Da porteira ao palco: workshop e competições no rumo ao sucesso

Evento que debate o mercado musical sertanejo começa nesta quarta-feira (3) e reúne 200 artistas em Goiânia

Postado em: 03-01-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Evento que debate o mercado musical sertanejo começa nesta quarta-feira (3) e reúne 200 artistas em Goiânia

GUSTAVO MOTTA*

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Goiânia recebe nesta quarta-feira (3) o workshop do Mais Sertanejo Festival, que ocorre às 16h no Parrilleros Grill, Bairro Alto da Glória, e discute o caminho de artistas ao sucesso por meio de um bate-papo para quase 200 participantes. O idealizador do evento, Edy Medrado, afirma que a iniciativa surgiu de uma necessidade de atender a grande demanda de artistas que vinham à Capital para começar a carreira, mas que não tinham recursos disponíveis para financiar suas trajetórias artísticas.

“Existe uma tradição de que para estourar nacionalmente, é necessário tocar e conquistar o público de Goiânia”, conta o organizador. O Mais Sertanejo surgiu em 2007, e chegou à 5ª edição, válida para o ano passado. “Achamos que seria melhor adiar a edição 2017 para janeiro do ano seguinte, porque a data poderia entrar em conflito com as agendas de alguns participantes”, pontua o idealizador. Edy Medrado alega que as festas de fim de ano costumam reforçar os compromissos de duplas e violeiros como artistas em celebrações.

Regulamento

“Nós temos o objetivo de oferecer ferramentas para quem deseja seguir a carreira profissional”, conta o organizador. A competição acontece por etapas, com eliminatórias, semifinais e a grande final, que conta com 20 participantes – a edição atual conta com 184 inscritos. Desde a primeira edição, o Mais Sertanejo Festival recebeu mais de 750 inscrições. As eliminatórias começam no dia 10, com repescagem no dia 16. As semifinais ocorrem nos próximos 19 e 20, com repescagem em 23 de janeiro.

A previsão é de que a final se encerre no dia 26. “Temos um pódio com três finalistas que dividem, em escala crescente, um montante de R$ 300 mil em prêmios, como gravações e suporte em imagem”, conta o idealizador. Entre os prêmios, consta a produção de clipes profissionais e identidade visual, o ganho de serviços em assessoria de imprensa, fotografias profissionais, veiculação em rádios e website. “Estamos fomentando a carreira de quem não tinha apoio financeiro”, pontua. Ao todo, o concurso já ofertou mais de meio milhão de reais em prêmios.

“O festival é bem democrático, então qualquer pessoa, com conteúdo gravado ou não, sendo profissional ou não, pode se inscrever”, afirma o organizador. O projeto surgiu quando Edy Medrado identificou que havia uma falta de oportunidades para jovens artistas: “Tem muita gente talentosa que depende de dinheiro para realizar projetos e, por isso, não os alcança”. O idealizador acredita que concursos promovidos por veículos de comunicação, infelizmente, priorizam mais os interesses de audiência e sensacionalismo em detrimento da qualidade dos concorrentes.

“Por ser um produto mais fechado no meio artístico, o nosso concurso leva mais em consideração os critérios avaliados pelos nossos jurados”, ressalta. Medrado acredita que o concurso tem realizado um trabalho de base: “Para um músico chegar até uma grande gravadora ou até uma competição televisiva, é necessário que ele já tenha acumulado material e experiência”. O idealizador ressalta que as gravadoras buscam artistas que saibam se portar diante do público, e que a experiência de se apresentar no evento, somada aos conhecimentos adquiridos no workshop, ajudam a formar  “um time que dá conta das demandas de mercado”.

Programação

“Essa é a terceira edição seguida do concurso com um workshop na programação”, comemora o organizador. Medrado conta que o evento interno à programação busca discutir, por meio de bate-papo, questões práticas comuns ao cotidiano dos músicos: “Eu tenho uma música e quero abordar uma rádio, como devo proceder? Questões dessa natureza compõem as discussões do workshop”. Gestão de agendas e imagem também devem ser tratados nas conversas.

O espaço de debate conta com três núcleos temáticos – ‘Cenários comerciais e musicais da música sertaneja’, ‘Informações sobre o Mais Sertanejo Festival – 10 anos’ e ‘Qual a imagem ideal para alcançar o sucesso no mundo sertanejo?’. Edy Medrado afirma que o evento conta com a participação de profissionais de fotografia, assessoria, e comunicadores radiofônicos. Entre os convidados, estão João Augusto, fotógrafo de grandes artistas, e Ronívia Ferreira, consultora em imagem.

“Eu não acho que exista uma imagem ideal pré-concebida para um artista fazer sucesso, já que esse padrão muda ao longo dos anos – tanto que se houvesse uma fórmula, ela custaria muito caro”, aponta o idealizador do evento. Apesar de Goiânia ser considerada a ‘Capital da música sertaneja’, Medrado considera que o fomento ao gênero não tem recebido a devida atenção das empresas de música, nem do governo. “É decepcionante, porque se existe uma cidade com moral para projetar nomes de sucesso nacional, esse lugar é aqui”.

Gerações

Um dos nomes mais tradicionais na música de raiz goiana é o violeiro Sirlon Franco – músico desde a década de 1970. “Esse título de ‘Capital sertaneja’ veio nos anos 70 e 80, quando houve a explosão nacional da música de viola, misturada com outros ritmos e letras românticas”, conta o músico de raiz. “Nos anos 1970, duplas como Milionário & José Rico já vinham se apresentar na Capital goiana, e nas décadas seguintes, nomes como Leandro & Leonardo (1983) e Zezé Di Camargo & Luciano (1991) ajudaram a consolidar a noção de que Goiás era o grande polo da música sertaneja”, conta.

Tanto Sirlon quanto Edy Medrado concordam que o status de ‘Capital sertaneja’ levou uma série de duplas a se apresentar na cidade, antes de atingir o estrelato. Apesar disso, Sirlon avalia que o gênero massificado se distanciou das raízes caipiras. O violeiro afirma que o estilo difundido pelas rádios e emissoras de TV tem mais identidade com os subúrbios urbanos do que com a zona rural: “Nos anos 80, a música se apropriava de sonoridades do rock e letras românticas, e hoje se adequa até mesmo ao funk – então o que se entende hoje por sertanejo é uma mistura de tendências que se distanciou muito da origem de raiz”.

O músico também conta que o público se diferenciou ao longo dos anos: “Hoje, quem escuta esses artistas da rádio são os jovens de classe média e alta, ao invés das pessoas mais velhas que mantiveram a tradição rural”. O sucesso atual do gênero é reforçado pelas plataformas de streaming, a exemplo do Spotify, que listou seis sertanejos entre os 10 mais ouvidos nacionalmente ao longo do ano passado.

Regiões

O momento de ‘boom’ do estilo favorece a expansão do projeto Mais Sertanejo Festival. Edy Medrado afirma que planeja realizar etapas do concurso em outras localidades do país: “Vamos para outras cidades, em outras regiões, para realizar eliminatórias regionais – a intenção é que para a edição de 2018, os concorrentes sejam escolhidos cada um em sua localidade, e que os finalistas se apresentem em Goiânia”.

Passaram pela competição, nomes como Fabiana Gomes (que chegou a participar de realitys musicais na televisão), George Henrique & Rodrigo, Eddy & Brunno, e Thâmara Falcão – vencedora em 2016. A edição atual conta com participantes e duplas de Goiás, Espírito Santo, Mato Grosso, Minas Gerais, Pernambuco, São Paulo e Rio de Janeiro, além do Distrito Federal.

SERVIÇO

Workshop  ‘Mais Sertanejo Festival’

Quando: quarta-feira (3)

Onde: Parrilleros Grill Goiânia (Avenida Eurico Viana, nº 322, Bairro Alto da Glória, Goiânia – GO)

Horário: 16h

Entrada gratuita

*Integrante do programa de estágio do jornal O HOJE sob orientação da editora Flávia Popov

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