Em consonância com os riscos de acesso a dispositivos, as duas entidades elaboraram um manual de orientação sobre Saúde de Crianças e Adolescentes na Era Digital, que trata do bom senso e o repasse de informações adequadas às famílias sobre saúde e segurança infantil no contato com telas e monitores.

Atividades e alimentação

A médica do HMI conta que os pais devem ser criativos e proporcionar momentos para distrair os filhos: “levar as crianças a espaços abertos, como clubes, parques, e campos de futebol, além de desenvolver atividades de leitura – sempre com supervisão”. Atividades de ‘passa tempo’ durante as viagens também são bem vindas, conforme orienta Patrícia dos Reis: “Em caso de viagens de carro ou ônibus, é bom fazer algumas paradas para que os pequenos possam descansar, se exercitar e fazer as necessidades fisiológicas”.

A especialista recomenda que, durante essas pausas, podem ser oferecidos alimentos leves e líquidos que colaboram com a hidratação. Ana Guimarães chama a atenção para as recomendações de alimentação dos bebês: “Uma criança com menos de um ano não deve ingerir alimentos sólidos, apenas o leite materno”. O aleitamento exclusivo é orientado até os dois anos. A pediatra ressalta que guloseimas, doces e refrigerantes devem ser evitados: “Em excesso, esses alimentos podem provocar diarreia e vômitos”. Outras recomendações incluem não pular refeições e comer sempre a cada três horas.

Proteção

Durante o verão é importante redobrar os cuidados com a exposição aos raios solares e, por isso, a SBP recomenda que o contato seja evitado entre as 10h e 16h, com aplicação de protetor solar sempre com antecedência de meia-hora antes de sair a locais abertos. Patrícia recomenda o uso do produto em crianças, a cada duas horas, e a escolha do melhor protetor, que precisa ser feita com base no tipo de pele dos baixinhos.

Em regiões com grande ocorrência de mosquitos é ideal o uso de repelentes. “Devem ser aplicados sempre de duas em duas horas”, conta. Também é recomendável que seja elaborado um relatório do médico que acompanha o paciente, para que se a criança viajar, outro pediatra, em outra localidade, possa atender em caso de emergências durante as férias. Ana Guimarães afirma que nesses casos, o ideal é procurar uma unidade de pronto-atendimento.

Vacinas e exames

Ana afirma que a prioridade das vacinas, que precisam estar em dia, varia de acordo com a faixa etária da criança, mas ressalta que é importante o cartão de vacinação estar atualizado. “O ideal é que, caso seja necessário tomar algum tipo de vacina antes de viajar, ela seja aplicada cerca de 15 dias antes para que tenha efeito durante a viagem”, pontua. Apesar de cada criança ser um caso específico, a pediatra conta que o Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde (MS) estabelece uma relação básica das aplicações que precisam ser tomadas.

“É importante verificar também se a região para a qual a família se desloca não sofre algum surto de doença”, avalia a especialista. A pediatra conta que cada lugar apresenta doenças mais comuns e cita o exemplo dos Estados Unidos: “Esse é um local para onde muitas famílias se deslocam durante essa época, e por lá a doença mais frequente é um tipo de meningite cuja vacina não é oferecida no serviço público brasileiro”. A chamada ‘Meningite Tetravalente’ é prevenida por meio da vacina ACWY, que precisa ser adquirida caso o plano de viagem inclua o país norte-americano.

“O mais importante é levar as crianças preventivamente ao pediatra, que pode indicar a realização de exames”, pontua. Ana avalia que a visita pode colaborar para a atualização do cartão de vacinas, mas afirma que os exames são necessários apenas quando o médico solicita. “Testes são pedidos caso sejam detectados problemas de saúde que podem ser acarretados ao longo das férias”, finaliza.

*Integrante do programa de estágio do jornal O HOJE sob orientação da editora Flávia Popov

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