Sarah Abdala leva turnê do disco ‘Oeste’ ao México

Cantora Goiânia objetiva romper com preconceito em relação à produção artística latino-americana

Postado em: 02-02-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Cantora Goiânia objetiva romper com preconceito em relação à produção artística latino-americana

GABRIELLA STARNECK *

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A cantora Sarah Abdala leva turnê do disco Oeste, a partir desta sexta-feira (2), para o México. Ultrapassando barreiras de idioma e geográficas, a artista se apresenta no dia (2) no Departamento Studio Bar, localizado na Cidade do México. Já no dia 8 de fevereiro, o evento é no Palindromo Cafe, em Guadalajara. Quem se apresenta ao lado da cantora é o mexicano Luis Villalobos, com o projeto solo PHI – que encanta o público com os sons obscuros de sua guitarra acústica.

Nos shows guiados por synths e guitarra, Sarah será acompanhada por Tai Fonseca no palco, apresentando canções do último trabalho e do disco de estreia. O álbum Oeste, que será apresentado na turnê, veio para sedimentar uma trajetória iniciada com Futuro Imaginário (2014). “O primeiro trabalho era uma compilação de músicas que eu tinha feito ao longo dos anos, até em outras bandas, daí juntei tudo e fiz o novo álbum. Oeste foi um disco que eu tinha um conceito claro do que eu queria”, afirma a cantora.

Com um estilo que mistura MPB e rock alternativo, Sarah explora arranjos bem elaborados para composições colecionadas ao longo dos anos. A crueza, a intensidade e a eletricidade das músicas de Oeste são conduzidas pelos sintetizadores e pela guitarra – instrumentos que são considerados a espinha dorsal de toda a sonoridade do álbum. A atmosfera é intimista e climática, sem medo de explorar o silêncio e o ruído.

Trajetória

Sarah Abdala atua profissionalmente na área musical há dez anos. A cantora e compositora goiana, ‘radicada’ no Rio, iniciou sua carreira como integrante da banda iOye! (2008-2011), com quem participou de festivais como Vaca Amarela e Kizombeat, na Argentina. Posteriormente, a cantora se mudaria para o Rio de Janeiro por causa de outros projetos. Nessa nova fase, Sarah somou parcerias ao lado de nomes como Gabriel Bubu, Ricardo Dias Gomes, Gustavo Benjão, Lucas Vasconcellos e Dado Villa-Lobos, que marcam presença, como convidados especiais, em ‘Futuro Imaginário’. 

Em 2017, Sarah lançou o álbum Oeste, que propõe uma forte ligação com a América Latina. “O conceito desse novo trabalho é esse olhar para o interior – tanto geograficamente como psicologicamente falando. Esse é o significado, de voltar às origens e ter essa visão da América Latina como um todo”, reflete. Sarah já se apresentou no México em 2007, quando morava por lá, no início de sua carreira. “Tenho muitas referências e ligação com o país. Posso dizer que escuto mais música produzida no México do que no Brasil, nesse momento. E Oeste saiu muito dessa ligação que eu tenho com a música latino americana, principalmente mexicana”, declara Sarah.

A cantora ainda ressalta que a maioria dos brasileiros tem uma certa resistência em se identificar como latino americanos. “Quando morei por lá, conhecia bandas de toda a América Latina vendo programas de música na TV por assinatura. Eles sabiam os principais nomes da música brasileira, e por aqui não se vê o mesmo”, relata Sarah. Por esse motivo, com o objetivo de aproximar a cultura brasileira e mexicana, a cantora espera ajudar a quebrar o preconceito em relação à produção artística latino americana com a sua turnê que será apresentada no México. E para falar sobre esse novo projeto na trajetória da artista, o Essência realizou um bate-papo com Sarah Abdala sobre o turnê do álbum Oeste e sua trajetória – incluindo a influência da sua cidade natal, Goiânia, em sua carreira.

*Integrante do programa de estágio do jornal O HOJE sob orientação 

da editora Flávia Popov 

Entrevista : Sarah Abdala 

Sarah, suas músicas trazem alguma influência da sua cidade natal (Goiânia)?

Nem todas as canções têm essa influência, mas as experiências que vivi em Goiânia – principalmente na cena musical da cidade me influenciam na maneira como eu sinto e trabalho na música. Mas isso não está relacionado diretamente nas canções. Especificamente no disco Oeste, as músicas trazem essa relação direta com as cidades onde morei/moro (Rio de Janeiro, México e Goiânia) – já que falam sobre sensações e vivências de uma parte da minha vida nesses lugares. Goiás está presente aí!

Quais são as lembranças e influências que Goiás tem na sua carreira?

Goiás está muito presente, porque foi ali que eu comecei a conhecer e entender mais sobre música. Ao assistir a vários shows de bandas da cidade, eu senti que também poderia fazer parte daquele espaço. Através dos festivais no Estado, conheci muitas bandas do Brasil todo que fizeram parte da minha formação musical. E essas influências me ajudaram a traçar o caminho da minha carreira. 

Quais foram os principais obstáculos que você enfrentou ao longo de sua trajetória?

Enfrentamos obstáculos todo dia, principalmente no quesito de ser uma artista multifuncional. Hoje em dia, você tem que cuidar 100% do desenvolvimento do seu trabalho, não basta só compor e tocar, é necessário saber gerir todas as outras partes não musicais da carreira – até lidar com um público que, muitas vezes, não dá o devido valor a todos os artistas que trabalham na música. E, quando digo valor, está relacionado tanto ao valor financeiro quanto ao valor cultural. Muitas pessoas não querem pagar pra ir ao show, para escutar a tua música e, para muita gente, artista só é artista quando tem uma relevância nacional. Enquanto não houver essa valorização, vamos continuar com muitos obstáculos. Muita gente não enxerga o trabalho que existe por trás de uma música/show/clipe/foto. 

Qual a proposta do álbum ‘Oeste’?

Oeste veio com a proposta de colocar a canção em primeiro plano. E, através dessas canções, contar uma história. Cada pessoa que escutar pode imaginar a história que quiser. 

Como surgiu a oportunidade de apresentar essa turnê no México?

A oportunidade de tocar no México aconteceu! Mandamos o meu material para uma casa de show na Cidade do México, e eles curtiram. A partir disso, desencadeou mais um show em Guadalajara.

Como ‘nasceu’ sua parceria com PHI – projeto solo do mexicano Luis Villalobos?

Vamos dividir uma noite em Guadalajara com o PHI. Um dos músicos que trabalham com ele é um amigo que fiz quando morei no México. Quando disse que ia tocar por lá, propus de fazermos algo juntos e acabamos marcando mais um show.

Qual o principal estilo de suas canções e quais são suas influências?

Escuto muita música latina, como Natalia Lafourcade, Julieta Venegas, Jorge Drexler e Cat Power – que foi minha maior influência na adolescência. Não sei muito bem em qual estilo me enquadro e talvez isso seja um problema (risos). Mas acho que rock alternativo é uma boa definição.

Em ‘Oeste’, é perceptível a presença da guitarra em suas canções. Qual a importância do instrumento em seu trabalho?

Para construção do disco Oeste, a guitarra foi essencial. É o fio condutor de toda a narrativa, porque dali saíram todas as estruturas das canções. 

Você espera ajudar a romper com o preconceito em relação à produção artística latino americana… De que forma a sua turnê pode contribuir para quebrar essa realidade?

Você fala de música latina com os brasileiros, e eles não são muito receptivos. Muitos brasileiros não se sentem latinos e não conhecem muitos artistas hispanohablantes. Os mexicanos, por exemplo, são muito interessados na produção musical do Brasil, mas não vejo esse interesse do lado de cá. Minha turnê é uma pequena contribuição para essas trocas latinas acontecerem com mais frequência. Quem sabe, agora, alguém que lê essa entrevista fique interessado e vá conhecer algum artista do México? Isso já é uma contribuição! 

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