Corpo de Carlos Heitor Cony é cremado em cerimônia íntima

O jornalista morreu na sexta-feira (5) de falência múltipla de órgãos

Postado em: 09-01-2018 às 13h40
Por: Victor Pimenta
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O jornalista morreu na sexta-feira (5) de falência múltipla de órgãos

Foi cremado hoje (9) o corpo do escritor e jornalista Carlos
Heitor Cony, em cerimônia íntima no Memorial do Carmo, zona portuária do Rio de
Janeiro, conforme desejo do imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL). Ele
estava internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Samaritano,
em Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro, e morreu na sexta-feira (5) de
falência múltipla de órgãos.

O presidente da ABL, Marco Lucchesi, determinou o cumprimento
de luto de três dias, com a bandeira da Academia hasteada a meio mastro,
permanecendo assim até o fim do dia de hoje. Para Lucchesi, a perda de um
grande escritor, com décadas de “atividade criadora muito intensa”, só pode ser
consolada pela obra deixada.

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“Essa ausência nos fere a todos na esfera pública e, claro,
na esfera privada, da família e dos acadêmicos, com os quais nós acadêmicos,
com ele convivemos. Mas a única consolação de um escritor que parte é a obra.
Uma obra poderosa, de grande intensidade, que capturou não só os especialistas
da literatura, mas captou o sentimento popular. Alguns livros, como Quase
Memória, que se incorporaram ao cânone da literatura brasileira do século XX até
hoje. Então a única consolação nesse processo é revisitá-lo, é revisitar o seu
universo em celulose, é voltas às páginas, e aí nos abraçamos e nos
reencontramos”.

Lucchesi lembrou que Cony teve uma vida plena, com muitas
realizações em diversas áreas. “Um homem de múltiplos talentos, um homem de
grandes aventuras, irreverente sempre, como uma espécie de antídoto para não se
deixar muitas vezes levar, não se deixar aprisionar por essa ou aquela
situação. Então, [Cony teve] realmente uma vida plena, vivida com grande
intensidade, com o sentimento poético do mundo e com um gosto muito forte de
viver. É o que nos consola também do ponto de vista humano”.

Mesmo Cony tendo deixado o desejo de não ser velado no Petit
Trianon da ABL nem receber homenagens fúnebres, Lucchesi explica que há uma
liturgia a ser cumprida pela Academia por ocasião da morte de um imortal, que
será cumprida no dia primeiro de março.

“A ABL tem uma liturgia, que começa baixando a bandeira da
ABL, no caso as bandeiras estadual e nacional baixamos também. E temos a sessão
da saudade, que é um fato consagrado na ABL, é uma sessão muito bonita,
fechada, catártica. É sempre muito bonita, muito emocionada, em que cada um dos
acadêmicos dá a sua contribuição, o seu olhar, o seu testemunho, então isso é
parte. No entanto, não houve a exposição do corpo no Petit Trianon e, deixo
muito claro, a relação do Cony com a Academia, com os acadêmicos e com o
presidente, mais do que com o presidente, o amigo Marcos Lucchesi, sempre se
deram em ótimas condições. Então, estamos muito feridos, muito tristes”, disse
Lucchesi.

Cony foi eleito em 23 de março de 2000 como quinto ocupante
da Cadeira nº 3 da ABL, sucedendo Herberto Sales. Ele foi redator da Rádio
Jornal do Brasil e colaborador do Suplemento Dominical do Jornal do Brasil,
onde publicou contos, ensaios e traduções. Também trabalhou no Correio da
Manhã, na revista Manchete e na Teledramaturgia da Rede Manchete. Já na década
de 90 fez crônicas diárias para o jornal Folha de S. Paulo e foi comentarista
diário da CBN.

Ao longo da carreira, Cony recebeu diversos prêmios, entre
eles o Prêmio Manuel Antônio de Almeida, com os romances A Verdade de Cada Dia,
em 1957, e Tijolo de Segurança, em 1958; Prêmio Machado de Assis, da ABL, pelo
conjunto da obra, em 1996; Prêmio Jabuti de 1996, da Câmara Brasileira do
Livro, pelo romance Quase Memória; Prêmio Jabuti de 1997, pelo romance A Casa
do Poeta Trágico; Prêmio Jabuti 2000, com o Romance sem Palavras; Quase Memória
e A Casa do Poeta Trágico também foram considerados Livro do Ano pela Câmara
Brasileira do Livro. 

Fonte: Agência Brasil. (Foto: Reprodução/Academia Brasileira de Letras)

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